segunda-feira, 27 de dezembro de 2010

A Efêmera Graça Dos Rastros Nostálgicos

Vide, tudo é efêmero, meu amor.
De todas graciosas belezas,
Vivas ou passadas, feridas
Abertas ou cicatrizadas.

De todas lástimas já choradas
E toda fé despedaçada,
Nada remanescerá, nada sobrará
Se não meros rastros nostálgicos.

Pois de todos atrozes obstáculos
Implacavelmente prostados
No fronte de nosso caminhar inane,
O registro da memória é tudo que temos.

Tudo que de fato possuímos,
Tal reles conjunto de imagens,
Uma coleção de rostos identificáveis,
De risos e punhais no coração.

E o peso de uma bagagem de emoção
Nas costas do semblante
De nossa alma pulsante.
Esse fluente inconsciente de sentir,
De dar sentido ao existir.

De todos bens materiais,
De todas bebidas e todos entorpecentes,
De todas lágrimas, de todos sorrisos,
Restarão apenas as cicatrizes decadentes
Daquilo que em cruel brasa marcou.

Daquilo que matou, que morreu.
Do interruptor que se pressionou
Para a luz que se desacendeu,
Que apenas iluminará distante,
Com a graça de uma estrela
Morta, o rastro na eternidade do céu.

Marcas... Cicatrizes... Tais rastros nostálgicos...
Memórias em desatino, a perder o sentido,
A perecer constantemente junto de nossa carne...

A perecer... A perecer...
Tantas metáforas somente
Para expressar, de fato dizer:
Colecionarei boas lembranças
Como obras de arte,
Como romances na biblioteca
Que adentra minha cabeça.

Pois para tecer sorrisos,
Afirmar identidade, basta ler
Tais bons livros e escrever novas obras...
Atuar, somente. Apenas
Viver, simplesmente.

segunda-feira, 20 de dezembro de 2010

Sorte de Ser Poesia

Quero a sorte de ser poeta morto
Antes do abrir-de-cortinas do céu
E do início do transitar
Frenético dos homens-máquina.

Quero a sorte de ser boêmio,
Poeta ébrio na liberdade da noite.
Livre das grades abstratas
Que tanto sufocam o bicho-homem.

Quero a sorte de ser apaixonado
Enlouquecido, de cantar serenatas
Aos pés das janelas
Das moças mais belas
Aonde romance virou coisa de poeta.

Quero a sorte de ser vagabundo,
De ser louco. De ser o resto do pouco
Que restou dos hereges,
Dos que negaram a se converter.

E quero a sorte de ser poesia,
De ser sentimento desvairado,
Despreocupado, apenas instinto.
Apenas sentido pra existir.

Nós somos o que sentimos,
Então deveríamos aceitar o ser.
Questionar as ordens e desobedecer.
Escutar a voz ignota das emoções.
Pois quem já não sente
De fato já não é.

quinta-feira, 9 de dezembro de 2010

Uma Lamúria do Tempo Perdido

E quantos livros não li
Quantas poesias não escrevi
Quantas serenatas não cantei
A quantas amadas que não deletei.

E quantas lágrimas não derramei.
Do tempo que, pouco a pouco
Esvaiu-se fluindo, constante rio,
Em meu inerente cio de criação.

De quantas noites olhando a miragem,
Letárgico ócio em sublimação.
De quantas noites sem paisagem,
No teto de meu quarto-solidão.

Alienado, inválido, assisti
Como platéia, nos camarotes embebidos
De melancolia e solidão, a peça bucólica,
A melodia inconstante de existir.

Anestesiado, estático, na desesperança
D'um fantasma. Intangível, invisível,
Apenas a vagar-parado, em sua maldição estática
De por nada passar, nada integrar e
Por nada ser concebido.

Mudo de alma auto-selada por insegura,
Repreendida por traumatizada.
Apenas peça estática, sublimada
Por medos passados pelos mesmos relógios.

Ah, tudo que poderia ter sido!
Tudo que poderia ter nascido das centelhas
Absortas que nunca viram a luz da superfície,
Nem nunca tiveram a chance
De violar um papel virgem.

Ah, o quanto poderia ter amado!
O quanto poderia ter me contagiado
Da doença que é amar como assassino e vítima.
No confuso jogo preferido
Desta tão pobre e rica humanidade falida.

O que poderia ter feito...
O que poderia ter criado...
E todos esses verbos configurados para o passado...
Porém tudo se esvai, e tudo se tornou cinzas.

Nada remanesceu a não ser este pobre lamento.
Esta pobre lamúria daquele que não viveu,
Apenas assistiu. Apenas fitou a obra de arte da qual
Tal desconsolado inane poderia ter feito parte.

Nada restou a não ser as memórias que nunca existiram.
Os sonhos das oportunidades declinadas, definhadas...
Das pobres epifanias abortadas. Apenas restaram
Sementes envelhecidas que nunca foram regadas.

sexta-feira, 26 de novembro de 2010

Tua Pena, Teu Tinteiro De Sangue

Mate-me! Mate-me, por favor!
Mate este coração dilacerado
Tão cansado, tão cansado
De sangrar deste amor.

Mate-me, por favor!
Ou então me venha em sua intenção
Venha sangrar de mim, de ti
Venha sangrar em mim tamanha dor!

Venha e me diga
Que ilusões um dia forjou.
Escreva com sua pena
Achada nas ruas vazias,
Umedecida num tinteiro de sangue,
Em meu peito as lesões débeis
Que nunca concebi e nunca esqueci.

Apenas gostaria de lhe dizer
Em cartas-poemas-perdidas
Todas as corrosões profundas
Que sua graça me causa e me causou.

Em tal desejo patético
Sem fundação, de qualquer ilusão
Piegas, talvez nasça apenas
Uma atração por tua pena.

Uma atração por tua pena,
Ferramenta de sofrimento,
Tinta lívida em escarlate.
Tua pena...
Pois existem coisas
Que devem ser escritas
Com sangue.

quinta-feira, 4 de novembro de 2010

(Des)Esperança

Espero por tudo que vivo.
Espero este Sol torto se por
E dar origem a mais uma noite vazia.
Espero mais uma dose de qualquer
Bebida forte que me abafe os sentidos.

Espero a dor que golpeia
Meu peito incessante vestir
Seu figurino e atuar
Como personagem ululante a cantar
Músicas-memórias num desatino.

Espero mais uma oportunidade
De se autodestruir, somente
Para expressar e externar
As ruínas de meu interno emocional flamejante.

Espero na janela e assisto a vida
Passar pelas minhas retinas.
Espero no passado-presente de um futuro sórdido,
Perdido na neblina de um acaso de dor e prazer.

Espero no sangue amargo,
No sangue derramado
De um reles apaixonado morto.
Espero você passar por mim
E espero você passar em mim.

Espero com a graça e decadência
De um ultra-romântico dilacerado.
Espero algo que não sei dizer
Apenas espero você passar.

segunda-feira, 1 de novembro de 2010

Às Máscaras Árticas

Que todos são carentes,
Uns mais que outros
Em suas lágrimas incendiárias,
Outros menos que uns
Em suas máscaras árticas.

Ainda indago: para que
Fazer de tanta carência,
De tanto desapego,
Se podemos todos nós
Integrar este nosso todo?

Se nós, criaturas táteis
Ao invés de fazer de tantas táticas
Não nos concebemos utilitários
Comumente gratos
Por desfazer nossas personagens.

Ah! Tantas frígidas máscaras
Amedrontadas, guardiãs de tantas cicatrizes.
Escondendo tantas faces traumatizadas
Com tanto receio de novas diretrizes.

Pobres destas faces recônditas,
Acabrunhantes a vagar
Na ausência do dilacerar,
No entediar dos prazeres
A morrer estaticamente.

Pobres meras faces
Que de tanto sangraram.
Negam-se a escorrer,
Pois detrás de tais máscaras
Resta apenas a carne fria.

sexta-feira, 15 de outubro de 2010

Irrelevância

Concebo o mundo pelo meu pensamento. Fito-o, o interpreto com a irrelevância de poeiras cósmicas. Afinal, como poderia eu ser arrogante se sou tão irrelevante como todos nós, sacos de carne errantes em busca de algum sentido para existir?

De tudo que sei, sou insignificante. E é com minha irrelevância que encaro a realidade, pois esta é minha maior dádiva libertadora.

Minha condição me faz ser o que quiser ao meu bel prazer. Pois de nada faço parte. Nada integro neste mundo em chamas. Nem nada devo aos efêmeros itinerantes que vagam inanes por cá e por lá.

Não sou um homem de palavras, pois estas nada valem. Como poderia eu afirmar alguma certeza, sendo que sou apenas uma peça desintegrada suscetível às paixões do mundo?

Como poderia eu, peça desqualificada de um todo que nunca existiu, afirmar alguma certeza neste conjunto de cenas incessantes e inconstantes?

Não existem certezas. Existem intenções. Estas mesmas serão apenas vitimadas por outras remanescentes.

quarta-feira, 13 de outubro de 2010

Lábios Clandestinos

Esses teus lábios...
Os observei, os contemplei
Durante esse conjunto de cenas
Desta realidade que não é minha.

Esses teus lábios...
Os contemplei, porém nunca os vivi.
Nunca os senti nos meus,
Nunca os senti em mim.

Não.
Não se trata de romance.
Trata-se destes lábios, desta boca tua,
Deleite exótico do qual nunca provei.

Desejo submerso
Nas profundezas da clandestinidade.
Não desejo os possuir,
Não desejo os amar.

Desejo apenas prova-los,
Apenas por um momento atemporal.
Somente para forjar a obra de arte
Efêmera que é um beijo.

Essencialismo Débil

Morrer sem ter consciência
De seu significado
Nas lentes opacas
Da existência.

Existir sem conhecer
A origem de sua razão.
Sem metas, sem visão,
Perdido sozinho na escuridão.

Agir sem pensar
Deixar os naturais instintos
Da exasperada humanidade
Guiar vossos impulsos.

Sentir sem vontade.
Simplesmente sentir obstinadamente
A emoção que flui,
Que assassina, que morre.

Existir sem conhecer
Sentir sem querer
Agir sem pensar
Morrer sem saber.

Essa é a essência tão débil
E humana que narra
Os trajetos conflitantes
Da realidade por nós forjada.

segunda-feira, 4 de outubro de 2010

Um Par de Olhos e Uma Caixa de Presente

- E então, meu amor, que presente você escolheu?

Era mais uma daquelas datas comemorativas, clássicas de calendários a se riscar. De qual data especificamente, não me lembro bem. Afinal de contas, todas são tão hipócritas e frígidas que não fazem a menor diferença. São apenas fios-de-barbante de marionetes conviventes, incessantes a dançar a dança do titeriteiro.
Sim, uma data comemorativa qualquer:

- E então, meu amor, que presente você escolheu?

O débil cônjuge perguntou para sua amada com um olhar complacente. Sua intenção era tão débil quanto sua índole. Porém, uma intenção débil é uma intenção mais pura que as outras. Talvez exista algum valor na inocência. Ou talvez inocência seja apenas mais um sintoma de um débil.

- E então, meu amor, que presente você escolheu?

Sua amada olhou, com um olhar meio tristonho, meio sem jeito. Um daqueles olhares que vem seguido de um imenso discurso, um argumento filosófico... Praticamente uma tese.
Ela olhou de sua forma insólita à reação esperada. O cônjuge insistiu:

- Vai querer aquela bolsa que você vivia namorando naquela sua loja preferida?

Tentou demonstrar seu interesse, sua notabilidade aos detalhes de seu quotidiano. Na verdade, tal cônjuge realmente só se lembrava da bolsa, da loja, dos detalhes, por reparar no decote saliente da simpática atendente de sorriso de plástico (sim, fazia parte do currículo necessário ter uma aparência atraente e um sorriso de plástico).

Sua amada o fitou, da mesma forma complacente, com este olhar tristonho incompreensível que começava a gerar alguma preocupação. Os olhos percorreram teu rosto até encontrar outros olhos e soltar sua língua. Disse:

- Não meu amor. Sabe, tenho pensando no sentido dessa coisa toda, dessas datas todas, de todas essas obrigações ... O que realmente faz sentido nisso tudo? O que significa aquela bolsa na vitrine, aqueles detalhes dourados, aquele couro marrom?

O cônjuge olhou, chocado com a resposta, em um estado estático e sem conseguir expressar ou sequer questionar a situação. Ele manteve seus argumentos, como se nada tivesse acontecido. Balbuciou palavras com um ar sedento de piedade, embora inconscientemente:

- Mas eu achei que você tinha gostado daquela bolsa... Tenho me esforçado para economizar o suficiente para te dar aquela bolsa. Eu achei que você gostaria da surpresa.

Ela respondeu, nem um pouco atingida pelo apelo emocional inconsciente e instintivo de seu cônjuge:

- Não meu amor. Não é isso. O que quero dizer é: o que significa tudo isso? O que significa mais uma bolsa cara em meu armário? Sabe... Eu queria algo mais simples... Algo mais humano.

A reação perdida dele, de forma incompreensiva, com o olhar a sucumbir num abismo de enigmas, os quais ele jamais realmente compreenderia. Tentou dialogar com alguma astúcia, com algum truque na manga num ato tépido de doçura e desespero:

- Mas então que presente você quer, meu amor?

Sua amada concebeu sua incompreensão. Concebeu o vazio que se alojava dentro de seu cônjuge. Ou o vazio que se alojava dentro de si. Como esse famoso vazio do qual tanto falam esses seres insatisfeitos com a realidade na qual habitam. Esse vazio... Esse vazio provocou uma resposta inusitada.

- Que presente eu quero? Eu quero... Eu quero seus olhos.

Sim, a este ponto tal cônjuge já refletia as luzes brancas daquele estabelecimento comercial em suas faces. O abismo de enigmas o consumiu, o atingiu de forma vil e um tanto dolorida. A reação foi um gaguejar estático de eco:

- M-m-m... Meus... Meus olhos?! Quer meus olhos de presente?!

Ela pariu um sorriso alegórico e tranqüilo. Olhou com olhar astucioso e respondeu com uma pequena ponta, quase imperceptível, de irritação:

- Sim, quero seus olhos. Quero seus olhos em minhas mãos, para que eu possa ver através deles. Quero seus olhos em mim, para que eu possa os encontrar quando os meus se perderem nas margens vazias... Quero seus olhos nos meus quando não houver solução, quando não houver problemas. Quero teus olhos numa caixa de presente, como uma prova de amor, de sacrilégio de emoção...

Seu diálogo alarmante chocou nos tímpanos de seu cônjuge como pequenos impactos dialéticos a golpear sua mente, causando esse estado de estaticidade, de impotência. Ela continuou:

- Quero seus olhos pra ter acesso a todos registros em suas retinas. Quero sua visão de mim, saciar o desejo de compreender como me conhece, como me vê. Quero seus olhos comigo, como guardiões confiáveis, como uma certeza nesse mundo tão incerto e inconstante. Quero a certeza de teus olhos sempre à mão. Quero teu olhar guardado na minha bolsa, só pra poder o observar, o ver cativar o meu... Quero tanto teus olhos que não sei dizer. Eu só quero eles comigo, nessa forma tão bonita de olhar.

Ele engasgou com sua língua, quase se sufocou nela. Não, ele não tinha nenhuma resposta pronta, nenhuma frase bonita. Não sabia ser cônjuge romântico e apaixonado, nem sabia dizer frases bonitas além das que encontrava em cartões prontos com frases célebres e seculares. Sua resposta foi a mais óbvia possível:

- Mas... Mas, meu amor, eu não posso te dar meus olhos. Eu preciso deles pra viver. Eu preciso deles pra trabalhar, pra te agradar, te confortar...
O rosto de sua amada se torceu, como se o estivessem esticado e torcido como um pano úmido. Sua expressão demonstrava uma cólera intensa, uma irritação tão profunda. O resultado foi um grito seguido de prantos inflamados:

- Eu só queria seus olhos! Seus olhos nos meus, seus olhos pra mim! Queria que seus olhos me enxergassem. Mas eles não me enxergam, não como pessoa! Eles não me olham como humana. Me olham como produto, como algo que você tem que suprir como uma máquina! Esses seus olhos... Não! Não os quero! Seus olhos me qualificam, colocam preços em minha satisfação! Seus olhos só vêem um consumo fútil! Não! Não quero seus olhos! Eles me enojam! Eles são ridículos!!!

O rugir de sua cólera através de sua boca, a expressão rubra em seu rosto, o gesticular agressivo de seus braços, todos os gestos... Todos eles, para o cônjuge não faziam o menor sentido. Ele não compreendia sua irritação, não compreendia os gritos que atingiam sua face. Não, ele não compreendia o que significava desejar olhos...

Sua amada arremessou a bolsa de mão em seu peito. Seu rosto escorria a uma dor profunda. Ela saiu de cena num andar furioso e cambaleante, deixando seu cônjuge estático, como uma estátua inane a olhar a paisagem sem vê-la.
Ele ficou, tão estátua como uma rocha. Observou-a deixar o recinto e se manteve estático, sem reação, sem compreensão, sem ela... Sem nada.

terça-feira, 28 de setembro de 2010

A Ultima Morada

Resvalando agonia pelos poros,
Me derramo ao chão
Como recipiente utilizado e descartado,
Como recipiente quebrado
Na língua dos mortos.

Desconstruindo meus pensamentos
No solo deste cômodo
Vazio, opaco e sem vida
Meu corpo grita em utopia
Amordaçado, diante da memória
[Daqueles momentos.

Em grito interno despedaçado,
Meu corpo, absorto em pensamentos
Ainda incompletos, adoece, padece
Diante da obstinação de perseguir
O sangue de gosto amargo.

Indivíduos consternados escandalizam
A porta de meu cômodo fúnebre.
Este parecia estreitar-se, retrair-se
Transmutar-se em minha ultima morada.
Como se desejasse possuir
[os olhares que se esgueiram.

O som das vozes desesperadas
Já não atinge meus tímpanos.
O cômodo se retrai, inexoravelmente
Se contrai, se esvai incessante.
Minha racionalidade se decompõe
[pelo vazio obstinada.

Jaz em mim o horror.
A agonia e a dor consomem
O restante desta razão vazia.
Jaz a dor, o terror romantizado.
Jaz o epitáfio daquele
[que morreu de amor.

domingo, 26 de setembro de 2010

Nostalgia (Cemitério de Emoções)

Naquele momento eu senti dor. Sim, dor. E, ao mesmo tempo, eu nunca desejei tanto uma lâmina para me cortar. Eu desejei a dor. Eu a desejei, porém, de uma forma diferente. Eu desejei meu sangue escorrendo, pingando aos poucos, como lágrimas no chão. Desejei fazer meu corpo chorar, pois minhas lágrimas haviam secado.
Sim, eu senti dor. Mas não uma dor comum de quando machucamos nossos corpos sem querer. Eu senti uma dor para a qual não existem analgésicos para curar (pelo menos não especificamente). Um sofrimento sem atalhos, profundo e inadiável. Uma tortura irrelutante que simplesmente ocorre quando se sente falta de alguém.
Saudade. Sim, este é o nome. Saudade. E então um turbilhão de sons e imagens insurgiu em minha memória. E me vieram doces recordações de momentos sublimes, do ápice de minha existência desde então. Me vieram sorrisos, risos, abraços, beijos, conversas, gestos... Tudo de mais gracioso que ocorreu nos últimos tempos. E também me vieram lágrimas, brigas, discussões, ofensas e fatos dolorosos que antes tanto significavam, tanto doíam, e que hoje, lembro aos risos e lágrimas, se estas ainda me pertencessem.
Estas memórias me abraçaram de forma carinhosa, acolhedora e gentil. Um sorriso retorcido e incompleto se esboçou em minha face, pois este abraço, tão sublime, além de me acariciar me estrangulou. Junto da saudade nasce a dor. Pois saudade é gostar de algo que se foi, que não está mais presente. É tentar abraçar o intangível. É a decepção óbvia de falhar ao perseguir o impossível.
É tão triste ver como tudo perde o sentido diante de seu contexto. Como tudo se esvai aos poucos nos labirintos da memória. Que o concreto se torna abstrato, e o passado existe apenas como lembrança. Que as guinadas da trajetória da existência nos fazem tanto perder, tanto deixar para trás.
Guardamos nossas memórias em tesouros recônditos, de apreciação sôfrega e deleitosa. E estes tesouros evanescem como cadáveres a se decompor. Somos apenas um cemitério de memórias, de emoções obsoletas. Até sua remoção, como ossadas de indigentes no nosso cemitério de sentimento.
Jaz a imagem, o epitáfio de lembranças. O sentimento se abafa, se sufoca, morre aos poucos agonizante em sua asfixia.
È triste mas tudo morre, se decompõe e desaparece inexoravelmente.

segunda-feira, 20 de setembro de 2010

Luto (Amor Perdido)

As tardes vazias sem tua presença
Sem o doce olhar teu sob o meu.
As lembranças de tuas carícias
Pungem cruelmente meu ser.

Cartas engavetadas, retratos desatuais
Provas concretas da beleza
De nossa doce e harmoniosa união,
Hoje me confortam. Me escorrem lágrimas
[bipolares

Eu, romântico patético
Padeço diante da carência de ti.
Meu corpo sente falta do teu
Meu tato clama, desesperadamente pelo
[teu toque.

Meus olhos chamam por teu sorriso.
Meus ouvidos imploram
Pelo doce e carinhoso som
Da melodia de tua voz.

O peso de tua ausência,
Tão atroz carrasco de minha realidade,
Tinge minha existência
De irrelevância, de languidez.

Jaz o silêncio a deflagrar.
Jazem os ecos deste cômodo vazio,
Carregado de intensa emoção.
Jaz uma lacuna não preenchida.

Acabrunhante e agoniado, velo dilacerado
Num funeral de sentimento.
Na desgraça patética da lamúria
De um apaixonado enlutado.

E sigo perdido,
Num caminhar ferido,
Rumo ao horizonte
Por esta estrada lacrimosa.

E sigo, exaurido,
No gotejar de ilusões perdidas,
De passo inconstante
Por esta estrada desventurosa.

Minhas lágrimas marcam o caminho.
Minhas cicatrizes são minhas armas.
Minha escolha é o sofrimento.
Minha escolha é a única que restou.

sábado, 11 de setembro de 2010

Sou poeta

Eu sou um poeta que reaprendeu
A arte de amar, de esculpir a emoção.
Aprendi a viver, a enfrentar
Ilusões da doce e atroz existência.

Sou poeta e também aprendi a morrer.
Aprendi a me afogar dentre oceanos de lágrimas
E decadência soturna
E também aprendi a apreciar o brilho do arco-íris
Ao ver o dia nascer.

Aprendi solitário a transformar vísceras
E risos, gritos e suspiros
Em palavras e estrofes
Que enfeitam os olhares
Que distribuem carinhos
De amor e solidariedade

Solitário e patético,
Melancólico e alegre,
Aprendi a deixar as folhas cair
E as flores florescer
Que o amor,a dor, a angústia e o prazer
Fazendo parte da arte de existir.
Aprendi que é poeta quem quer ser!

quarta-feira, 1 de setembro de 2010

Amanhecer

Deitar-me, sem sono, sem sonho
E morrer por alguns momentos anestesiados
Para despertar num suspiro, numa fadiga
Para a nova faceta do pesadelo da realidade.

Fitar o céu cinza da manhã
A dor do acordar consome
O cigarro da manhã adormece meu paladar.
Caminho infame, esperando a torura de um novo Sol.

Morte Romântica

Eu gostaria de morrer
Neste exato momento
Para que o amor que sinto por você
Não fosse atingido pelas dores
[Do destino

Gostaria de morrer contigo
E levar-te junto a mim
A minha infame-soturna tumba
E descansar pela eternidade
[Junto de ti

Pois um amor vivido
É um amor que tende a torturar
Que tende a se acabar.

E um amor assassinado, suicida
Conclui-se em plenitude
Na glória de um momento.

sábado, 28 de agosto de 2010

A Epifania de um Derrotado

Vocês podem me dilacerar
Com suas palavras afiadas
E pisar em minha carne definhada
O quanto desejarem.

Os mortos não sentem
Não olham, não vêem.
Pois não há relevância
Em assistir um mundo em chamas
[Novamente.

Pois o fundo do poço
É inalcançável para as pedras
Incessantes e elaboradas
Que lançam sob mim.

Fui derrotado, humilhado atrozmente
E deixei se apagar em mim
Qualquer chama que enaltecesse
E pungisse meu ser.

O prazer e a dor estavam juntos num velório
E eu velei sob eles piamente.
Fitei seus cadáveres embalçamados
E esbocei um sorriso sincero em minha face.

Eu morri junto deles
E meu corpo desalmado permaneceu.
Portanto, pouco me importa a opinião alheia.
As pedras já não me atingem.

Não exista o que atingir.
Apenas vago, fantasmal,
Solitário, morto-vivo
Até que a sorte da morte me atinja.

quinta-feira, 26 de agosto de 2010

Tragédia Existencial

De início tudo era simples
Tudo era prático e palpável.
O mistério era lícito e
Inerente a mente inocente.

A pureza da possibilidade.
Pois puro e decente
São todos aqueles
Que não realizam os atos
Que não querem que realizem.

O rótulo é um poder
De manipulação profunda e voraz
Que soterra as vontades
Pelo medo do julgamento e da interpretação.

A realidade já se amplificou
E a complexidade bifurca a estrada
Em diversas possibilidades
Infames e traiçoeiras.

Os mistérios se desnudam
Em conceitos teóricos e empíricos
E explicações físicas e emocionais.
Tudo se justifica.

E múltiplas justificativas
Borbulham implacáveis.
Os temos medo e coragem
Vendamos e ampliamos com lentes
[os olhares

E tudo se torna plano
De forma abstrata e inane.
E nos buscamos sentido
Para tudo ao nosso redor.

Mentes desvirtuadas
A mercê do destino
Em busca da inocência e da ignorância
Que perdemos no fim do início.

Memórias mortas nos esfaqueiam.
Possibilidades nos amedrontam.
Pensamentos nos pungem.
A emoção escorre pelos poros.

Questionamos nossos desejos
E nos colocamos em um tribunal peculiar
No qual integramos a função
De promotor, defensor, juiz e réu.

E, por fim
Aquilo que mais desejamos
É aquilo que nos é abstrato, intangível, inatingível...

Pois a realidade se desfaz
E tudo se torna cinzas.

A vida e a existência
São ambas tragédias

terça-feira, 10 de agosto de 2010

Trajetória Emocional (gênese e óbito de um romance)

No dia em que nasci,
Numa doce tarde de Novembro.
Eu, fruto de seu jovial olhar
Tive minha primeira concepção de vida.

Nasci livre em um sufocamento
De uma circunstância proibida.
Como se dar sentido a existência
Fosse um pecado capital.

Vivi clandestinamente junto de ti
Em promessas e sonhos
E tentativas lógicas
De evitar o inevitável.

E fui arrancado de minha vida,
Arremessado em uma prisão dogmática.
Os dias se tornaram meses...
Os meses se tornaram anos...

No romper da escuridão
Em epifania, um anjo dá
Gênese a esperança e
Ressuscita-me em glória.

Volto aos teus braços
E construo nosso sonho.
Transformo o abstrato
No tangível.

Junto minha vida a tua.
Nós, vítimas de nós mesmos
A desfrutar em harmonia
De nosso insólito desejo.

Nasce o fruto de nosso romance.
Morre o anjo de nossa esperança.
A existência se transmuta.
A confiança se dilacera.

Um olhar detrás das cortinas
Revela a obscuridade grotesca.
Sou exposto como palhaço nu
À platéia da humanidade.

E assisto o fruto já-não-meu
De um romance apunhalado
Crescer e se tornar
Um fantasma do passado.

Dilacero-me, esfacelo-me
E apenas me resta o desejo
De te ver e lhe fazer
Se afogar neste mar adúltero de desilusão.

Conceito Peculiar

Das facetas caóticas da realidade
A mais poética e ousada
É a constante insanidade
Do borbulhar de emoções.

De criação súbita e espontânea,
Força sedutora e persuasiva.
De gênero cruel e voraz
E doce sensação.

As emoções são drogas exóticas
Que tomamos sem querer,
Sem pensar e sem agir.
É a realidade do instinto da humanidade.

Doces sonhos e cruéis pesadelos
Tangíveis, em forma sólida.
Como uma carícia apaixonada,
Como um punhal encravado no peito...

Realidade transmutável
Que cativa nossos olhares.
Alegria à flor da pele
Em preço digno e justo.

A visão se compõe
Das lentes dramáticas
Nos trocar-de-óculos
De uma atordoante guinada.

Então me banho em interessante
[prazer
E deixo escorrer das cicatrizes
Doloridas, a morte tangível
A fluir sob minha carne.

Pois sou apenas um drogado,
Um viciado exagerado,
Compulsivo e inconstante.
Um drama em tragédia existencial.

Sou uma overdose emocional.
Deixo a substancia pulsar
Em minhas veias
Até mudar minha realidade.

Um louco como qualquer outro
Em mais uma realidade idiossincrática.
Apenas regulo e amplifico
Minha loucura em caixas de som.

Romanticida

A doce e cruel mania lírica
De idealizar constantemente
O desejo de forma onírica
Na frágil psique de um romântico.

Apenas ilusões carinhosas
De um doce devaneio.
Frutos rubros e amistosos
De um poeta absoleto.

E como em qualquer ilusão,
Sempre haverá o choque
Contra a parede insólita da realidade.
A gênese do dilacerar da emoção.

A sôfrega alma do romântico poeta
Implora pelo fim de sua dor:
Por favor, apenas desejo um romanticida
Para acabar com meu amor.

terça-feira, 22 de junho de 2010

Idiotização Romantica

Calo-me, me abstraio no azeviche de minha mente.
Alieno-me com conteúdos falsos,
Correndo de meus pensamentos sensatos
Que se esbarram na insolitez de meu sentimento.

Esfaqueio-me, dilacero-me
Forjando memórias que eu não possuo.
Corto os pulsos de minha alma
E engulo frascos e frascos
De anestesia alienante.

Esqueço, ou pelomenos
Tento fingir o esquecimento.
E escrevo em sangue
Vômitos emocionais.

Meu sacrifício emocional
É logicamente insensato.
Assim como é irracionalmente sensato
Diante da insensatez de uma emoção.

Dilacero-me no tempo
De ponteiros de relógios antigos.
Quebrados, perdidos
Por motivos claros e dignos.

Quebro os espelhos do reflexo
De minha mente.
Este hábil carrasco
De meu coração.

Quebro-me a pedradas
Em contusões profundas
Pois este mundo
Não foi feito para loucos apaixonados
Como eu.

segunda-feira, 21 de junho de 2010

Pulsar

O sangue escorre
Ardente, escarlate,
Sôfrego e dilacerado.
Como um desespero aquoso
Flui, lenta e agoniadamente.

As manchas marcam o tapete.
Esferas de vitalidade exposta
Pronunciam-se discretamente
Como o grito de dor
De um amordaçado.

Os olhos em pânico
Distraem-se, perdem-se.
A consciência se esvai.

As pupilas dilatadas dão lugar
A branquidão de um desmaiar.
As pálpebras se fecham, lúgubres,
Na expressão chorosa da vítima.

Um suspiro pós-grito se ressalta,
Um gemido abafado escapa da boca
Sem chegar ao ambiente.

O corpo se contrai em susto,
Em dor impensável.
Logo, este se relaxa
Repousa em seu leito de morte.

A carne esfria.
A pele empalidece.
Os reflexos cessam.
O sangue para de escorrer.

O pulso já não pulsa.

Preferências

Das mortes as mais belas.
Das carícias as mais puras.
Do sangue os mais escuros.
Das noites as mais soturnas.

Pois um ser puro
Jamais seria relativamente
Interessante, ou nitidamente
Relevante e intrigante.

Pois uma noite clara
Possui muito pouco mistério,
Pouco terror e pouca agonia.

E uma carícia falsa
Não reflete sentido.
Apenas ilude a vítima,
Gera-se um ato inválido e onírico.

E o esvair da vida
Diante do corpo,
Da mente e do coração
Deve ser digno.
Da metragem corrida,
Da intensidade em vida
Sofrida pela alma
Em ponteiros de relógio em vão.

sábado, 19 de junho de 2010

Noite Vazia

Nesta noite de insônia, o céu não demonstra significado algum. Não, nenhuma filosofia vã, nenhum pensando onírico, nenhuma nostalgia, nenhuma música, nada.
Escuta-se apenas o cantar obstinado de um galo distante nessas ruas vazias. Como se houvesse significado para este som irritante.

Talvez, nesta noite-quase-manhã de insônia, ele não tenha sentido tudo que poderia sentir. Talvez, se ele estivesse na ausência de seu cigarro, companheiro de toda solidão e de todo prazer, ou de seus analgésicos, essenciais deuses do conforto para sua atual situação, esta noite tivesse mais sentido e mais emoção.
Talvez este seja seu maior medo: noites sem emoção, sem objetivo, sem causalidade ou razão. Medo de tornar-se um ser-máquina comum como tantos existentes nesta tragicidade humana.

Um rosto seco e inexpressivo, uma mente sem foco e exaurida, impossibilitada de sonhar. O olhar vazio fita a parede branca, reflete-se em si um nada que consome.
Não existia nada para pensar, ou talvez não existisse capacidade para pensar. Apenas acendeu mais um cigarro, tragou-o pesadamente e observou o vazio dentro de sua mentalidade.

Nota-se um sinal de vida em si, um sinal de que não se tornara uma máquina padronizada. Nota-se uma irritação profunda por este ócio. Esta fadiga começou a o dilacerar. Este estafa inexplicável deu gênese a uma profunda inquietação irremediável. Não havia o que fazer. Ele sabia que não poderia dormir, que não poderia se refugiar em fantasias oníricas mais uma vez para dar algum sentido a uma noite vazia. Sabia que, em um ato desesperado, ligaria a TV e encontraria apenas futilidades irrelevantes que apenas o irritariam diante de sua inconformidade. Já havia se enjoado dos livros que possuía, de tanto lê-los e relê-los. Porém nunca havia tempo para comprar novos. E procurou possibilidades, perseguiu errantemente qualquer esperança, por mais vã que fosse, de se livrar daquele vácuo existencial.

Surtou em eloqüente frustração, sem nenhuma solução aparente ou nenhuma anestesia possível. Jogou-se ao chão em poeira inóspita e fitou o recipiente da lâmpada da sala em que se encontrava. Notou a quantidade de insetos mortos se acumulando naquele pequeno cemitério de criaturas insignificantes. Pensou consigo mesmo em diálogo irônico: - Como são felizes alienados estes pútridos insetos. Vivem por tão poucas horas que nem sequer precisam de significado para existir. Apenas cumprem seu instinto simples e padecem anestesiados em uma morte súbita e fria, pois não existe tragédia se não existe significado. Não existe mágoa se não existe o que lamentar ou o que perder, nem existe preocupação ou relutância.

Trágica é a humanidade, tão racional e tão perdida que procura obstinadamente por algum sentido para justificar sua existência.
Tão sôfregos, que quando se encontram na ausência de significado, desesperam-se e surtam incessantes até que algo os anestesie com alguma lógica ou emoção.

Ele concluiu seu devaneio, riu-se, e encontrou seu refúgio em seu carpete imundo no desmaiar de sua mente exaurida.

domingo, 6 de junho de 2010

Devaneio-Enleio (Eólica Noturna)

Noite fria que me ilumina
Resvalando ventos límpidos.
Inodoras bênçãos
Que esfriam minha carne.

Doçura oportuna
Tão simples e inválida.
Tamanha graciosa ternura.
Minha inspiração sem precedentes.

Meu diálogo profundo e incompreensível
Com os ventos que banham,
Que atingem inconstantes
Esta bela morada.

Procuro apenas ser
Puro como o vento:
Sincero e espontâneo
Prazer oportuno
Ou desconforto súbito.

Observo o azeviche
Profundo deste belo céu
Sem estrelas, sem nuvens
Como em constante meditação.

E vejo em reflexo
Pedaços simples de vida
Fluindo na escuridão.
Vejo lágrimas e dentes
Em céu composto de emoção.

Vejo miséria e alegria
Dançando em plenitude.
Vejo dor e prazer
Igualando-se no nada.

Vejo tudo em meio
A plenitude do nada.
Pois somente este
Vazio por si só
Poderia ser completo em existência.

Vejo em enleio
Que somos apenas
Uma síntese de sentimentos
Que jamais será plena.

segunda-feira, 31 de maio de 2010

De Todos Sentimentos... A Dor

Existência em tufão emocional.
Que seja digna a visão
E o valor de cada inconsciente,
Insensata e dilacerada emoção.

De toda alegria, de todo sorriso
De todo suspiro ansioso.
De toda fúria não contida
E toda agonia sussurrante.

De todo ridículo olhar apaixonado
E toda miséria da solidão.
De todo sangue derramado
De toda vida, toda emoção.

De toda emoção
Prefiro a dor.
Pois esta é sincera
É profunda e constante.

É lívida e opta
Entre o racional e o irracional.
É transitória e permanente
É trágica e prazerosa.

É a mais relevante emoção
Pois esta é a única
Que comprova em sua profundidade
A existência do viver e do morrer.

A dor é a única medida
Relacionada ao sentimento.
É a essência humana
Que modifica o viver em seu extremo.

A emoção mais poderosa
O amargo de existir
A antítese do desejo obstinado
Que a humanidade tanto procura.

É o valor da alegria.
Pois sem dor agonizante
Não existe margem ou sentido
Para que exista felicidade.

Soneto da Vergonha Passada

E provoca-se em nostalgia
Através de momentos
Que desejara exasperadamente
Fazer evanescer de sua infame memória.

De retratos de faces imbecilizadas
Dando gênese à insegurança
E ao contestar de falas e atos.
O arrepender em desesperança.

Dá-se razão ao questionar
Do irracional impulso
Em expressar no atuar.

E responsabiliza-se no equívoco
Do lamentar e remoer
Do agir através do instinto

sábado, 22 de maio de 2010

Causa em Meta-Linguística

O desejo de influenciar
Manipuladora ou filantropicamente
Em seu relativo etimológico
É inerente a minha existência.

Para pintar uma nova realidade
E transmitir idealismos
Para conscientizar, para despertar
Essas criaturas deste comum abismo.

Para esculpir em folha virgem
A escultura abstrata
O retrato peculiar
Da realidade idiossincrática.

Por pensar
Por prazer
Por amar
Por morrer.

Para sentir as agonias do mundo
Aflorarem em minha pele.
E as alegrias espontâneas
Contraírem meus lábios.

Dançar com emoções
Brincar com eufemismos
E observar o fluir
Das estrofes sob o vento
Da inspiração súbita.

Retratar o princípio da humanidade.
A base da definição do ser vivente.
A ambigüidade do espontâneo esporádico
Que é o instinto.

Pois a irracionalidade é mais tangível
Que a apática lógica.
Pois fazer escorrer uma lágrima
É às vezes mais fácil
Do que injetar conceitos
Na inteligência racional.

Pois fazer sentir
É mais fácil e eficaz
Do que fazer pensar.

E eu sou apenas
Um acorde de estrofes emocionadas.
Sou apenas uma harmonia
Ansiosa e desesperada.

segunda-feira, 10 de maio de 2010

A Alegria dos Ignorantes.

Ócio que me consome
Em uma realidade entediante
De conceitos baseados em pré-conceitos
De moral com fundamento alienante.

Tédio de conviver
Com a hipocrisia daqueles
Que nunca nem uma regra
Tiveram a ousadia de quebrar.

Os frutos podres estão em maioria
Nesta colheita acabrunhante
De criaturas sem atitude
Conformistas, estáticas.

Como é impossível manter
Qualquer espécie de diálogo interessante
Com estes seres constantes...
O tédio me consome com comentários fúteis.

Talvez eu seja um arrogante
Exclamando o quanto sou
Maior e mais consciente,
Melhor do que estas criaturas.

Mas os diálogos são inconcebíveis.
E eles riem e sorriem.
Eu me calo, solitário e austero.

É fácil dizer
Quem é mais intelectual.
E ainda mais nítido ver
Qual está mais próximo da felicidade.

quinta-feira, 29 de abril de 2010

Simplesmente...

Tendo a ignorância como uma bênção
Eu talvez seja um amaldiçoado egoísta.
E não sou culpado
Por simplesmente não me importar.

As pessoas tornam-se insignificantes
E a realidade torna-se intransponível.
As mensagens são pessimistas
E a poesia é escura
Como uma noite de lua nova.

Mantenho-me inconstante
Beirando a ausência do sociopata
Em conflito com a sensibilidade do artista,
Constantemente desesperado como um romântico.

Apenas posso cantar
E continuar meu solene-soturno viver
E expressar o quanto amo...
O quanto sinto...
O quanto deixo de sentir...
Posso apenas continuar a gritar.

Eu apenas busco
Mais uma tristeza para um retrato.
Pois esta é a obstinação de um artista,
Retratar, amar e lamentar.

Amo demais...
Lamento tanto...
Retrato pouco...

Simplesmente, sou apenas um complexo.
Como uma bactéria de males e benefícios.
Sou muito muito pouco para ser.

quinta-feira, 22 de abril de 2010

Tabuleiro de Influências

E olhar o mundo girar
Com os olhos de um ignorante
Sem perspectivas, conceitos ou concepções
Com saliência em apenas um egoísmo simples
E na ausência de opiniões.

Rondado pelo azeviche alienante
Da visão manipuladora
Ser apenas um peão
Em um xadrez incessante

Tabuleiro de influências
Que rege a existência plana.
Apenas uma peça descartável
E sem qualidade alguma.

Porém, grande a quantidade
Dessas peças comuns
Pois os desprezíveis
São os geradores do poder.

Basta alimentá-los
Com ilusões baratas
E esperanças falsas.

Basta iludi-los
Com uma visão de superioridade
E induzi-los no desejo
De pisar na cabeça alheia.

Oferecê-los bobagens para falar
Futilidades para acreditar
E estereótipos para julgar.

Peões...
Apenas soldados boçais
Para morrer e existir em vão.

Peões...
O exército de patologia humana...
Composto por grotescos perdidos
Fadados a viver sem razão.

terça-feira, 6 de abril de 2010

Essencialismo Rebelde

Eu preciso de um paradigma para quebrar
Preciso de uma leia para desobedecer
Preciso de um fardo para carregar
De uma obstinação para ser.

Pois sem um costume para discordar
Não existe desafio para motivar.
Resta apenas
Um ócio para viver.

Eu preciso ser
Um oprimido original
Para alguma coisa ser.
Porque minha essência filosófica
É desobedecer.

Pois a minha função sociológica
Tão rara e exótica
É criticar o outro existir.
Pois minha essência filosófica
É desobedecer.

segunda-feira, 29 de março de 2010

O Contemplar Moderno

Porque vivemos nós
Na sombra alheia
De velhos gênios
Que já morreram?

Porque contemplamos
E não criamos?
Porque não existem
Contemporâneos gênios?

E reproduzem e discutem
Obras clássicas
De outra era.

E contemplam ao invés de ser
E relembrar ao invés de fazer
Porque tantos intérpretes e tão poucos poetas?

Equilíbrio de Miséria

Talvez as alegrias e misérias
Deste mundo, estejam estas
Colocadas em uma infame
Balança adulterada.

Pois a alegria de um
Sempre será a miséria do outro.
E não há justiça
Há apenas equilíbrio.

Talvez estas alegrias sejam
Espectros raros, limitados
A vagar pelo cotidiano
Atingindo e fugindo dos seres.

Talvez a tristeza seja
A ausência de uma alegria
Que poderia ter existido.

Ou talvez esta seja
O sentimento que dilacera o ser
Por lamúria, por dor...
Ou simplesmente
Por razão nenhuma.

Porém tudo passa
Tudo se metamorfoseia.
E definitivamente esta é a beleza
De existir nesta trajetória
De infortúnios e sorrisos.

Nada é eterno
Algumas circunstâncias apenas
Demoram a evanescer...
Outras foram apenas
Ilusões peculiares
Que nunca existiram.

Observação Dialética

Ilusões onipresentes na existência
Pois é inconstante o identificar
Das falsas verdades perante a peculiar realidade.
Afinal, uma falsa verdade
Não deixa de ser uma verdade.

Que sejamos bons omissores
E não mentirosos.
Pois a mentira reflete o algo falso,
A omissão é apenas estratégica.

Essência Fúnebre

Tão visível a essência da humanidade
Diante de teus simples e irremediáveis olhares
Pois nada é mais sincero
Do que a expressão súbita de sua face.

A simples e complexa essência humana
Tanto na frieza do raciocínio lógico
Quanto na incendiária emoção alheia.
Caracteres planos e esféricos
Recaem sobre nós.

Tão visível a alegria débil
Do início da existência.
O olhar alegre e alienado
A pureza da inocência
Da faceta de nossa fase mais primitiva
E animalesca.

Tão obstinado e inflamado
O grito e o olhar da juventude.
O primeiro questionar, o primeiro rebelar.
O primeiro grito junto de sua metamorfose.
O essencial desejo de expressar.
O ocorrer de suas primeiras simples mortes...

E começam a surgir os primeiros detalhes
As primeiras formas em sua escultura existencial.
Como o lapidar do granito
Nas mãos do escultor.

E entra em contato com a complexidade
Do sentimento em si manifestado.
Aprende-se a odiar e a repudiar,
A amar e a fazer,
A ser e estar.

E vagamos piamente
Em verdades que se tornam desilusões,
Em sonhos que se tornam tangíveis,
Em pesadelos que são passados para trás...

Encontram-se tesouros e armadilhas
Perdidas em nossos atos e desejos.
E se dá o nome de vida
Ao existir infatigável.

E corremos e corremos
Em busca de ambições e metas
Encontramos ombros amigos
E punhos alheios.

Pois pisamos em cabeças
Nesta estrada desertificada.
E somos pisados
Na ausência presente
Desta mesma estrada.

E se perde nossa vitalidade
Com o passar das estações.
Apodrecemos e caímos aos poucos
Como folhas no outono
Entre o doce e o amargo.
E o que mais fazemos
Além de morrer?

segunda-feira, 8 de março de 2010

Lágrima Brilhosa

Nossa bela harmonia
Regada de graça e irresponsabilidade.
Nesta tão bela noite fria
Teu sorriso me ilumina na escuridão.

Tua face ebúrnea, tão linda
E teu astucioso olhar
Me enfeitiçam, me alegram,
Me levam para longe daqui...

Longe, onde nada possa nos importunar.
Longe de tudo, de todos
Onde possamos estar
Enfim em paz, enfim a sós.

Livres para deleitar
De nosso tão agradável
Diálogo poético,
Pois tu, para mim
És uma bela poetisa.

E eu, livre, para deleitar de teu tão doce beijo,
No fechar de meus olhares...
E ao abri-los, surpreender-me alegremente
Ao apreciar tua tão bela face.

Surpreender-me por estar ao teu lado,
Desvendando teu doce beijo,
Na harmoniosa atração de nossos corpos.
O desfrutar de nosso proibido desejo.

E o prazer de entrelaçar
Teus braços aos meus,
De acariciar o castanho macio
De teus fios de cabelo.

Nosso romance vampiresco
Entre mordidas e risos
Faz o florescer em meu ser
A alegria que eu havia esquecido.

Livres em nossa longa noite isolada
Como envoltos em uma esplêndida fantasia.
E quem diria,
Em uma noite sem expectativa
De grandeza pressentida
Surgiria a beleza improvável de nosso romance?

E, subitamente, o quebrar de nossa fantasia.
Você é lavada para longe, de volta.
E eu remanesço aqui nesta noite fria.
Em um despedir frio e oprimido
Teus olhos transmitem preocupação aos meus.

Tu vais, e deixas a esperança de que
Este não seja o último capítulo
De nosso tão gracioso romance.

E deitarei ao meu leito nesta manhã
Com meus olhos ansiosos sob ti.
Nostálgico em minha recente memória
Da doce beleza de tua lágrima brilhosa.

[26/02/2010]

Seres Sem Sombra

Marionetes mecanizadas
Sistematizadas em hipocrisia
Para futilidades programadas
Meras existências sem poesia.

Ridículas e fatigadas
Movidas pela mão da mídia.
Alienadas e desorientadas
Impostas a uma ilusão qualquer.

Sustentam a modernidade
Como se nada estivesse errado
Como se houvesse igualdade
E não houvesse nem sequer
A existência de um simples miserável.

Malditas sejam vossas cabeças de vácuo.
Seus olhares vazios
Envenenam e apodrecem
Parte da existência alheia.

Adoecem o ambiente em que vivem
Exalando o odor fétido de uma hipocrisia demasiada.
De um moralismo ridículo e retrógrado
Com uma miséria anti-intelectual.

Tal moralismo alienante é inconcebível
Pois jamais existiu nesta inconstante realidade
Um intelectual sóbrio e sem contato com a onírica loucura.

Faz mais sentido ser saudável em doença
Pois a sociedade é uma doença mascarada.

Pobres dos doentes, sóbrios e lúcidos,
Estes sim são os insanos imbecis.

quinta-feira, 25 de fevereiro de 2010

Relicário de Emoções

E ver as imagens do passado
Evanescendo, se perdendo pelos anos.
O sentimento se esvai com o tempo
Junto de toda memória e alegria.

Os laços envelhecem e se rompem.
Os sentimentos mudam e se perdem.
O passado deixa lentamente de existir.
As lágrimas escorrem e os risos desaparecem...

Morremos e renascemos, mudamos.
Perdemo-nos no presente e seguimos
Vendados ao futuro.
Sem medos, com nossa bagagem de emoções.

Estamos fadados a perder nossa essência
Para dar lugar a novos caminhos e novas visões.
Fluímos e nos bifurcamos na estrada da existência
Onde cada um se perde e se encontra, sem olhar para trás.

Tudo que fomos morre.
Tudo que seremos também morrerá.
E nós morreremos, por fim,
Sem saber quem estará ao lado de nosso funéreo leito.

Levando para sempre nossas memórias queridas,
Sentimentos guardados em nossos corações.
Momentos gravados em nossos olhos.
Sensações vivas em nossa pele.

E é levado embora nosso grande tesouro,
Nossa preciosidade querida.
Um relicário de emoções.
Somos apenas tesoureiros de nossa vida.

E todos os obstáculos, adversidades.
Todas as ambições e sonhos.
Tudo dito, feito e esquecido
Levado á sete palmos do chão.

A morte de um ser
É como o queimar de um museu.
O perder de um tesouro
No naufragar de um navio.

E remanescem as memórias sobre nós
Dentro daqueles que estiveram
Ao nosso lado nesta estrada.
Deixamos saudades e dor.

Lembrados até o fim de nossa geração.
Tornamo-nos lendas e cicatrizes
Para a nova prole da realidade.
E nos perdemos nos calendários e ponteiros.

Inexistimos para criar a existência
Da nova volta do relógio.
E se cumpre mais um ciclo
Da existência dos belos seres.
Da beleza da grotesca humanidade.

segunda-feira, 22 de fevereiro de 2010

Crescer

Tão simples e sutil
Inocente e sóbria.
Tão ingênua e alegre
Como o sentimento em si.

Uma jovem criança
Entrando em conflito
Com a vil realidade
E perdendo a inocência...

Em sua teimosia infantil
Em sua obstinação jovial
Em suas decepções torturadas.

O reflexo de uma criança morta
Do nascer de um adulto dilacerado
Crescer é sofrer.

sexta-feira, 19 de fevereiro de 2010

Motivação

Sinto-me filosoficamente morto
Como dentro de uma espécie de vácuo
Existencial do qual
Não faço parte.

De nada faço parte.
Sou uma peça solta
Diante de vários quebra-cabeças

Quebra-cabeças coloridos.
E eu sou uma peça
Em preto e branco
Que só aparente se encaixar.

Talvez a essência fundamental
De meu ser isolado e alheio
Seja esta.

A essência de uma peça
Solitária e inacabada
Disfarçando-se em suas tintas
Para adentrar as cores
De outros quebra-cabeças.

Pelomenos aqui
Nesta folha de caderno
Eu não preciso fazer
Parte de nada.

Aqui eu não preciso ser nada.
Só preciso dizer algo.
Qualquer algo que queira dizer
Para meus raros leitores.

E, obviamente,
Algo que eu queira dizer
Para mim, eu, ser-caneta
De tinta negra.

(Talvez eu seja apenas
Um excluído, um isolado qualquer.
Um coringa sem baralho.
Um cigarro sem maço.)

Mas aqui eu não preciso ser!
Eu preciso dizer, expressar,
Escrever algo que eu considere relevante
Ou pelomenos, no mínimo interessante.

(Talvez eu não seja.
Simplesmente não seja!
Talvez eu nem exista!
Como poderia existir uma peça
Solta nessa realidade?)

Eu digo que a vida é bela!
Mas será que eu acredito nisso?
Vale a pena viver?
Não?

(Uma criatura sem raça...
Uma palavra sem verso...
Uma pena sem asa...
Uma folha sem árvore...)

Existem motivos para viver?
Não?
Existem motivos para morrer?
Nãos?
Que dilema!

(O que sou eu?
O que eu sou?
Eu sou?
Eu?)

Existe esta folha de caderno.
Por enquanto é o suficiente.
Existe algo a dizer.
É muito mais que o suficiente.

segunda-feira, 8 de fevereiro de 2010

Lamúria

Eu só consigo escrever sobre ti.
Só consigo expressar esta única emoção
Que talvez não tenha valido a pena.

Minto! È óbvio que valeu a pena!
Toda a intensidade de nós...
E hoje resta a ausência...

E eu, em meu lamento comum e clichê,
Em meu patético estado
Em meu estado lastimável.

Em minha lamúria incansável
Diante da lápide de nossa arte
Perdida com as areias do tempo.

Eu lamento, pois parece que
Não existe mais nada a dizer
Nada a fazer.

Eu lamento meu fim,
Lamento seu novo início sublime
Seu novo início sem mim.

Lamento, pois é tudo que sei fazer.
Lamento em uma poesia sem título,
Sem cor e sem sentido.

Lamento, somente
Pois é tudo que sei fazer
Em minhas lágrimas imbecis.

Lamento, somente
Pois já não tenho mais
Palavras em meu repertório
A declarar, a dizer.

Lamento, simplesmente,
Só, como sempre
Lamento, somente
Pois é tudo que posso fazer.

O Fim da Agonia Existencial

Eu invejo a primeira vítima
Do primeiro assassinato atroz
Nesta noite vazia de ventos cantantes
Na névoa sangrenta de nostalgia constante.

Invejo a gloriosa vítima
Esquartejada nesta noite soturna
Que em seu pungir hemorrágico
Encontrou sua sincera liberdade.

Invejo aquele que deixou este plano
Sem cerimônias, sem memórias
Com um simples anônimo sem glória.

Invejo o ser livre que a chama já não orienta
Invejo o anonimato da morte ocasional
Invejo o fim da agonia existencial

Nós

Me diga quantos dias e quantas noites
Eu hei de esperar.
Me diga quantos Sois e quantas Luas
Por minhas retinas dilaceradas
Haverão de passar.

E esperar de mãos atadas
Amordaçado sob o luar.
Meu coração esmagado
Espera pela possibilidade de estar
Mais uma vez presente
Onde você estará.

Surgiu como um simples sonho
Do qual eu jamais quis acordar.
Súbito e cheio de magia
Como teu doce castanho olhar.

E evanesceu em um trágico
E lastimável acordar.
Trazendo-me de volta
Ao vazio de existir.

Que maldita trajetória o destino traçou
Sob nós, meros amantes.
Que conhecemos juntos, em poucos dias,
A beleza do paraíso
E o escarlate do inferno.

E hoje apenas me resta utilizar
De minha frágil, porém prezada memória
Para relembrar mais uma vez
De como nossa alegria e nosso romance
Que foi tão belo e poético, mais uma vez.

E além de toda miséria,
Da dor que proporciona o vazio
Da noite sem tua voz,
Eu jamais poderei dizer
Que nossa melodia se desfez.

Pois eu nunca deixarei que morras
Dentro de mim.
E meu interno, doente e saudável
Por nosso romance,
Jamais esquecerá o significado de ti.

Estarás dentro de mim
Em todas as manhãs exauridas
De minha insônia.

Em todas as noites frias e claras,
Em todos os ventos uivantes
Que soprarem em minha face.

Estará como o Sol e a Lua
Inerente a minha existência
Que um dia, ao seu lado
Tomou forma de vida.

Nossa melodia ressoará pela eternidade
E tu estarás viva ao meu lado,
Estarás ao meu lado, como sempre esteve
Minha amiga, Minha Musa
Minha Amante
Meu Amor.

sexta-feira, 5 de fevereiro de 2010

(In)Perseverança Melancólica

Apenas uma decepção qualquer.
Apenas mais uma existência
Em um conto de final trágico.

Diante de tal conto
Apenas uma existência obliqua
Anestesiada em sua trajetória ébria.

Todos nós, eu e você
Apenas peças de mais um
Quebra-cabeça que é
O destino em nossos céus

Todos nós, eu e você
Existências obliquas
Lacunas não preenchidas
Meros réus

Diante da noite de nós
Estrelas choram e o
Sol sem poe, sem dor
Sem esperança, sem nada

quarta-feira, 13 de janeiro de 2010

Promessa

Plantarei nosso sentimento
Como uma pequena semente
Simples e frágil
Dentro de meu dilacerado coração.

E o regarei com a esperança
De que um dia poderemos estar
Juntos novamente
Mesmo que isso seja apenas
O fruto de uma doce ilusão

E enquanto eu respirar
Enquanto meu coração pulsar
Enquanto o Sol nascer
E a Lua iluminar.

Guardarei e cultivarei
Nosso digno sentimento
Na memória daquele dia
Daquela noite.

E seu sorriso
Sempre iluminará
Minhas manhãs de insônia.

E seu olhar
Sempre me trará alegria
Na tristeza de tua ausência.

E eu sempre lembrarei
De seu doce abraço
De seus carinhos
E de sua preciosa presença
Ao meu lado.

terça-feira, 12 de janeiro de 2010

Solução de Sentimentos Crueis

A verdade é que estou exausto
Minha garganta agoniza
Meu coração está apertado
E a angústia toma conta de meu corpo.

Nas noites sombrias que em claro passei
Em pensamentos tortuosos e memórias perdidas
Memórias de fatos em lugares e objetos
Como meu quarto, minha cama.

Meu corpo exausto e inquieto exala distração
Minha garganta cerrada me dá a sensação de afogamento
Minha mente segue múltiplos raciocínios
Curtos e incompletos.

Por que de repente se tornou tão difícil respirar?
Meus pulmões que falham?
Ou o ar que esta pesado?
Apenas sei que meus pulmões estão cheios de agonia.

Minha cabeça parece girar
Em uma náusea inquieta
Minha visão se distorce e sai de foco
Memórias me torturam.

Meu peito parece estar perfurado
Uma lâmina parece estar alojada
Compondo uma sensação de hemorragia
Em um pungir de sensações emocionais e físicas.

Meu corpo agoniza junto de meu coração
Minha mente confusa distorce a realidade
Uma síntese de sensações e sentimentos
Vorazes, impetuosos e torturantes.

Uma solução de agonias inquietas
Como se meus músculos contraíssem a cada segundo
Como se cada molécula de oxigênio
Fosse composta por agulhas ocas.

Meu corpo não exala mais nada além de dor
E este texto é apenas a tentativa de descrevê-la
Tamanha síntese de agonias
Solução de sentimentos cruéis.

terça-feira, 5 de janeiro de 2010

A doença do patético

O patetismo de meus atos
Não me envergonha nem me humilha
Sou apenas um patético romântico
Em busca de uma cura ou uma anestesia
De minha insalubre e melancólica existência.

Românticos são patéticos,
Pois sentimentos também são.
Pois estar vulnerável a desilusão e decepção
É simplesmente patético.

Mas a pateticidade é humana
Pois só os patéticos vulneráveis
Que provaram do azedume da dor
Podem ser vítimas da alegria.

Sou apenas uma vítima impulsiva
Uma alma torturada
Uma criatura ridícula e vencida
Diante de um jogo sentimental.

Pois o preço da alegria
É a trágica tristeza
E a infelicidade se torna tangível
A felicidade se torna utopia.

A dor e o sofrimento são apenas constantes
Alegria é apenas uma droga rara
Um entorpecente caro
Uma morfina.

E o preço de tal anestesia
É o sangue derramado
Das veias laceradas
Da dor do patético.

A cura é apenas uma utopia
Somos apenas vítimas
Da patologia quase extinta
Da doença do patético.