quinta-feira, 26 de dezembro de 2013

Malabarista Brasileiro

Eu olho pra cima,
Eu jogo tudo pra cima
E vejo tudo cair.
Eu pego,
E solto
E corro
E vôo
E vejo tudo de novo!

Eu olho o palhaço e o vejo sorrir.
Porque malabares é feito pra cair.
Na humildade de se abaixar e pegar e levantar,
E Malabarista é feito pra voar!

Reconhecer a queda de sempre e de nunca.
Belo é aquele que não tem medo do ridículo,
E ridículos somos todos nós.
Ridículo é quem não joga pra cima,
Como tantos brasileiros, poetas e poetisas!

Porque ridículos somos todos nós
E a queda é artifício,
É ofício de existir
Que faz o riso contestar da vergonha
E põe sorriso até na cara de ouriço
E de cegonha

Para que a plateia clame com graça
Quando o nariz vermelho brilhar
Na esquina do acaso
Em cada semáforo, em cada praça
Um colorido abraço.




Dedicado à poetisa da selva de pedra,

a malabarista que me ensinou a malabarear
Dany La Chérie

Cai o Pano

Fim de ano
Cai o pano
A peça continua
Os personagens encantam.

Fim de ano, Hermano!
E tudo se esvai,
Como os ponteiros batendo,
A poeira correndo,
E eu aqui existindo
Em tantos tempos contra-tempos,

Se a roda do ano pudesse dizer
Em quantos dias vivi
E quantos dias nem cheguei a ser
Ela beijaria meus lábios tácitos
Dizendo: Tudo bem poeta,
Pode crer.

Pode ser,
Porque de um mês passam-se anos
De um dia, meses
E eu não me engano
Quando o relógio diz pra parar

Eu digo: Me encanto!

sexta-feira, 20 de dezembro de 2013

Ao tirar os óculos escuros...

Ao tirar os óculos escuros,
Ao escutar sem fones de ouvido
Observo o Sol que dança
E percebo que plenitude, completude,
Não tem nada a ver
Com as duas metades da laranja.

Vejo em eu meu, meu eu
- Que as vezes nem é tão eu -
E chego a conclusão de que pleno
É quem escuta o coração.

E a ideia de ser pleno
Não estava perdida,
Ela estava aqui dentro
Lutando contra a monotonia

E eu sou inteiro,
Não preciso de metade.
Eu sou inteiro
E sou infinito.
Pois por ser inteiro,
Vejo o mundo como multidão,
Multidão em grito
Que se torna um só.

Eu sou inteiro grito,
Pois estou apto a absorver tantas vozes
Como o infinito...

Sou grito e agrego
Todas as vozes do mundo
Dentro do bater em meu peito.
Ser inteiro é ser grito

Caotico em belo devaneio.

Dedicado à Tássia Corrêa

terça-feira, 26 de novembro de 2013

Maré de Ser

Jogar teus pesares no mar
E ver amanhecer uma nova perspectiva.
Coragem para olhar ao horizonte.
Amor para existir.
Navegar é preciso...
E não se trata de bússolas de precisão...


... O preciso não é tão precioso,
Não há aventura de antemão.
Nado as vezes nada,
Nado as vezes em mares de solidão.

Quero ser gota no meio do mar,
No profundo do mundo.
Quero ser rascunho rústico de obra de arte sem fim,
Poesia de amor para todas musas e musos.

Para isso é preciso se afogar,
Naufragar com o navio inteiro
E sobreviver.
Despontar na guinada de uma praia deserta,
Desvendar novas terras,
Num novo mundo que engolirei,
Que irá me engolir...

Navegar é preciso,
Existir impreciso.

segunda-feira, 11 de novembro de 2013

Outono

É preciso podar a si mesmo,
Arrancar pedaços e deixa-los na estrada.
É preciso que a ferida cicatrize,
Caindo-se as cascas.

Que caiam os pedaços podres do eu,
Pois estes já não servem.
Para sobreviver ao inverno
É preciso encarnar a planta seca
E deixar que o resto se desfaça no solo.

Para resistir a ventania
É preciso desapegar-se de si.
Uma árvore de outono não está desprotegida,
Está se tornando cinzas
Para renascer escarlate brilhante em chamas.

E a queda de cada pedaço irá doer agudamente.
Cada unha, dedo, mão, braço,
Todos os pelos e fios de cabelo,
Cada olho, lábio, dente, orelha,
E restará o tronco, o peito dolorido e paciente.

E na sabedoria das árvores,
Na filosofia do outono,
Florescerá uma nova poesia

Para desafiar a roda do ano!

quinta-feira, 17 de outubro de 2013

A Ultima Dança de Zaratustra

Zaratustra está morto!
E hoje o céu chora.
Mas as coisas acabam,
E Zaratustra devia morrer,
Nós o matamos.

Damos adeus a ele em nossa ultima dança
Para dizer que o mundo é grande
E a espontaneidade é bela!

Damos adeus com belas oferendas,
Dança, suor, poesia
Músicas, poemas!
Parindo novíssimos artistas,
- Alias, melhor ainda -
Parindo belíssimas estrelas que brilham no céu da estrada.
Astros cada vez mais livres para flutuar sob o universo.
Flores de outono que cantam primavera.
Florescendo e morrendo
Na imensidão...

Pois o Sol se põe
Para brilhar na manhã.
E a Dança de Zaratustra brilhou
E brilha em nós!

"Pra que rimar amor e dor?"
Zaratustra voou
E deixou a Terra do Nunca mais colorida.

Solta!

Solte-me! Me solta!
Porque a vida é uma piada
Porque a vida é uma estrada
A se caminhar sem destino!

Porque a vida é uma esquina,
Uma guinada,
Uma delícia sem sentido!

SOLTA-ME! ME SOLTA!!!!
Porque o amor,
- meu amor, meu querido, minha querida -
O amor
É infinito!!!

quarta-feira, 25 de setembro de 2013

Dragões em Flor

Nasce a primavera,
E depois do peso seco
E de todas as crateras,
O rio corre, caindo pela serra

Esta primavera parirá dragões em flor.
Florescerá torrencial em chamas belas
Com a potência de uma cachoeira
Que molda a pedra numa graça indolor.

Nascem nascentes serpentinas,
Correntes macias acariciam os braços dos rios...
E as pernas, e a nuca, os lábios e todos os fios de cabelo...
Correndo correntes, caminhando em direção ao infinito do mar.

Movem moinhos que se tornam hélices,
Que nos dão todo o direito, dever e devir,
De graciosamente flutuar
Diante das cores vivas

Diante de um Sol que respira em meus poros,
Olho o céu aberto. Olho: Céu aberto...
Flores em meu rosto, folhas e espinhos,
E vinhas, e vinhos em linhos tecendo ósculos.

Floresço em mim e em todas as flores do meu jardim.
Meus amores e amoras são rios que se encontram
No movimento desta corrente,
Metamorfoseando-se, mutantes,
Em direção ao mar.


Em direção ao infinito.

domingo, 15 de setembro de 2013

De Reneide à Carlota Carlotinha

Mulher forte e linda que me inspira
E me faz rir com a força do mundo.
Mulher malabarista,
Sincera e convicta ao jogar tudo pro ar.

Amo-te como as águas do mar de Lagoinha do Leste.
Como a poesia nas areias desertas.
Corro como um caderno inspirado voando para o mar
Com minhas pernas voadoras no meio da estrada.

Desejo-te tanta poesia que não cabe num soneto,
Tanta graça que não cabe num nariz de palhaço
E tanta audácia que não cabe num jogo de claves!

Desejo-te muita inspiração, muita criação e transformação
Pois o mundo é pouco,
Muito pouco para quem tem pernas para voar!

Eu te amo!

Dedicado à minha querida Carla Teixeira

sexta-feira, 13 de setembro de 2013

O Ultimo dos Moicanos

O Ultimo dos Moicanos, dos grandes guerreiros
Não é forte pelo braço, pelo machado.
É cheio de coragem, mas não para matar.
Coragem para fazer viver, para fazer sorrir.

O Ultimo dos Moicanos empunha uma caneta
Em defesa de sua arte celestial.

O Ultimo dos Moicanos é guerreiro-poesia,
É um grande poeta
Dançando ao redor da fogueira da vida!


Dedicado ao grande poeta moicano Cássio Oliveira José

A Distância do Mundo num Poema Curto

A grande distância entre eu você
Está em um simples "Oi!".
Num simples "E aê!".

quarta-feira, 14 de agosto de 2013

Meu Poema Caiu no Chão

Meu poema caiu no chão
Quando leu as manchetes dos jornais.
Caiu no chão quando ouviu os sussurros
Vindo das casas pau-à-pique, de pedra,
De madeira compensada, de papelão,
De sacos plástico, de telhas esburacadas...

Meu poema gritou de susto
Quando respirou gás lacrimogênio e ficou com o peito e olhos em brasa,
Quando acertaram um tiro de borracha na cara
De uma jornalista
E viu um policial em chamas de molotov.

Meu poema urrou de agonia e medo
Quando Amarildo – assim como vários outros- sumiu
Na espuma da baba de cães raivosos com raiva
Encoleirado por sua tão pura higiene mental.

Meu poema vomitou várias e várias vezes
Após beber inúmeras garrafas de cachaça,
Conhaque, vodka e vinho barato;
E fumar inúmeros baseados,
E cheirar inúmeras carreiras de cocaína,
E mergulhar no ácido
E no tesão sintético.

Meu poema chorou
Quando caiu o nariz do palhaço
E a risada acabou.
Quando o malabarista derrubou seu chapéu
E as moedas tilintaram no asfalto.

Meu poema sentiu vergonha de si
Quando leu “Omissão” de Ferreira Gullar.

O meu poema pulou de alegria e esperança
Quando viu os universitários em greve
E o povo nas ruas gritando e clamando por
Justiça e dignidade.

Meu poema sangrou quando a mídia nos engoliu;
E quando nossos militantes foram detidos
E as toalhas, blusas, calcinhas e pertences de nossas militantes
Foram gozadas.

Meu poema sangra cada aborto que mata uma mulher,
Cada estupro,
Cada violência sexual.

Sangra cada assalto e cada reintegração de posse.
Cada usuário de crack na Estação da Luz
E cada calafrio de uma criança em situação de rua
Descalça no asfalto da madrugada.

Sangra cada gay, travesti, transexual que é espancado,
Dentro e fora dos holofotes.

Meu poema sangra e grita,
Mas como dizia Gullar:
“A poesia é rara e não comove,
E não move o pau-de-arara”

Mas meu poema grita e sangra
Batendo dentro do peito
Como uma impiedosa alfaia.

Meu poema nada fora da raia
E não é o suficiente.
Mas meu canto e minha dança,
Meu corpo insaciável,
Ocupam o espaço.

Meu poema é amor, tesão
Ritmo e compasso.
Tentado transformar cada pedra de cascalho,
Em conchas de mar
Numa praia aonde

Qualquer um possa nadar.

domingo, 28 de julho de 2013

À Batom Vermelho

Uma graça, maravilha experienciada, vivida na loucura destas casas...
Nosso beijo é como um dançarino e uma dançarina.
Separados, são o que são.
Juntos são poesia.
São o dilema térreo que me faz sorrir,
Vivência que estava guardada na memória, de invernos que já passaram por Assis.

Teus pequenos lábios, graciosos, ousados e recônditos,
São armadilhas pontuais.
Teu sorrisinho, riso, graça,
São pequenas surpresas,
Epifaniazinhas que assisto iluminar a noite ébria.
Tua pele macia, rosada de frio e de estrada...
Desperta em mim um carinho arriscado.

E mesmo, tanto depois de invernos em invernos,
Da evasão, perfeição, riscos e trincos do coração,
A poesia que existe nesta dança,
No frio e no silêncio da noite,
Remanesce como uma obra de arte preciosa a ser apreciada.

Nessa epifania escondida e maravilhada,
Retira-se a obra do museu,
E a coloca, com todo carinho sujo,
No meio do caminho, no meio da estrada.
Para mostrar para a noite, que,
Embora evasiva, clandestina, fugitiva,
A nossa dança é
A poesia escrita à batom vermelho,
Dançando na noite fria,
Gostosamente sublime

Como um delicioso devaneio.

quarta-feira, 17 de julho de 2013

Cão do Estado

Como se sente um cão do Estado ao ser questionado por um estudante da militância?
Como se sente um cão do Estado ao invadir e depredar uma ocupação legítima?
Como se sente um cão do Estado ao representar a intransigência, a ignorância e a falta de diálogo daqueles que se escondem atrás de uma mesa de escritório como se esta fosse uma fortaleza de silêncio?
Como se sente um cão do Estado com sua cara fechada, tirando onda com militantes que, com muita luta, muito cansaço e determinação tentam mudar a educação desse Estado e enfrentar sua ordem vigente?
Como se sente um cão do Estado ao bater em estudantes, homens e mulheres, sem nenhum escrúpulo?

Cumprem ordens, eu sei...

Incrível a habilidade apática destes cães.
A habilidade de ignorar todas as questões sociais para ser um peão mantenedor do status quo!
As vezes acredito que é através do ódio e a da repressão que estes cães conseguem dialogar.
É através do sequestro, das bombas de gás e dos cacetes que eles conversam!
Que língua vocês, filhotes de tucano, aprenderam a falar?
E eu seu filhote, aonde irá estudar, cão do estado?

Quando a universidade for completamente sucateada e privatizada,
Você não terá dinheiro para pagar pela educação de seu filhote.
Ele não terá acesso a bolsas de pesquisa, extensão ou de auxílio sócio-econômico, coisas que vocês julgam regalias;
Ele não terá moradia de qualidade, se tiver moradia...

Pelo o que lutas, cão do Estado? Pois não lutas pelo povo e muito menos por você e pelos teus!
Lutas, cão do Estado, por aquele que é seu dono,
Aquele que lhe joga migalhas para comer de cima de um palanque,
Que lhe serve a miséria com talheres de prata e mesa bem posta.

Acordai cães do Estado! Juntai-vos e componha conosco uma transformação da realidade!
Pois aquele que te manda reprimir nas ruas e matar nas favelas sempre o deixa com fome

E um cão com fome somente consegue demonstrar raiva!

quarta-feira, 3 de julho de 2013

Guerreira

Na tua face ebúrnea encoberta
Sua revolta sua cada vez mais bela,
De traços faciais recônditos,
Em meio a fumaça ardente que cobre as ruas.

Aprecio o sorriso largo, às vezes tácito,
Com covas discretas;
Que foge ao lenço
Em olhares e ironias,
De curtos momentos.

Olhares fulminantes,
Voz rouca que grita às misérias.
Braços poderosos que rangem às alfaias
E lutam com ideias.

Aprecio-te, graciosa à margem.
E teu grito convicto e impiedoso,
Com toda a certeza de uma mulher guerreira,
Com toda dor de uma mãe
E paciência de uma parteira.


Vejo em teus olhos e posturas
A chama de uma consciência de nobre plebe
Que rompe com diversas conjunturas,
Com a incongruência da sede.

Ébria tua postura,
Ébrio teu grito,
Libertário e esperto.

Ébrio, porque liberta fora de rito,
Porque quebra o velho mito
De que mulher é um bicho obediente e quieto.

Forte e salamandrico o teu sorriso recôndito,
Pois é como chama vermelha dançante,
Incitando o caos e a revolta,
Debaixo do lenço a graça
Que derruba livros da estante.

E sinto brio e orgulho
De dividir espaço ocupado contigo;
Ao lado de um espírito livre
Que elucida a destruição
E a construção com fúria e paixão.

E se eu tivesse o teu impiedoso grito
Em minha mão,
O jogaria diretamente,
Temperado com vinagre,

Sobre uma multidão.

terça-feira, 2 de julho de 2013

No Meio do Eu-Nada

Quando os pássaros cantam
Meus olhos queimam.
Sentir o grande esplendor da náusea
Dá vontade de vomitar existência ou
Qualquer clamor por resiliência!

Vontade de expelir pelos poros e
Pela boca através
De uma vontade louca,
De uma vontade rouca,
De uma vontade que é pouca
De sangrar e sangrar todas as ideias
Das ideias todas!

Das ideias tolas
De um riso do olhar silencioso.
No meio do samba,
É Aquele olhar que chamam de tonto.
No meio da festa aquele gingar
É um débil bate-estaca de palhaço.
No meio da existência aquele
Passo sozinho e anestesiado.

Para parar,
A voz ignota no bar está a amar com o olhar.
Pois no meio desta tempestade etílica,
No naufrágio de cabeças leves
Nas ondas violentas a conspiração de uma dúvida:
Ainda amar?
Ainda há mar?

Ele tenta ver entre o pulso e a faca,
O acabrunhante amanhecer e o insight obscuro.
Os olhos encima do muro,
E a dor solvendo quente na nata.

- Sou poesia em tempestade sem mar.
No meio do deserto,
Eu clamo por
Iemanjá em desalento.

- No meio do eu-nada
O meu camelo nada.
No meio do eu-nada
Eu sou um pequeno pirata.

- No meio do eu-nada
Meu valor é baixo,
Eu não valho nada.
No meio do eu-nada
Eu sou pedaço de trapo mutilado,
Perna de pau, olho de vidro e nariz de palhaço
Mancando na estrada.

Fugindo de existir
Para tentar existir
No meio desse devir
No meio do eu-nada
O mundo irá mastigar,

O mundo irá engolir...

segunda-feira, 1 de julho de 2013

Soprano Soturno

Tô aqui só,
Sobrando no meio do ar,
No meio dum quarto sem lar.
Num violão em acordes de dó.

Com dó, sem dó,
Tô aqui sobrando,
Soprando o pó
Da sala sozinha,
Do quarto, da cozinha,
Sem amor no meu paletó.

Tô aqui na tela manchada,
Vazia e soturna.
Cantando em soprano
Abafado ao lado de um trago,
No meio do mar, no meio do mato,
Na estrada inacabada

Ao lado do gato preto,
Quebrado e vadio,
Quebrando espelhos
E rasgando pensamentos.

Tô aqui num nó
Dentro do peito.
Bem do lado esquerdo
Havia uma bomba explodindo
E disparando pulsos inesperados,
Desespero, desesperança,
Não espero oferta além da demanda

Te vejo e te quero
Como alguém quer uma faca no peito,
Como alguém fritando no leito
Num soprano soturno de meu anseio...
De meio anseio, febre e fadiga,

Ah!
Eu tô é doente do peito.
Olhando para a prateleira da vida.

domingo, 16 de junho de 2013

A Balada do Poeta Ébrio III (Caído Em Algum Lugar)

Venha, meu amor, venha me buscar
Eu estou caído em algum lugar
Eu estou tão longe da sala de estar.
Nadando no meio-fio, em direção ao mar.

Quando vejo a noite desmoronar
Esvazio os meus bolsos,
Minha cabeça tonta.
E o mundo todo
Numa constante onda
Entra em cada poro,
Em cada entranha numa sonda.

Numa vida mal feita
Perco os óculos, o celular.
Perco a carteira, a cabeça
Sem saber aonde pisar.

Corro atrás da vida
E mordo ela no pescoço.
Ela sangra na minha boca
Graças curtas e desgosto.

Corro atrás da lucidez
Como um poeta louco.
Em toda embriaguez
Quero muito da vida
Pois a vida é pouco.

Pois o mundo é pouco,
Pois o mundo é tosco.
Pois a vida é curta
E viver é pouco.

Corro atrás da embriaguez,
Quero sair do corpo.
Quero minha insensatez
Tatuada na testa.

Quero que tudo pegue fogo,
Pois nada me interessa.
Quero tudo, quero explodir...

- Aonde meu corpo está?
No meio dessa grama
Não encontrei um lar.

Venha, meu amor, venha me buscar
Eu estou caído em algum lugar.
Eu estou tão longe da sala de estar.
Nadando nessa manhã,

Em direção ao mar.

terça-feira, 28 de maio de 2013

Uma Ode às Olheiras

Insônia,
Talvez seja você a quem eu realmente pertença.
Talvez tu sejas a grande musa de meus poemas.
Seja na ausência do meu sono,
De meus sonhos de papel.
Seja na tua força intensa
Que derrota até meus comprimidos roubados que são de fel.

Talvez você seja minha infalível dupla
Numa romance solitário,
Quase análogo a um platônico,
Porém presente fisicamente
No físico de minha mente.

As olheiras contam uma grande estória de amor,
Enquanto a dor de cabeça,
A náusea em seu esplendor
Gritam em contradição
Neste romance paradoxo.

Talvez seja você, Insônia, quem eu prezo e quem me prende
Neste cotidiano doente,
Nesta relação que me adoece.

Tu que me deixas preso no mesmo lugar,
Enquanto a chuva cai lá fora
Em toda flora, e que no agora,
Na solidão de tua presença
Me extasia, quase inconsciente,
Na multidão de pensamentos
Que não param de digitar.

Uma ode às olheiras
Que retratam nossa relação doente.
Que são a escultura no mármore impuro de minha face
Massacrando um amante fadigado e descontente,
Que caminha em caminhos de edredom

Extasiado a fadigar.

sexta-feira, 24 de maio de 2013

Nossa Luta

(Inspirado no Movimento Estudantil da Unesp - Assis
Para todos movimentos sociais)

Nossa luta marginal e espontânea
Se articula em cada célula revolucionária
Que é um militante na rua.

Nossos tambores de guerra
São as caixas, as congas e as alfaias.
Nossas armas que param o trânsito
São bolinhas de borracha, arcos e clavas.

A pintura de guerra que cobre a cara nua
É feita em tinta negra
E narizes de palhaço.

Nós somos um organismo potente
Em grande expansão.
Levantamos bandeiras apartidárias,
Pois nossa bandeira é a educação.

Lutamos por aqueles que não vieram,
Aqueles que não passaram no filtro social.
Lutamos por aqueles que nos deixaram,
Estamos inconformados com a política de migalhas
Que nos jogam de cima do palanque governamental.

Lutamos, pois somos guerreiros
Que se levantam no meio da multidão.
Lutamos, pois somos guerreiros
E não queremos esmola,
Mas sim revolução.

domingo, 12 de maio de 2013

Três Poemas de Ressentimento II


Corações imaturos caindo das árvores.
Você me deu um soco no estômago
E vomitei parte de mim.
Eu mirei em sua cabeça.

Predadores de coração mordido
Os colocam em cestas.
Você limpou meu vômito,
O colocou numa sacola e se deu um fim.
Disse que não era um alvo fácil.

Uma salada de maçãs para um amanhã que nunca chega.
Eu fui para o hospital, nauseado de você e com fome de mim.
Um dia do caçador, o outro da besta.

Três Poemas de Ressentimento


Corações imaturos caindo das árvores...
Predadores de coração mordido os colocam em cestas.
Uma salada de maçãs para um amanhã que nunca chega.

Você me deu um soco no estômago e eu vomitei parte de mim.
Você limpou meu vômito, o colocou numa sacola
E se deu um fim.
Eu fui para um hospital,
Nauseado de você e com fome de mim.

Eu mirei em sua cabeça.
Você disse que não era um alvo fácil.
Um dia do caçador, o outro da presa.

Fome de Mundo


Eu sou um bicho.
Sou bicho-homem,
Bicho-mulher,

Sou bicho-hermafrodita
Eu sou bicha!
Sou bicho e bichete,
Veterano e veterana.
Predador e presa
Nas trilhas e estradas
Numa constante fome insana.

Eu sou um bicho que ama
Além da roupa, da maquiagem,
Da pele e do corpo!

E nada vai que me dizer,
Vai me declarar
Como bicho morto.

Viverei na memória,
Retornarei ao solo da natureza.
Como bicho orgânico desorganizado que sou.

Sou bicho de pano em um nó amarrado,
Torcendo e retorcendo
Retardado em cada divino dilatar de pupilas
Que ocupa o espaço.

Sou bicho como todos os bichos.
Sou bicho como nenhum bicho.
Buscando aonde há beijos,
Aonde há braços,
Aonde há calafrios e espasmos.
Sou bicho motor, movido e movimentado
Pela fome de mundo.

Pernas para Voar

Longe da estante pareço tão maior
Perto de todos os estandartes de concreto
Eu olhava o horizonte de pés abertos.

A dor do fardo em minhas costas
Era a do parto de asas de piche
E os pés rodando em pneus carecas sob-rodas.

O horizonte encoberto
De edifícios austeros
Assemelhava-se a moldura de uma janela quebrada.
Mas fitar o horizonte é pouco, muito pouco,
Para quem tem pernas para voar.

Eu queria colocar meu pé na estrada,
Meu dedo na terra,
Girar o mapa-mundi para apontar
Aonde irá pisar minha bota furada.

Mas meu armário estava cheio de animais
Que meus pais me ensinaram a cuidar.
E minha paz se encontrava
Num colchão de molas, assistindo na Tv
O dançar de mais uma pop estar
Que todo mundo vê.

Mas o que ninguém vê
São os pássaros de asas podadas em gaiolas de tijolo e argamassa
Cantando para alguém abrir a porta.

Até que um dos pássaros enxergar com o bico
E com o brio gritar contra o vidro.
E no breu de um brio a abriu.
Um pássaro fugiu.

- Eu quero o baque-solto da vida.
Quero ser bicicleta sozinha e sem guias.
O que acontecerá se um
Pássaro aprender a abrir a gaiola?

Pois tem muito mundo
Por detrás dos portões,
Dos condomínios, das favelas, casas-prisões.

E o artista é o pássaro
Tangindo o mundo invisível.
Para inspirar em toda essa gente
O possível impossível!

sábado, 5 de janeiro de 2013

GRU.T.A Marginal


Uma cavidade que abriga uma coxia enxuta
Que procura e procura e procura
Romper com as coisas nulas.

Provocar nas faces mudas
O sentimento revoltante
Do prazer do horizonte
Na luz cura e nua.

Andarilhos sortidos nos cursos perdidos,
São todos tão bem vindos
Como ideias de um poema a começar.

Estamos todos, e tudo, em voga para estar.
Poema caminhante que, aprendendo a engatinhar,
Possui dentro de si a dádiva de um espaço.

Um lugar para ser e estar.
Um espaço para ocupar,
Para dividir,
Para cultivar.

Soltar o corpo no chão,
Olhos chorando, palpitando música
Em momentos transcendentais
Dos murmúrios do tempo que passa.

Risos transpirantes, ofegantes
Em fôlegos virando pássaros,
Virando brasa
No jogar.

“Gruta”, por que escavamos.
Por que procuramos na profundeza
E no sólido do solo
Um minério raro.

Porque das estalagmites do peito,
Da acústica da boca;
Das estalagnites do céu
Do corpo cansado e da voz rouca
Nasce nosso ouro.

Gruta que escavamos no peito
Para encontrar o que há de precioso.
Com a ferramenta rústica do anseio
Para preencher o meio
E o prazer,
De existir e de viver.


“Gruta” por que
Não queremos vencer!
Mas sim, escavar este tesouro.
Pois queremos tirar do escuro
Todo potencial vivo
De todo belo e explícito corpo!

quarta-feira, 2 de janeiro de 2013

Tatuagens do Escarlate

A poesia do teu corpo esculpida de sangue escorrido
Esconde e também põe em palco os passos de pegadas do tempo.
A pele-tela mostra riscos, erros, dádivas que brilham
Tímidas por baixo do breu vivo no alento.

Uma sinfonia do passado num grito
Que foge da pele e talha o calor
De existir como tatuagem,
Sem querer, no brio,
Marca no íntimo uma deformidade excêntrica de fulgor.

Pedaço meu que tomou viagem
Num bege simples e embranquecido.
Carrega, navegante em toda margem
O prado lacônico do fato jamais esquecido.

Obra de arte, retrato parvo ou grande vergonha
Para se esconder sob os véus da indumentária.
Estória escrita depois da cegonha
Para marcar no corpo, na agulha de existir
Nesta viva tecelagem.