segunda-feira, 29 de março de 2010

O Contemplar Moderno

Porque vivemos nós
Na sombra alheia
De velhos gênios
Que já morreram?

Porque contemplamos
E não criamos?
Porque não existem
Contemporâneos gênios?

E reproduzem e discutem
Obras clássicas
De outra era.

E contemplam ao invés de ser
E relembrar ao invés de fazer
Porque tantos intérpretes e tão poucos poetas?

Equilíbrio de Miséria

Talvez as alegrias e misérias
Deste mundo, estejam estas
Colocadas em uma infame
Balança adulterada.

Pois a alegria de um
Sempre será a miséria do outro.
E não há justiça
Há apenas equilíbrio.

Talvez estas alegrias sejam
Espectros raros, limitados
A vagar pelo cotidiano
Atingindo e fugindo dos seres.

Talvez a tristeza seja
A ausência de uma alegria
Que poderia ter existido.

Ou talvez esta seja
O sentimento que dilacera o ser
Por lamúria, por dor...
Ou simplesmente
Por razão nenhuma.

Porém tudo passa
Tudo se metamorfoseia.
E definitivamente esta é a beleza
De existir nesta trajetória
De infortúnios e sorrisos.

Nada é eterno
Algumas circunstâncias apenas
Demoram a evanescer...
Outras foram apenas
Ilusões peculiares
Que nunca existiram.

Observação Dialética

Ilusões onipresentes na existência
Pois é inconstante o identificar
Das falsas verdades perante a peculiar realidade.
Afinal, uma falsa verdade
Não deixa de ser uma verdade.

Que sejamos bons omissores
E não mentirosos.
Pois a mentira reflete o algo falso,
A omissão é apenas estratégica.

Essência Fúnebre

Tão visível a essência da humanidade
Diante de teus simples e irremediáveis olhares
Pois nada é mais sincero
Do que a expressão súbita de sua face.

A simples e complexa essência humana
Tanto na frieza do raciocínio lógico
Quanto na incendiária emoção alheia.
Caracteres planos e esféricos
Recaem sobre nós.

Tão visível a alegria débil
Do início da existência.
O olhar alegre e alienado
A pureza da inocência
Da faceta de nossa fase mais primitiva
E animalesca.

Tão obstinado e inflamado
O grito e o olhar da juventude.
O primeiro questionar, o primeiro rebelar.
O primeiro grito junto de sua metamorfose.
O essencial desejo de expressar.
O ocorrer de suas primeiras simples mortes...

E começam a surgir os primeiros detalhes
As primeiras formas em sua escultura existencial.
Como o lapidar do granito
Nas mãos do escultor.

E entra em contato com a complexidade
Do sentimento em si manifestado.
Aprende-se a odiar e a repudiar,
A amar e a fazer,
A ser e estar.

E vagamos piamente
Em verdades que se tornam desilusões,
Em sonhos que se tornam tangíveis,
Em pesadelos que são passados para trás...

Encontram-se tesouros e armadilhas
Perdidas em nossos atos e desejos.
E se dá o nome de vida
Ao existir infatigável.

E corremos e corremos
Em busca de ambições e metas
Encontramos ombros amigos
E punhos alheios.

Pois pisamos em cabeças
Nesta estrada desertificada.
E somos pisados
Na ausência presente
Desta mesma estrada.

E se perde nossa vitalidade
Com o passar das estações.
Apodrecemos e caímos aos poucos
Como folhas no outono
Entre o doce e o amargo.
E o que mais fazemos
Além de morrer?

segunda-feira, 8 de março de 2010

Lágrima Brilhosa

Nossa bela harmonia
Regada de graça e irresponsabilidade.
Nesta tão bela noite fria
Teu sorriso me ilumina na escuridão.

Tua face ebúrnea, tão linda
E teu astucioso olhar
Me enfeitiçam, me alegram,
Me levam para longe daqui...

Longe, onde nada possa nos importunar.
Longe de tudo, de todos
Onde possamos estar
Enfim em paz, enfim a sós.

Livres para deleitar
De nosso tão agradável
Diálogo poético,
Pois tu, para mim
És uma bela poetisa.

E eu, livre, para deleitar de teu tão doce beijo,
No fechar de meus olhares...
E ao abri-los, surpreender-me alegremente
Ao apreciar tua tão bela face.

Surpreender-me por estar ao teu lado,
Desvendando teu doce beijo,
Na harmoniosa atração de nossos corpos.
O desfrutar de nosso proibido desejo.

E o prazer de entrelaçar
Teus braços aos meus,
De acariciar o castanho macio
De teus fios de cabelo.

Nosso romance vampiresco
Entre mordidas e risos
Faz o florescer em meu ser
A alegria que eu havia esquecido.

Livres em nossa longa noite isolada
Como envoltos em uma esplêndida fantasia.
E quem diria,
Em uma noite sem expectativa
De grandeza pressentida
Surgiria a beleza improvável de nosso romance?

E, subitamente, o quebrar de nossa fantasia.
Você é lavada para longe, de volta.
E eu remanesço aqui nesta noite fria.
Em um despedir frio e oprimido
Teus olhos transmitem preocupação aos meus.

Tu vais, e deixas a esperança de que
Este não seja o último capítulo
De nosso tão gracioso romance.

E deitarei ao meu leito nesta manhã
Com meus olhos ansiosos sob ti.
Nostálgico em minha recente memória
Da doce beleza de tua lágrima brilhosa.

[26/02/2010]

Seres Sem Sombra

Marionetes mecanizadas
Sistematizadas em hipocrisia
Para futilidades programadas
Meras existências sem poesia.

Ridículas e fatigadas
Movidas pela mão da mídia.
Alienadas e desorientadas
Impostas a uma ilusão qualquer.

Sustentam a modernidade
Como se nada estivesse errado
Como se houvesse igualdade
E não houvesse nem sequer
A existência de um simples miserável.

Malditas sejam vossas cabeças de vácuo.
Seus olhares vazios
Envenenam e apodrecem
Parte da existência alheia.

Adoecem o ambiente em que vivem
Exalando o odor fétido de uma hipocrisia demasiada.
De um moralismo ridículo e retrógrado
Com uma miséria anti-intelectual.

Tal moralismo alienante é inconcebível
Pois jamais existiu nesta inconstante realidade
Um intelectual sóbrio e sem contato com a onírica loucura.

Faz mais sentido ser saudável em doença
Pois a sociedade é uma doença mascarada.

Pobres dos doentes, sóbrios e lúcidos,
Estes sim são os insanos imbecis.