terça-feira, 28 de junho de 2011

Mosaicos e Paródias Do Canibalismo Secular

Vejo e beijo o povo como um bando de microondas lotados de migalhas podres, cheias de fungos... Naturezas mortas tão belas...
Da minha língua, nenhuma destas bitucas de cigarros apagados não-por-mim, saca, entende, ou comenta sobre...Língua de poeta ébrio, louco como dizem...
Só as línguas manchadas pelo etanol, pelo propinol, pelo tal-tal produto de industria farmacêutica que não sei nomear, que não sei dizer sobre... Línguas manchadas entendem línguas manchadas...

Serei a língua podre do difunto moribundo desbundando do caos e fazendo loucuras nas correrias das estradas e estradas e estradas que não fazem – nem nunca fizeram – tanto sentido... Como pena flutuante, diria, como bobagem que se diz e não se lembra...
Como ser um pedaço de universo, preenchendo suas lacunas com o blues do lacrimoso, o jazz do swingado, o folk do inspirado e a ausência do impiedoso...

Esses eletrodomésticos não calam a boca! Vivem com suas radioatividades baixas e tão letalmente inertes e irrelevantes...
Nem sequer me dão um câncer!
Me poupem do discurso pieguisse-sobre-pieguisse e igrejas e padres e jesus e nadas...
Diria que existe um murro na parede para cada tijolinho laranja que se prosta nas paredes góticas, romanas, postólico-romanas! Ou simplesmente venenos contemporâneos... Acreditem, são até piores que antigos...

O raio do sol sopra! Quero a ardência da estrada e o medo do efêmero novo...
Não a tortura do temperamento abafado das vidraças mosaicas, cheias de história e paródia clichê, que grelham carne em oitavo pecado capital ou nona sinfonia clássica do poeta surdo...
Arcadismos rendidos são a trilha sonora, claro...
Afinal, arte pela arte é coisa de gente louca...

Ajoelham-se como Madalenas prostadas à serviço!
Abrem suas bocas puras e recebem o canibalismo secular – de sangue e de corpo e de “espírito” –
Saem do ritual alegrinhos e chegam em casa de fígados sobrecarregados e culpas pesadas nas costas... E acabam ganhando algumas mais...
O ciclo se cumpre, periódicamente...

Oh! Me ponho a dizer: “Se é acrática a concepção, a única púnica culpa é justa!”

sexta-feira, 24 de junho de 2011

Heróis da Linha Torta

Meus heróis não usam espadas,
Nem armas impregnadas de pólvora.
Suas lâminas implacavelmente forjadas
Atingem o peito, sem demora.

Suas balas voam oníricas em asas.,
Atingem e queimam as vísceras da alma.
E vos peço que tenham calma,
Pois aquecem e ferem as impetuosas brasas.

Meus heróis não vem de exércitos nem de barricadas,
Não são guerreiros treinados por nada
Além das crateras e deformidades da estrada
Que se segue, se seguiu e se seguirá.

Estão nas mansões, nos sanatórios, nos bares...
E, solitários com seus cigarros,
Externam pedaços d’alma impares,
Compostos de lógicas, atmosferas, ascos...

Meus heróis são como coringas do baralho:
Bufões saltitantes sem função específica
Em meio a potências altas e baixas do carteado,
Sacados aleatoriamente para mostrar sua magia.

São instrumentos que ecoam no hall da vida,
Rendidos voluntariamente a seus músicos abstratos
Que os manipulam com certo carinho e certo maltrato,
E são mais conhecidos como poesias.

Meus heróis são mestres da polêmintriga
E não estão nem de um lado nem de outro da moeda.
Na verdade, estão bem longe dela...
Não observam através da lente... São lentes!

Não usam pentes,
São bagunçados alucinados.
São gente indecente, (in)fluentes,
Rochas crucificadas.

Meus heróis são artistas – da vida e do nada,
Ousadias que põem a mão na merda.
Malabaristas que engolem a ponta da espada;
Revolucionários, malditos e subjulgados
Por muitas lentes opacas-cegas que os observam.

Da Tela ao Céu Manchado

A tela colorida comeu meu cérebro.
Maquinou os sonhos e engendrou ilusões vãs cheias pus e poesia,
Rotulou minha nuca e me jogou num armazém sujo e cheio de ratos gotejantes...
Fiquei no galpão alguns meses...
Me alimentaram bem, me jogaram numa poça de gente estagnada...
Me cortaram pedaços, encheram de flavorisantes, conservantes, colorantes, e me vestiram
Com vestes de palhaço pra alegrar crianças com síndrome de down...

Rastejei, poça suja a poça suja, pra fora daquele galpão...
Aleijado, rolei pela grama e me enchi de coisas orgânicas...
Capenguei pelos etílicos, flutuei pelas nuvens branco-acizentadas...
Vi poeira e areia sintetizarem animais epiléticos palpitando em buracos rasos...

Rolei... Rolei por ai... Criei pedaços novos com papéis de jornal e papelão,
Virei uma salada de peças soltas – com um gosto agridoce temperado com ácido...
Aprendi a grunhir formigas... Depois peixes, tartarugas... Rosas artificialmente coloridas...
Até enfim vomitar asas que gritam violões para platéias mancas...

(...)
Vomito asas, alguns usam como muletas, outros como drogas...
...Alguns como deveriam ser usadas: Sem manual de instruções.