quarta-feira, 28 de outubro de 2009

Infância

Os risos e gritos
Os insultos e humilhações
E todas facetas abstratas e miseráveis
Ecoam pela eternidade

Todas as cicatrizes que sangraram
Criaram um monstro literário
Feridas que nunca cicatrizaram
Hemorragias que nunca se estancaram

A decadência e a miséria foram criadas
A partir da vergonha, do sofrimento
Das noites deturpadas

Do grotesco nasceu o vazio
As marcas ainda queimam como ferro em brasa
Criaram poesia, inconseqüência e brio.

segunda-feira, 26 de outubro de 2009

A Irrelevância e o Tempo

A névoa que encobre
A escuridão da noite
A fumaça que exala
Meu cigarro de prazer
São fatos irrelevantes
Cotidiano de meu ser

Como a irrelevância julga
Todo fato simples ou complexo
São apenas frutos
De um julgamento convexo

Como o cachorro que anda pela rua
Ou o mendigo que lhe pede uns trocados
E que, sem perceber se julga
Tudo que está ao seu lado

E que, em completa apatia
Apenas não observa e segue em frente
E julgando sem notar
Não olha
Apenas caminha
E mais um cigarro acende

São fatos comuns
Que nada significam
Para muita gente

Eu apenas observo
Cada mísero detalhe
Da sociedade decadente

E digo que
A irrelevância é relativa
Ao ser que observa
E evita o julgamento

Pois esta mesma
Tem muito a mostrar
Para aqueles que não julgam
E se interessam em observar

A irrelevância é apenas uma venda
Que limita a realidade do vendado
È apenas uma prisão
Que diminui o ser
E o transforma em apenas
Um simples obstinado

A maior inspiração
Pode ser despertada
Pela simples irrelevância

A maior conclusão
Pode ser encontrada
Nessa simples irrelutância

Mas o mundo vive depressa
Depressa demais
E o tempo escraviza o ser
Com obrigações tão diversas
Que este
Esquece de ser

Apenas corre contra os ponteiros
Apático, mecanizado
E que mais parece máquina
Do que criatura
E que não tem nem sequer
Um sonho realizado

Não vive, existe
Não caminha, corre
Não observa, não vê
Não é nada mais que
Uma lataria
Cheia de engrenagens
Que nada sente, nada crê

O julgamento de irrelevância
Às vezes não passa de ignorância
E o único exemplo que te dou
São esses versos infames
Que a suposta irrelevância inspirou

Vítimas

Suposta subordinação
O destino forjando a cruel realidade
Subordinados desta terra sem razão
Somos apenas vítimas da causalidade

Apenas vítimas de vidas vazias
Pensamentos inexpressivos em ilhas
De tanto pensar, de tanto falar
E nada realizar

Vítimas, vítimas
Tão ociosas miseráveis
Vítimas que nem males trazem

Meras vítimas, tão passivas
Vítimas, apenas
De sua realidade

quinta-feira, 15 de outubro de 2009

Ausência

Uma necessidade tão grande
De atenção, de afeto
Justifica a efusividade
Como a linguagem de um dialeto

Incompreensível linguagem
Contestada, rejeitada
Quando o coração não diz
Quando os pensamentos confundem
E a alma não consegue manusear
Seu instrumento de prazer
O corpo fala por si só

Insignificância, paranóia
Ciúme diante de todo infortúnio
Um apego tão patético
Representa apenas
A ausência de algo

Insegurança tão infame
Incompreensível
Impensável
Representa apenas
A ausência de algo

E toda flagelação
Toda nostalgia
A depressão
A empatia
Representa apenas
A ausência de algo

A compreensão e aptidão
A dádiva de ver além da carne
O romantismo e todo sentimentalismo extremado
Todo olhar exasperado
Representa apenas
A ausência de algo.

Descender

A vida é nada
Há quem dissera
Romance insólito
Perdido, instável
Ilusão adjunta
Miséria deplorável

Vazio, falta de nada
Situação comum
Decadência cotidiana
Que é somente
A agonia de mais um

Miséria tristonha
Conseqüência comum
Adoecer a alma
Com tanta calma

Cotidiano de solidão
De desgraça psíquica
Uma vida oblíqua

Esvai-se, sem ilusão de plenitude
Esvai-se, dilacerada atitude

Esvai-se a humanidade do miserável ser que se ilude.

quarta-feira, 7 de outubro de 2009

Maravilha Expressada

Eu, exaurido, torturado
Pungido, enclausurado
Dentro de meu ser de ócio
De decadência, de fóssil

Expressor de falsidades esfíngicas
Realidades inexistentes
Esculpindo e pintando
A sinestesia da expressão que mente

Dissonante o som que é
A expressão do acorde
Que dança, dentre notas
A melodia do consorte

Frustrada que é
Sua tão vária atuação
Lágrimas tão cálidas
Que merecem atenção

Dinâmica que é
O tão belo esforço
Saltitante, harmonioso
Doce flagelo, gracioso

Maravilha torturada
Esculpida, cantada
Tocada, pintada
Dançada, atuada

Maravilha expressada
Por expressar a maravilha
De todo torturado
Transmuta-se da forma enclausurada

Maravilha torturada
Agora livre desvairada
Maravilha vomitada
Maravilha expressada

terça-feira, 6 de outubro de 2009

Soneto da exaustão

Já não consigo pensar
Apenas sinto
Essa dor dentro de minha cabeça
Fazendo-me esquecer de todos problemas

Já não posso pensar
Não consigo aguentar
Cansado por natureza
Exausto de ser impureza

E nada muda, tudo é o mesmo
Tudo se esvai com o tempo
E logo eu esqueço

Esqueço desse momento
Dessa dor, desse soneto
Desse mesmo pensamento virado do avesso.