domingo, 30 de janeiro de 2011

Estátua-Viva

Estática graça sólida
Dentro desta multidão vazia,
De dinâmica alienante
E cegueira.

Tu ocupas um espaço
Dentre estas ilusões efêmeras.
Tu és certeza diante da inconstância
Mecânica destes cânceres urbanos.

E quando me apego
Ao desejo de teu agrado, tua graça,
Compro teu sorriso com uma pequena moeda
Na lata em teu fronte.

Abre os olhos e me dá meu sorriso comprado,
E faz graça, e dá vida e alegria
Jovial a um velho frígido corpo
De estátua de bronze.

Se abana com teu leque,
Lentamente retorna a sua pose
E adormece, e morre...
Torna-se paisagem,
Cenário ao invés de personagem.

E tudo retorna ao nada,
Ao início de nosso súbito
Encontro-relâmpago nessa avenida...

Espero que as moedas sejam suficientes
No final do dia.

domingo, 9 de janeiro de 2011

Alma de Poeta

Alma de poeta não é coisa bela
Maravilha, beleza a se desfrutar pelo olhar.
Alma de poeta é coisa ferida,
Machucada, dilacerada,
Gotejante em sangue
Pelo verbo sentir.

Pois poeta que é poeta
Se entrega ao sentimento,
Rasga o coração
Sente a dor, a desilusão
Bater implacavelmente no peito.

São seres que se perdem
Nas margens e miragens da ilusão.
Esvaindo-se, admirando-se
Nas bocas da paixão.

E tantas, e tantas... E tantas
Lágrimas derramadas pelo chão.
Tantas agonias, tantas alegrias
Gritadas desesperadamente no papel...

Não, alma de poeta não é coisa bela não
Pois o que há de beleza escorrida
Em tal específico tipo
De intangível criatura perdida
Não é alma, não é o poeta,
É a poesia.