domingo, 28 de julho de 2013

À Batom Vermelho

Uma graça, maravilha experienciada, vivida na loucura destas casas...
Nosso beijo é como um dançarino e uma dançarina.
Separados, são o que são.
Juntos são poesia.
São o dilema térreo que me faz sorrir,
Vivência que estava guardada na memória, de invernos que já passaram por Assis.

Teus pequenos lábios, graciosos, ousados e recônditos,
São armadilhas pontuais.
Teu sorrisinho, riso, graça,
São pequenas surpresas,
Epifaniazinhas que assisto iluminar a noite ébria.
Tua pele macia, rosada de frio e de estrada...
Desperta em mim um carinho arriscado.

E mesmo, tanto depois de invernos em invernos,
Da evasão, perfeição, riscos e trincos do coração,
A poesia que existe nesta dança,
No frio e no silêncio da noite,
Remanesce como uma obra de arte preciosa a ser apreciada.

Nessa epifania escondida e maravilhada,
Retira-se a obra do museu,
E a coloca, com todo carinho sujo,
No meio do caminho, no meio da estrada.
Para mostrar para a noite, que,
Embora evasiva, clandestina, fugitiva,
A nossa dança é
A poesia escrita à batom vermelho,
Dançando na noite fria,
Gostosamente sublime

Como um delicioso devaneio.

quarta-feira, 17 de julho de 2013

Cão do Estado

Como se sente um cão do Estado ao ser questionado por um estudante da militância?
Como se sente um cão do Estado ao invadir e depredar uma ocupação legítima?
Como se sente um cão do Estado ao representar a intransigência, a ignorância e a falta de diálogo daqueles que se escondem atrás de uma mesa de escritório como se esta fosse uma fortaleza de silêncio?
Como se sente um cão do Estado com sua cara fechada, tirando onda com militantes que, com muita luta, muito cansaço e determinação tentam mudar a educação desse Estado e enfrentar sua ordem vigente?
Como se sente um cão do Estado ao bater em estudantes, homens e mulheres, sem nenhum escrúpulo?

Cumprem ordens, eu sei...

Incrível a habilidade apática destes cães.
A habilidade de ignorar todas as questões sociais para ser um peão mantenedor do status quo!
As vezes acredito que é através do ódio e a da repressão que estes cães conseguem dialogar.
É através do sequestro, das bombas de gás e dos cacetes que eles conversam!
Que língua vocês, filhotes de tucano, aprenderam a falar?
E eu seu filhote, aonde irá estudar, cão do estado?

Quando a universidade for completamente sucateada e privatizada,
Você não terá dinheiro para pagar pela educação de seu filhote.
Ele não terá acesso a bolsas de pesquisa, extensão ou de auxílio sócio-econômico, coisas que vocês julgam regalias;
Ele não terá moradia de qualidade, se tiver moradia...

Pelo o que lutas, cão do Estado? Pois não lutas pelo povo e muito menos por você e pelos teus!
Lutas, cão do Estado, por aquele que é seu dono,
Aquele que lhe joga migalhas para comer de cima de um palanque,
Que lhe serve a miséria com talheres de prata e mesa bem posta.

Acordai cães do Estado! Juntai-vos e componha conosco uma transformação da realidade!
Pois aquele que te manda reprimir nas ruas e matar nas favelas sempre o deixa com fome

E um cão com fome somente consegue demonstrar raiva!

quarta-feira, 3 de julho de 2013

Guerreira

Na tua face ebúrnea encoberta
Sua revolta sua cada vez mais bela,
De traços faciais recônditos,
Em meio a fumaça ardente que cobre as ruas.

Aprecio o sorriso largo, às vezes tácito,
Com covas discretas;
Que foge ao lenço
Em olhares e ironias,
De curtos momentos.

Olhares fulminantes,
Voz rouca que grita às misérias.
Braços poderosos que rangem às alfaias
E lutam com ideias.

Aprecio-te, graciosa à margem.
E teu grito convicto e impiedoso,
Com toda a certeza de uma mulher guerreira,
Com toda dor de uma mãe
E paciência de uma parteira.


Vejo em teus olhos e posturas
A chama de uma consciência de nobre plebe
Que rompe com diversas conjunturas,
Com a incongruência da sede.

Ébria tua postura,
Ébrio teu grito,
Libertário e esperto.

Ébrio, porque liberta fora de rito,
Porque quebra o velho mito
De que mulher é um bicho obediente e quieto.

Forte e salamandrico o teu sorriso recôndito,
Pois é como chama vermelha dançante,
Incitando o caos e a revolta,
Debaixo do lenço a graça
Que derruba livros da estante.

E sinto brio e orgulho
De dividir espaço ocupado contigo;
Ao lado de um espírito livre
Que elucida a destruição
E a construção com fúria e paixão.

E se eu tivesse o teu impiedoso grito
Em minha mão,
O jogaria diretamente,
Temperado com vinagre,

Sobre uma multidão.

terça-feira, 2 de julho de 2013

No Meio do Eu-Nada

Quando os pássaros cantam
Meus olhos queimam.
Sentir o grande esplendor da náusea
Dá vontade de vomitar existência ou
Qualquer clamor por resiliência!

Vontade de expelir pelos poros e
Pela boca através
De uma vontade louca,
De uma vontade rouca,
De uma vontade que é pouca
De sangrar e sangrar todas as ideias
Das ideias todas!

Das ideias tolas
De um riso do olhar silencioso.
No meio do samba,
É Aquele olhar que chamam de tonto.
No meio da festa aquele gingar
É um débil bate-estaca de palhaço.
No meio da existência aquele
Passo sozinho e anestesiado.

Para parar,
A voz ignota no bar está a amar com o olhar.
Pois no meio desta tempestade etílica,
No naufrágio de cabeças leves
Nas ondas violentas a conspiração de uma dúvida:
Ainda amar?
Ainda há mar?

Ele tenta ver entre o pulso e a faca,
O acabrunhante amanhecer e o insight obscuro.
Os olhos encima do muro,
E a dor solvendo quente na nata.

- Sou poesia em tempestade sem mar.
No meio do deserto,
Eu clamo por
Iemanjá em desalento.

- No meio do eu-nada
O meu camelo nada.
No meio do eu-nada
Eu sou um pequeno pirata.

- No meio do eu-nada
Meu valor é baixo,
Eu não valho nada.
No meio do eu-nada
Eu sou pedaço de trapo mutilado,
Perna de pau, olho de vidro e nariz de palhaço
Mancando na estrada.

Fugindo de existir
Para tentar existir
No meio desse devir
No meio do eu-nada
O mundo irá mastigar,

O mundo irá engolir...

segunda-feira, 1 de julho de 2013

Soprano Soturno

Tô aqui só,
Sobrando no meio do ar,
No meio dum quarto sem lar.
Num violão em acordes de dó.

Com dó, sem dó,
Tô aqui sobrando,
Soprando o pó
Da sala sozinha,
Do quarto, da cozinha,
Sem amor no meu paletó.

Tô aqui na tela manchada,
Vazia e soturna.
Cantando em soprano
Abafado ao lado de um trago,
No meio do mar, no meio do mato,
Na estrada inacabada

Ao lado do gato preto,
Quebrado e vadio,
Quebrando espelhos
E rasgando pensamentos.

Tô aqui num nó
Dentro do peito.
Bem do lado esquerdo
Havia uma bomba explodindo
E disparando pulsos inesperados,
Desespero, desesperança,
Não espero oferta além da demanda

Te vejo e te quero
Como alguém quer uma faca no peito,
Como alguém fritando no leito
Num soprano soturno de meu anseio...
De meio anseio, febre e fadiga,

Ah!
Eu tô é doente do peito.
Olhando para a prateleira da vida.