terça-feira, 27 de dezembro de 2011

A Balada Do Poeta Ébrio II (Grito!)

Grito pelas poesias paraplégicas que não conseguem andar com as próprias pernas.
Pelas máscaras trincadas e manchadas de suor e sangue de poeta.
Gritos às margens da ilusão da liberdade marginalizada.
Grito porque não sou um homem-máquina!

Porque sinto, não dor, mas luta.
E grito enrolado, em voz distorcida, ébrio da bela arte que proponho a mim!
Da arte que sou e que faço de meu ser.

E as coisas continuam as mesmas, embora não pareçam.
O outdoor na rua mostra apenas uma sutura superficial, opaca e substituída a cada semana
Dentro d’um efêmero movimento de ferrugem.

Lubrificados por ilusões que desviam os olhos secos,
Os estáticos globos de glóbulos que já nem tentam lutar contra uma patologia viral estampada na face.

Tendem a não notar o que está como trapezista, malabareando na ponta do nariz.
É o palhaço maquiado em pixels, na tela plana de alta definição.
Eu grito contra ele! Eu jogo a caixa colorida pela janela!

Eu grito porque sou artista, e não tenho escolha.
Grito porque sou poeta!
Tentando me libertar e levando quem eu conseguir com a voz rouca de tanto soltar fumaça.

A decadência reflete apenas o sangue que ainda não se coagulou.
É a prisão! A frustração trancada no sótão das casas de classe alta.

Não sou rei, não sou peão. Nem cavalo e muito menos bispo!
Estou chocado neste jogo de tabuleiros.
Estou aqui quebrando peças enquanto me julgam de louco, tentam me medicar, chamam de patologia meus devaneios.

Grito porque anseio, e carrego no profundo do seio da amante,
Nas olheiras e nas letras adiante, o fogo tenro que aquece o peito.

Eu grito porque sou artista, e não tenho escolha.
Grito porque sou poeta!
Tentando me libertar e levando quem eu conseguir com a voz rouca.

quinta-feira, 22 de dezembro de 2011

A Dona De Meu Zelo

Só te peço para fazer estrelas para enfeitar meu céu.
Dos teus pequenos feitiços raivosos, insensatos como as minhas atitudes,
Não posso dizer que sou o único réu.
Mas sou poeta tentando desvendar o carinho das tuas redes de féu.

Tentando explorar teu sangue meu,
Derramado no breu de algo incompreensível,
Desvendo o visível paradoxo do oco.
Ecoam os gritos dentro de si.
Não poderíamos nascer um para o outro,
Pois tu és escudo enquanto sou arma a disparar em desatino insensato!

Frutos pútridos do absurdo
Que nutrem a terra ao queimar de pleno Sol.
Queria olhar para os teus olhos soturnos,
Eles que são o canto para os surdos;
A dança dos paraplégicos;
O caminho indeciso do frevo d'um carnaval que não chega.

Encontro teu olhar na perdição de teus cabelos curtos.
Tendo a tentar entender porque não podemos,
Nós almas perdidas na madrugada,
Olhar nos galpões das inexistentes galinhas.

Queria ter as tuas lentes coloridas!
Queria dizer sem nenhuma vergonha corrompida
O quanto prezo o zelo e tento
Com os olhos falar.

Gritar lágrimas,
Chorar versos
Só para tentar escutar as emoções tímidas
Que murmuram carícias e socos em meus tímpanos
E caixa torácica.

Discretamente em exaspero
Tento ver teus olhos castanhos no espelho de meu desespero.
Tento dizer o quando disto e daquilo que já disse,
Dos desencontros e de nossos apocalipses,
O quanto tu és preciosa,
O quanto prezo o preço da dona de meu zelo.

segunda-feira, 19 de dezembro de 2011

O Homem-Garrafa

Os dentes que batem contra o espelho
Que se quebra em cacos de anseio e martírio
São apenas da boca que não consegue ser boca.

Mastigam a cabeça como a de uma garrafa atacada por um saca-rolhas.
Libera-se na pequena explosão o etílico
Que embriaga o peito, molhando o rótulo úmido em imperfeito desfazer.

Ele era uma bebida lacrada, gasificada rolando no porta-malas.
Aguardando um toque sutil para entrar numa erupção de lata.
E toda coisa contida só daria no mesmo resultado:
Um champagne aberto por uma espada.

Era um homem-garrafa, explodindo sem tampa, nem anel, nem rolha, nem nada.
Uma dose destilada sem gelo que descia goela abaixo
Queimando o peito derradeiro.

Era o anseio que batia nas portas do crânio sem tocar a campainha.
E mais uma vez o homem-garrafa explodia...
Suas palavras não eram como champagne na taça de cristal, não eram harmonia.
Eram como a garrafa de vinho quebrada num bar no início de uma briga:
Armadas de silêncio forçado de vergonha alheia adquirida
E da violência pressentida nos olhares que tendiam a participar e assistiam.

Inconveniente como ir ao bar ao meio-dia.
Seu mecanismo era o de um copo cheio no meio de uma pista de dança:
Preenchido temporariamente para ser derramado na vida.

Ele era apenas uma garrafa vazia jogada na avenida.
Utilizada várias vezes como recipiente de diversos tipos de bebida.
...

Era apenas um frustrado recipiente de ideologia,
Fadado a ingerir todos aqueles paradigmas
Para vomitar em tipografia dentro d’algum outro copo o mesmo tópico...

Tudo destilava e batia cacos de vidro e cristais em ritmo de ópio,
Lentamente sufocando as lentes manchadas dos óculos.
Tudo se tornava ébrio,
Uma centelha acendia a garganta inflamada
E não havia como sentir nada,
Tudo recomeçava...

E ele estava tão cansado de andar na mesma estrada...
Adicto de culpa por não ser bebida legítima.
Bravejava diante tudo e todos,
Gritava para o mundo
E era pouco.

Pois gritava somente para si.

segunda-feira, 5 de dezembro de 2011

Concepção Deformográfica

Grita cálido com a face perdida.
A máscara trinca, a armadura se desfaz em cinzas...
E todas aquelas criaturas de carne, olhadas a olho-de-lupa,
São grotescas e egoístas...

Agora, a verdade é apenas um pedaço de realidade.
Uma mentira análoga às mentiras que pairam sob a tácita lente suja.
Esta tenta refletir uma luz cândida, tenta dar asas aos vermes
Que pairam sob a merda... A luz queima como lupa sob o sol.

Os vermes queimam em desgraça,
É visível apenas a carcaça deformada,
Exótica à real concepção.

Iluminam a informação com luz suja,
Transforma-se o único em holístico, o ego em absinto...
A máscara trinca, a armadura se desfaz em cinzas...