terça-feira, 28 de agosto de 2012

Necrofilia de um Pedaço de Vida


No que está dito - pelo corpo, pela alma e pela voz - há algo de hipócrita conjecturando no fato. Se o real é tão temeroso, o medo, a ilusão é mais forte que a própria racionalidade. No que há de dito, há pedaços do real e restos de ilusão sórdida...

As gotas caiam na chuva sólida
E cada pedaço quebrava as telhas do telhado
Defasado pelas mesmas tempestades.
Chegavam e voavam como abutres sob a carne podre
E riam nas gargantas necrófilas ao arder da carne.

Pequenos pedaços negros de um coração celeste.
A chuva ácida ardia, mas ninguém ousava usar um guarda-chuva.
Foi decretado que tudo haveria de haver à flor da pele
E todos ardiam em conjunto ao caos da terra.

segunda-feira, 20 de agosto de 2012

Mais Uma Dose


(...) E os bares são aqueles lugares
De criaturas com ares
De lembrar e esquecer o que é ser...

Bate forte no peito aquele doce anseio
Que me trazia o olhar e o beijo
Daquela mulher de vermelho..

Batia na minha cabeça estagnada,
Fazendo-a girar um tanto.
O deleite de me embriagar com teu beijo
E nadar nos mares macios de teu corpo.

De acordar no marfim de teus braços,
No teu riso sem fim,
Fez de meu anseio trêmulo recompensado,
Acalentou o peito desesperado enfim.

Uma dose de amor, de uma bebida quente e pesada,
Me fez leve em segundos.
Viajando pelo meu corpo
Causando risos de acelerado batimento cardíaco.

E que num tino de medo
Expeliu-se por inteiro
Num gorfo derradeiro...
O que era belo agora queimava em ácido e restos...

Hoje queima ao lado,
Pedaço por pedaço,
De uma miscelânea de romances abortados,
De uma biblioteca de boêmios solitários,
Numa lareira em meu quarto
Para aquecer meu corpo tenso
Neste inverno que não chega ao fim...

“Mais uma dose? É claro que eu tô afim...”

sexta-feira, 3 de agosto de 2012

O Soneto da Granada


Olhe para esta insignificante bomba.
Ela irá explodir em alguns minutos.
Ela não se importa em ser granada jogada,
Sem um anel qualquer para segurar sua faísca famigerada.

Estava sozinha num canto escuro ao lado da barricada.
Nenhum dos soldados a viu ou ouviu.
Nenhum dos soldados gritou ou insurgiu.
Todos se renderam a uma granada qualquer.

O minúsculo crepúsculo em potencial
Que queimou todas as existências ao seu redor.
Um fragmento de tecnologia, sem boca, sem olhos,
Engolindo todas aquelas vidas com dentes em chamas.

Ela não queria, nem devia, mas era o que era.
Uma pequena granada na face da Terra.
O potencial era de matar o presidente tanto quanto o soldado raso.

Ela não queria, mas era o que era.
Eram todos pequenos pedaços, menores do que ela.
Ela explodiu queimou tudo o que um dia era
[nessa nova velha era.