terça-feira, 10 de novembro de 2015

Poeta Falange

Fala como pássaro ritmado
O poeta falante
Tem língua de espada
Guerreira usando a beleza como armadura
Soletra os minutos
Com cores que não estão
No arco ìris
Cozinha poesias com candura

Todo poeta é uma falange
A lutar contra o convencional
Pra que servem estas palavras?
São meios para a invenção!
Canta como pássaro
Penas nas asas para voar
Nas mãos para escrever
Garimpando tinta do coração

Como criar um corpoeta?
Basta afinar o paladar
E degustar com cada poro
Delícias do campo molecular
Fazendo da brisa leve
Desejo matinal
Tingindo na palavra

Um acontecimento inconstitucional

Onze de Outubro

Carícias traçadas em laços
braços e pernas amassam-se
o tronco apertado entre seios
desejos arriscam espaços

Cansada de traças
lacrada: embaraços persistem.

me arranco o pretexto
lhe devolvo o olhar
Me deixei em teu beijo
só depois de questionar
se a mim me interessa
te interessar

Acordo, entre o olhar
Desperto aos sorrisos
Toco acordes jamais vistos
Que percorrem o tépido corpo esguio

Olhar da manhã, 
Teus olhos são um precipício
Não precipito uma palavra
Mas mergulho num intenso ritmo
Que bate dentro da caixa torácica

Não precipito um movimento sequer
Toco teu corpo como se toca um piano
Ralentando como se fosse terminar uma canção
Música nos poros, aprecio os arrepios
Cheiro de desejo: alegria e alucinação


segunda-feira, 9 de novembro de 2015

Estrela Só

Olho para as estrelas
Piso num mundo sem chão
Milhares e milhares de estrelas
Suspenso no ar
Com uma bigorna nas costas
De onde veio tanta constelação?

Observo os passos
Que pisam sem piso para pisar
Recolhendo cacos
Na tentativa de costurar mosaicos
Construir pontes pelas ilhas
Cubismo de vida estilhaçada

Olho para cima
Milhares de estrelas
Não observo todos os astros
Na cadência, sambam pequenas
Já não fito nem o começo
Nem o fim da fita que observo

Paro e olho para uma
Estrela que brilha tímida no universo
Faço desta uma estrela guia
Norte do cruzeiro a cruzar o céu
Mergulho numa estrela só
Profundeza oceânica na escuridão infinita

No brilho há um brio de existir
Na estrela só
Há desejo de devorar mundos
Nas constelações inteiras
Não há fome maior
Do que neste ponto de referência no caos

Naquela estrela compreendi todas as outras
Naquele brilho concebi todos os brios
Telescópio da infinitude cósmica
Índice da enciclopédia de todas as vidas
Aquela estrela

Era eu.

quinta-feira, 5 de novembro de 2015

Nostalgia Molhada

O corpo saudoso
Lembra o ritmo intenso dos quadris
Dança úmida e quente
Transcendência em carne macia

O corpo em nostalgia
Saliva por todas as partes
Arrepios na coluna
Deleite profundo
Da delícia da língua a se deleitar

Mordidas distribuídas
Acalentam os poros
Os dedos percorrem as pernas
Lábios que encontram lábios
Devoram-se em intensa atmosfera

Música repetitiva que atinge os céus
Respiração, transpiração, inspiração
Delírio rangendo aos suspiros
Como quem rompe a terra,
Atravessa os setes mares
Arranha as costas, arranha os céus

Atravessa o corpo, atravessa o ser
Atravessa todos astros e rompe
Num rompante mutante
A si próprio
Metamorfose ambulante

E cai de lado como quem perdeu a batalha
Mas venceu a guerra
E fecha os olhos como quem sonha
Com a sublime canção


Orgasmo sem precedentes...