quarta-feira, 25 de julho de 2012

Brasa


Era tudo e nada.
Um paradoxo infame,
Infante, juvenil e senil,
A ponto de bala,
A ponto de explodir a casa.
Cada pedaço de madeira era como uma farsa.

Era tudo e nada.
E o cinzeiro gritava na fumaça.
Coisas de vidro quebrado
E de vinho tinto na taça...

Era tudo e nada
Como o pranto na praça.
Como o bêbado alegre em sua feliz lástima.
Como o junkie na picada de agulha
No agudo da dor instante que passa.

Era tudo e nada
E ele olhava para o chão de paralelepípedo de graça...

Era tudo?
Era nada?
Era só ferro em brasa.

segunda-feira, 23 de julho de 2012

As Flores de Julho


E os prantos e os tantos trancos dos barrancos
Atacavam as retinas, entravam por todas as vias
Num viés de artilharia.
Eu olhava para o vento do inverno que enfeitava minha face...
O rosto retorcia.

Um cigarro na varanda, as estrelas me encarando.
Eu olhava a epopeia de você.
Um beijo de nicotina na madrugada fria
E minha cicatriz gigante de agonia...

A garrafa me batia e eu bradava aos céus;
Gritos-fumaça passando pelos véus,
Um riso-lágrima de solidão...
O toque pálido da manhã
E eu estava ali com você e sem você...
Eu acreditava nas flores de Julho que estavam a nascer...

Estavam a morrer.
E eu vendo os pedaços queimarem
E essas coisas bonitas que me habitavam fugindo à francesa.
Bebendo das águas de um oásis que partia
Das terras partidas nas areias deste deserto...


Era uma miragem do inverno dizendo que
Por um segundo, no interno pálido do peito,
E da neve,
Nasceu uma flor sozinha que olhava para o céu.

A flor sonhava ser estrela no teto,
Ornamento de papel
Para acariciar os olhos antes de dormir.

Sonhava em ser favo de mel
Para massagear a garganta boêmia
Tão lânguida e cansada de tragar do vazio.

A flor era torta e tinha a graça de um vinho envenenado.
Era triste de desesperada.
Era errada, mas existia,
Respirando com dificuldades asmáticas...

E ela morreu antes de desabrochar,
Ela morreu, pois o inverno jamais haveria
De deixar nascer uma flor sozinha
Perdida, sem Sol e sem ar.

Todos sabiam que tal flor não vingaria.
Mas ainda sim a regavam com um afeto relapso.
E ela mancava internada na UTI,
Morta-viva, zombie.

Eu acreditava que as flores de Julho iriam surgir.
No lugar errado, na hora errada...
Era um erro errante pronto para partir
E uma esperança em pedaços
Num saco de plástico de uma mala
No fundo do armário.

E as lágrimas que a regavam secaram
Antes da alvorada bela.
E as flores de Julho nunca nasceram
E nunca foram esquecidas
Por toda sua graça
Mesmo antes da primavera.

quarta-feira, 18 de julho de 2012

Carícia de Alicate


Somos abençoados por máquinas-escravos
Que nos escravizam.
Donos do anseio calado,
Desejos mal-abastados,
Frustrados e afogados diante de um comprimido.

Vítimas fúteis,
Tragédias gregas em queda constante
Como vidraças no chão de um asilo.

E o que há de sórdido nisso?

Eles, incontentes, criam muletas
Para produzir e reproduzir em série
Mais algumas muletas.

Receptáculos em vias,
Mecanismos para nos dar um amor de plástico,
Para que possamos dormir e acordar
Todo dia, Todo dia, Todo dia...

Os antidepressivos,
Os analgésicos da realidade,
O carinho frio do abraço-alicate da máquina.

Certa vez me perguntei por que eles estão tão sozinhos,
Levando a solidão para a cama.
Porque tão quietinhos
E tão perto da lama?
E pra que tanta solidão
Se estamos tão perto do Japão?

Estão tão próximos e tão longe de si próprios.

Tic Tac, Tic Tac!...
O ungir da engrenagem bate e rebate
Lubrificando o regime da fome sem clemência.
O olhar da lente fria,
Da câmera divina divide em série o afeto perdido
Em pequenos biscoitos baratos
A serem engolidos.

É o mercado, o mato, o pasto sem plantas.
O mito de comprar o mito e consumir o mito.
E ser o feto chupando uma placenta de flavorizantes
Diante de um bando de niilistas reai$.

E se eu amar a obra alheia?
Um pequeno retrato, uma foto de 3 por 4
É um sorriso que não existe.
Abraçar o ursinho é só um carinho de vitrine.

Estamos amando essas coisas sósias de humano.
E somos substituíveis diante dos olhos metálicos
Deste eterno oceano de fetiches.