segunda-feira, 7 de julho de 2014

O Dilema da Víbora Verde e Amarela

Não surpreende cada surto súbito
Oriundo das medidas mais legislamentáveis presentes
Dos órgãos mais cabíveis
Às queixas mais residentes e resistentes

Porque os olhos não olham no asfalto e piche da rua
Os olhos não olham os charques de molho no negro do solo
Nem os rebeldes e seus escudos e garrafas
Nem as pichações, nem as máscaras.

Dizem que o gol é do Brasil
Mas, na real, é da FIFA
Dizem que o progresso é inevitável,
Mas o que realmente significa a palavra “progresso”?

Quando se higieniza o povo
O Brasil NÃO ”é um país de todos”
Se os policiais nos servem e protegem
O perigo somos nós mesmos?

Porque para mim – admito – muitas vezes é fácil
Branco, classe média, homem, solteiro, universitário.
Mas para muitos, para maioria, os tratos não são os mesmos,
Os tratos são imensamente distantes dos mesmos.

A tortura e a morte fazem parte da cultura militar.
Todos sabem. Qualquer um que levou um “enquadro” sabe.
Os cassetetes, as armas de fogo e as botas
O spray de pimenta e as bombas de gás lacrimogêneo também.
Falam de violência no Jornal Nacional
Ou no Cidade Alerta.
Mas a violência é cotidiana
E ainda acontece quando se desliga a TV.

A violência que é a fome, que é o desamparo,
Que é a solidão, a miséria,
O trabalho incessante que castiga as costas, os braços e as pernas,
As cicatrizes caladas de gente que tem grito nas veias.

A violência que acontece desde o momento que se dorme
Até o momento que se desperta.
A violência que, nas praças, nos impede de cantar e dançar
Envoltos de instrumentos musicais.

A violência que nos impede de gritar e protestar
Diante de imensas arenas, grandes Coliseus, que saíram
De bolsos suados, da morte de trabalhadores menosprezados,
Da miséria e dos impostos dos mal abastados.

 Essa violência que força indivíduos ao trabalho
Trabalho que faz das vísceras centavos.
A violência que transforma cada suspiro, pulso e grito
Em papel moeda.

Quanto às mansões e carros importados,
O culto ao pedestal de ouro da civilização moderna,
É ideal que se esqueça de onde se é oriundo:
Não do asfalto, mas da terra.

Nós não somos números, senhor deputado,
Somos pulso fluído, corpo que vibra.
Pois eu sou você e você sou eu
Não vos fascineis pelo dilema da víbora.