sábado, 20 de agosto de 2011

A Antiga Central

O solo se irregula na terra de retângulos,
Cada geométrico cravado parece devorar
Seus vizinhos lentamente.
Suas faces, manchadas de substantivos,
Parecem gritar em múltiplas personalidades.

O contexto atenua o teor paradoxal do verde-cinza.
Colméias bloqueiam a luz, envoltas por
Abelhas que não voam.
Insetos rotulados, enumerados, capengando
Enrolados como cigarros a queimar.

Parem-se mancos – Reparem como andam!
E zumbem, e zumbem, e zumbem
Tentando voar com suas azzzas aleijadas,
Feitas em frangalhos de forma tão precoce,
Antes mesmo de suas próprias gêneses.

Algumas vestem-se em panos, exclamando superioridade
Em seu ócio burlesco. Outras, em seus trapos, maltrapilhos
E maltratados, perseguem falsos profetas.
Os admiram em seu sistema nervoso de engrenagens enferrujadas
E circuitos queimados.

- Oh, insetos aleijados de tantos olhos, que função eles tem?
- Porque entregaram suas línguas, integraram as massas fúngicas,
E continuam a zumbir tendenciosamente?
- Oh, insetos caídos, porque abandonaram o céu e se rastejam
Como minhocas que não são?

quinta-feira, 4 de agosto de 2011

Moinhos Anatômicos

Engraçado é sentir o peso de voar.
O peso de cada soco de ar
Que bate na face felpuda
Com o carinho do sopro da concubina
Na ferida de sua prole.

Engraçado é sentir o carinho do frio
Que nos adoece.
Da poeira que nos suja e desconforta
Em nossa armadura de areia e cascalho
Que nos edifica e fere.

Engraçado é sentir os calos gritarem,
Se manifestando por nossos pés, como intérpretes
De mudo desconsolado.
Expressando-se através de cada furo no sapato:
- Pare, por favor! Pare de bom grado!

Engraçado é sentir o calor da insônia
E suas alucinações na câmara dinâmica.
Nas concepções da mente lucidamente ébria
De vontade de cair.

Engraçado é sentir a fúria atroz
Do grito de dor incessante do corpo,
Estalando pelos ossos como um instrumento de corda,
Desafinando cada pedaço de harmonia
Que é a angústia do absorto.

Engraçado é sentir...
Por apenas ter a ousadia de se desprender,
De colocar o dedo na areia
E se dar ao mundo que gira, incessante,
Em sua dança inerte.
(...)
Sentir a dança do mundo sapateando
E palpitando no peito é escutar a si mesmo.
Escutar a si mesmo é escutar o mundo.