terça-feira, 25 de outubro de 2011

Gula de Poeta

Quero mais armações, mais clarões,
Mais explicações - por mais equívocas que sejam -,
Mais arrepios, mais mentiras,
Mais ilusões, mais harpias,
Mais loucura, mais cicatrizes,
Mais asco, mais música
E mais álcool, mais incensos de Cingapura
E tudo abaixo das conjunturas
E mais ARTE e mais POESIA para massagear meu cérebro,
E o coração que palpita
Para influenciá-lo e fazê-lo pulsar fluído e maquinar
Qualquer coisa que eu possa respirar,
Que eu possa gritar,
Que eu possa transpirar
Para inspirar qualquer outro poeta
Qualquer pessoa que passa na rua
Que queira algo para engolir,
Algo para digerir
Para expirar,
Para inspirar
Outro poeta que possa surgir
Fazendo uma corrente de luz
Jogando arpões para pescar poesias no mar
Tudo para transpor e transpirar
As vísceras mais belas
Que um dia precisaram gritar algo para inspirar algo
E dilacerar o mundo com suas próprias unhas.

terça-feira, 18 de outubro de 2011

Notas Nocivas

Notas nocivas que anoto em meu caderno esfarrapado
De folhas manchadas e queimaduras de cigarro.
Elas gritam agressivas em pedaços soltos,
Frangalhos e migalhas picotadas de destino morto.

Notas nocivas que desafinam em meu rosto,
Cantos harmoniosos em dissonância,
Cacofonias subliminares que meus tímpanos não escutam,
Compreendidas apenas pelo o que os olhos guardam.

Notas nocivas que me reprovam,
Que me deixam abaixo da média.
Avaliações como juízes cegos pela quantificação,
Tentam me transformar num código de barra.

As notas nocivas me dão a noção errada.
Me prendem, me pegam pela marra,
Me desviam da minha própria estrada
Enquanto construo edificações intransitáveis.

Notas nocivas de um roteiro apagado,
Nunca encenado, produzido ou raciocinado,
Que se limitaram e se limitarão pelos óculos do abstrato.
... Um substrato difamado pelos próprios autores.

Notas nocivas, notas despidas...
Apenas notas esparramadas no tapete,
Nunca fizeram corpo de obra oficial.
São apenas retratos do transbordar da mente do poeta...

...

Notas nocivas nas quais desenhei com teu dom
Momentos de graça engraçada.
Nelas esbocei uma possibilidade,
Retratei o que poderia ser
E colei seus pedaços no meu quarto
Para alimentar doces ocos, sem recheio...