sábado, 28 de agosto de 2010

A Epifania de um Derrotado

Vocês podem me dilacerar
Com suas palavras afiadas
E pisar em minha carne definhada
O quanto desejarem.

Os mortos não sentem
Não olham, não vêem.
Pois não há relevância
Em assistir um mundo em chamas
[Novamente.

Pois o fundo do poço
É inalcançável para as pedras
Incessantes e elaboradas
Que lançam sob mim.

Fui derrotado, humilhado atrozmente
E deixei se apagar em mim
Qualquer chama que enaltecesse
E pungisse meu ser.

O prazer e a dor estavam juntos num velório
E eu velei sob eles piamente.
Fitei seus cadáveres embalçamados
E esbocei um sorriso sincero em minha face.

Eu morri junto deles
E meu corpo desalmado permaneceu.
Portanto, pouco me importa a opinião alheia.
As pedras já não me atingem.

Não exista o que atingir.
Apenas vago, fantasmal,
Solitário, morto-vivo
Até que a sorte da morte me atinja.

quinta-feira, 26 de agosto de 2010

Tragédia Existencial

De início tudo era simples
Tudo era prático e palpável.
O mistério era lícito e
Inerente a mente inocente.

A pureza da possibilidade.
Pois puro e decente
São todos aqueles
Que não realizam os atos
Que não querem que realizem.

O rótulo é um poder
De manipulação profunda e voraz
Que soterra as vontades
Pelo medo do julgamento e da interpretação.

A realidade já se amplificou
E a complexidade bifurca a estrada
Em diversas possibilidades
Infames e traiçoeiras.

Os mistérios se desnudam
Em conceitos teóricos e empíricos
E explicações físicas e emocionais.
Tudo se justifica.

E múltiplas justificativas
Borbulham implacáveis.
Os temos medo e coragem
Vendamos e ampliamos com lentes
[os olhares

E tudo se torna plano
De forma abstrata e inane.
E nos buscamos sentido
Para tudo ao nosso redor.

Mentes desvirtuadas
A mercê do destino
Em busca da inocência e da ignorância
Que perdemos no fim do início.

Memórias mortas nos esfaqueiam.
Possibilidades nos amedrontam.
Pensamentos nos pungem.
A emoção escorre pelos poros.

Questionamos nossos desejos
E nos colocamos em um tribunal peculiar
No qual integramos a função
De promotor, defensor, juiz e réu.

E, por fim
Aquilo que mais desejamos
É aquilo que nos é abstrato, intangível, inatingível...

Pois a realidade se desfaz
E tudo se torna cinzas.

A vida e a existência
São ambas tragédias

terça-feira, 10 de agosto de 2010

Trajetória Emocional (gênese e óbito de um romance)

No dia em que nasci,
Numa doce tarde de Novembro.
Eu, fruto de seu jovial olhar
Tive minha primeira concepção de vida.

Nasci livre em um sufocamento
De uma circunstância proibida.
Como se dar sentido a existência
Fosse um pecado capital.

Vivi clandestinamente junto de ti
Em promessas e sonhos
E tentativas lógicas
De evitar o inevitável.

E fui arrancado de minha vida,
Arremessado em uma prisão dogmática.
Os dias se tornaram meses...
Os meses se tornaram anos...

No romper da escuridão
Em epifania, um anjo dá
Gênese a esperança e
Ressuscita-me em glória.

Volto aos teus braços
E construo nosso sonho.
Transformo o abstrato
No tangível.

Junto minha vida a tua.
Nós, vítimas de nós mesmos
A desfrutar em harmonia
De nosso insólito desejo.

Nasce o fruto de nosso romance.
Morre o anjo de nossa esperança.
A existência se transmuta.
A confiança se dilacera.

Um olhar detrás das cortinas
Revela a obscuridade grotesca.
Sou exposto como palhaço nu
À platéia da humanidade.

E assisto o fruto já-não-meu
De um romance apunhalado
Crescer e se tornar
Um fantasma do passado.

Dilacero-me, esfacelo-me
E apenas me resta o desejo
De te ver e lhe fazer
Se afogar neste mar adúltero de desilusão.

Conceito Peculiar

Das facetas caóticas da realidade
A mais poética e ousada
É a constante insanidade
Do borbulhar de emoções.

De criação súbita e espontânea,
Força sedutora e persuasiva.
De gênero cruel e voraz
E doce sensação.

As emoções são drogas exóticas
Que tomamos sem querer,
Sem pensar e sem agir.
É a realidade do instinto da humanidade.

Doces sonhos e cruéis pesadelos
Tangíveis, em forma sólida.
Como uma carícia apaixonada,
Como um punhal encravado no peito...

Realidade transmutável
Que cativa nossos olhares.
Alegria à flor da pele
Em preço digno e justo.

A visão se compõe
Das lentes dramáticas
Nos trocar-de-óculos
De uma atordoante guinada.

Então me banho em interessante
[prazer
E deixo escorrer das cicatrizes
Doloridas, a morte tangível
A fluir sob minha carne.

Pois sou apenas um drogado,
Um viciado exagerado,
Compulsivo e inconstante.
Um drama em tragédia existencial.

Sou uma overdose emocional.
Deixo a substancia pulsar
Em minhas veias
Até mudar minha realidade.

Um louco como qualquer outro
Em mais uma realidade idiossincrática.
Apenas regulo e amplifico
Minha loucura em caixas de som.

Romanticida

A doce e cruel mania lírica
De idealizar constantemente
O desejo de forma onírica
Na frágil psique de um romântico.

Apenas ilusões carinhosas
De um doce devaneio.
Frutos rubros e amistosos
De um poeta absoleto.

E como em qualquer ilusão,
Sempre haverá o choque
Contra a parede insólita da realidade.
A gênese do dilacerar da emoção.

A sôfrega alma do romântico poeta
Implora pelo fim de sua dor:
Por favor, apenas desejo um romanticida
Para acabar com meu amor.