quinta-feira, 29 de janeiro de 2015

Ode à Assisterdã

Eu sou guerreiro da luz
Lutando contra as próprias trevas
E sou mundrungagem intensa
Nos voos e nas quedas

Pois em Assisterdã vivi, e sei da transmutação
Lá pequeno menino fui
Dentro de cada tijolo que lá dentro rui
Até virar um meninão

Lá naveguei nas mais intensas tempestades
E muito, como bardo, cantei
Junto de diversos músicos de e suas raridades
Compus harmonias que jamais lembrarei

Lá todomundo joga as coisas pra cima
Bate a cabeça contra a quina
E sai por aí a cantar
Prazeres de curta e de longa vida

Lá, Assisterlar!
Casa de viajantes destemidos
De Mundrungos remoídos
Aonde as paredes estão a gritar

Assisterjam! Instrumentos na sala
Assisterdã! Em todas suas palas
Os dois lados da moeda
Em uma só casa

Pois é estando dos dois lados
No mesmo lugar
Que aprendi que dá pra voar
Sentado no chão

Assisterdã,
Irmãos e irmãs,

Gratidão!

domingo, 11 de janeiro de 2015

Ao Querido Pé de Maracujá

Tínhamos um pé de maracujá
– nosso vizinho tinha –
Que deixava um dos seus braços em nossas telhas
E dava “olá” ao nosso quintal

Esta árvore em sua subversão
Nos dava frutos clandestinamente
E deixava uma sombra calma
Na janela de meu quarto.

Certo dia reparei em suas folhas
Um tom opaco
Olhei para detrás das telhas
E o pé de maracujá havia sumido

Fiquei triste naquele momento
Peguei suas ultimas folhas
E coloquei em meu tabaco
Para sentir o abraço desta árvore
Que sutilmente conheci

Em outro momento notei
Que poderia ver o belo Sol se pôr
Como não podia antes

Numa manhã, fui acordado pelo seu brilho
Que invadia meu quarto
E despertava o dia num sorriso

Observei na noite soturna
Luas plenas de graça
Estrelas e constelações,
Que por causa do pé de maracujá
Não havia fitado anteriormente

Na manhã púrpura de hoje
Agradeço ao pé de maracujá
Pelos seus frutos e companhia
Pois ainda posso sentir tua essência
Na fumaça de meu cachimbo

E aprendi que havia chegado a hora
De sair debaixo de árvore
Pois já era muito maior que sua sombra

E o céu era bem maior que nós dois

domingo, 4 de janeiro de 2015

Meu Silêncio Também é Poesia

Vim para cuidar do teu ouvido
Num canto macio neste papel
Massageando cada canto do seu ser
Transformando em mel o que era fel

Papel encanta quando toca
Que a gente dança no mesmo lugar
E a caneta, que mesmo toda torta,
É toda musical quando beija o olhar

E cada letra que sai dos meus lábios
Pode ter um toque de harmonia
Mas, consciente, às vezes deixo de lado

Pois o meu silêncio também é poesia

quinta-feira, 1 de janeiro de 2015

Tudo começa quando se vê com outros olhos...

Tudo começa quando se vê com outros olhos
Começa quando se quebra em dois, três, e quatro...
Começa quando se trocam os óculos
E quando ao invés de somar coisas a si, nudificamo-nos.

Tudo começa num sorriso, num desabrochar de flor.
Começa quando tem que começar
Em seu ritmo, tempo e prosa necessária,
Na velocidade certa,
Sem estourar o velocímetro
E sem causar engarrafamentos.

Tudo começa quando se cortam os cabelos
E se escreve poesia.
Começa quando os corpos se colocam em movimento
E as consciências em harmonia

Tudo começa quando as lágrimas finalmente escorrem
E quando se decide não responder violência com violência
Quando porcos espinhos se beijam, eles não se espetam.

Tudo começa quando se acorda preparado para o imprevisto
Com um sorriso no rosto e com uma sensibilidade que não derruba,
Mas edifica.

Tudo começa quando se observa um quadro e se vê além de um quadro
Quando se aprecia um pôr do Sol sem pressa.
Tudo começa quando se pode estar em silêncio
E não falando tanto que não se pode ouvir.

Tudo começa quando para,
Pois às vezes é preciso baixar a cabeça
E às vezes é preciso empinar o nariz

Tudo começa num doce acorde de violão,
Na batida coração do tambor
- Não bata em si mesmo, bata no tambor –
E não julgue a dança dos outros,
Mas dance de olhos fechados.

Tudo começa quando começa a se sentir
Começa a sentir o outro
E perceber que o amor,
Que por muitas vezes é tido como algo sexual,
É na verdade algo incondicional.

Começa quando se vê pessoas andando nas ruas,
Não objetos, máquinas.
Começa quando se sorri para um artista de rua
E coloca umas moedas no chapéu em troca deste sorriso no meio da metrópole.

Tudo começa se sente no peito
E quando o querer fazer
Simplesmente se torna em ser.

Tudo começa no amor de pai, de mãe, de irmão e de amante.
Tudo começa quando a alma não é pequena
E quando os abraços são maiores que as espadas

Tudo começa no amor

Pois é aonde tudo começou.