Olho no espelho quebrado:
Detrás de mil pedaços
Vejo o irreconhecível outro
Em meio ao espasmo.
Teus longos cabelos e olhar embriagado
Já não compõem um impiedoso brado
Mas apenas um detalhe plácido.
O negro turvo e seus metais
Foram substituídos pelo nariz de palhaço.
O canto distorcido da guitarra
Por harmonias de violão itinerante.
E da melancolia, a tanto tempo hemorrágica,
Floresce um brio tácito
Precioso calor que, como chama,
Tem medo de se apagar
Quando olho os cacos no chão
Vejo rostos que já não compõem...
O dilema do tempo
Dá margem a outros afluentes no rio.
E quando digo adeus a antigos sorrisos e canções
É porque as amo e prezo por sua graça e beleza.
Olho os prantos nos corações
E, clarificado, já não observo com tristeza.
De toda essa passagem,
Nessa linha passageira
Ficam nas costas, nessa bela bagagem,
Sorrisos e mensagens que não cabem na prateleira.