terça-feira, 10 de novembro de 2015

Poeta Falange

Fala como pássaro ritmado
O poeta falante
Tem língua de espada
Guerreira usando a beleza como armadura
Soletra os minutos
Com cores que não estão
No arco ìris
Cozinha poesias com candura

Todo poeta é uma falange
A lutar contra o convencional
Pra que servem estas palavras?
São meios para a invenção!
Canta como pássaro
Penas nas asas para voar
Nas mãos para escrever
Garimpando tinta do coração

Como criar um corpoeta?
Basta afinar o paladar
E degustar com cada poro
Delícias do campo molecular
Fazendo da brisa leve
Desejo matinal
Tingindo na palavra

Um acontecimento inconstitucional

Onze de Outubro

Carícias traçadas em laços
braços e pernas amassam-se
o tronco apertado entre seios
desejos arriscam espaços

Cansada de traças
lacrada: embaraços persistem.

me arranco o pretexto
lhe devolvo o olhar
Me deixei em teu beijo
só depois de questionar
se a mim me interessa
te interessar

Acordo, entre o olhar
Desperto aos sorrisos
Toco acordes jamais vistos
Que percorrem o tépido corpo esguio

Olhar da manhã, 
Teus olhos são um precipício
Não precipito uma palavra
Mas mergulho num intenso ritmo
Que bate dentro da caixa torácica

Não precipito um movimento sequer
Toco teu corpo como se toca um piano
Ralentando como se fosse terminar uma canção
Música nos poros, aprecio os arrepios
Cheiro de desejo: alegria e alucinação


segunda-feira, 9 de novembro de 2015

Estrela Só

Olho para as estrelas
Piso num mundo sem chão
Milhares e milhares de estrelas
Suspenso no ar
Com uma bigorna nas costas
De onde veio tanta constelação?

Observo os passos
Que pisam sem piso para pisar
Recolhendo cacos
Na tentativa de costurar mosaicos
Construir pontes pelas ilhas
Cubismo de vida estilhaçada

Olho para cima
Milhares de estrelas
Não observo todos os astros
Na cadência, sambam pequenas
Já não fito nem o começo
Nem o fim da fita que observo

Paro e olho para uma
Estrela que brilha tímida no universo
Faço desta uma estrela guia
Norte do cruzeiro a cruzar o céu
Mergulho numa estrela só
Profundeza oceânica na escuridão infinita

No brilho há um brio de existir
Na estrela só
Há desejo de devorar mundos
Nas constelações inteiras
Não há fome maior
Do que neste ponto de referência no caos

Naquela estrela compreendi todas as outras
Naquele brilho concebi todos os brios
Telescópio da infinitude cósmica
Índice da enciclopédia de todas as vidas
Aquela estrela

Era eu.

quinta-feira, 5 de novembro de 2015

Nostalgia Molhada

O corpo saudoso
Lembra o ritmo intenso dos quadris
Dança úmida e quente
Transcendência em carne macia

O corpo em nostalgia
Saliva por todas as partes
Arrepios na coluna
Deleite profundo
Da delícia da língua a se deleitar

Mordidas distribuídas
Acalentam os poros
Os dedos percorrem as pernas
Lábios que encontram lábios
Devoram-se em intensa atmosfera

Música repetitiva que atinge os céus
Respiração, transpiração, inspiração
Delírio rangendo aos suspiros
Como quem rompe a terra,
Atravessa os setes mares
Arranha as costas, arranha os céus

Atravessa o corpo, atravessa o ser
Atravessa todos astros e rompe
Num rompante mutante
A si próprio
Metamorfose ambulante

E cai de lado como quem perdeu a batalha
Mas venceu a guerra
E fecha os olhos como quem sonha
Com a sublime canção


Orgasmo sem precedentes...

domingo, 18 de outubro de 2015

MuDança

Mudança, mudemos
Nessa não mudidão
Muda o dia,
A noite em movimento
Fluindo nos rios
Em meditação

MuDar e receber
Se mandar a se mover
Muda a vida,
Não muda, canta!
MuDança!

Mudemos
Dancemos
A Dança das Serpentes

quinta-feira, 8 de outubro de 2015

Afetado

Meus afetos te afetam
Tanto que, pensando,
Me sinto afetado

Cabeça do corpo não dá conta
Palpita no peito, atravessado,
Reflorestamento de matas habitáveis

Afeta e mil fetos
Se tornam crianças em cirandas
Que cantam e dançam, inimagináveis

Afetos trançados numa bela trança
Corda que liga distâncias
Artérias que pulsam em toda parte

Afeto de tantas, não cansa e manda
Ondas cálidas a banhar praias
Carinho do mar

Afeto que dança, que encanta
Faz nascer belas plantas
No jardim a cantar

Afetado,
Afetuosamente afetado
Mesmo com Saturno à passos largos
Aprendo sobre a vida

Na poesia deste afetuoso abraço

quarta-feira, 16 de setembro de 2015

O Voo da Borboleta Azul

Na leveza do voo das borboletas
Há um brado de força e coragem
De uma larva que já foi ovo duas vezes
Faz da transmutação uma grande viajem

Na leveza do voo das borboletas
Não há austeridade, sisudez, seriedade,
Há graça e beleza no sutil toque
Que presenteia as flores do jardim

Uma borboleta, antes de voar,
Aprendeu a apreciar as maravilhas da terra
Sabe de todos morros que cruzou
De todas as matas em que indagou
Rastejou ralentando com a barriga no chão
E então ganhou os céus
Dançarina do ar!

Saúdo a beleza do voo da borboleta azul!
Borboleta estrela,
Brilha radiante de norte a sul
Borboleta inteira
Devora o teu casulo e tua própria larva
No brilho da morte encontra a vida
E no brilho da vida
Reencontra a estrada.

Voa além do tudo e do nada
Para ser ponto de encontro
Do céu de a terra
Da morte e da vida

Como o mar encontra as areias da praia!

terça-feira, 15 de setembro de 2015

Das Belezas da Vida

Uma pétala de flor
Caiu ao chão
A brisa levemente a acariciou
E a levou para conhecer novas flores

Longe de casa, a pétala chorou,
Deitada no jardim
Sentiu saudades
Lembranças da flor de onde veio

A terra lentamente a engoliu
E desta jornada
Leve e clara caminhada
Nasceu uma flor mais bela

No jardim que agora habitava

segunda-feira, 24 de agosto de 2015

Roots

Das raízes mais belas
Que resgatam na profundidade
A intensidade do cuidado
Afetos de dentro que tomam forma

Raízes de dentro para fora
Saem do corpo em forma de música,
Mudam-se os tons na polifonia,
Nutrem-se de dança, beleza e poesia.

Raízes que são veias no meu coração
Dão vazão aos fluxos da espontaneidade
Continuam correndo,
Num pulso de tambor alegre.

No carinho de cada desenho na parede
De cada poema e canção
Cada encontro e em cada refeição
Existe movimento.

Raízes também tem forma de república
Também tem forma de movimento e ação
Raízes que, quando as encontro,
Lembram-me da moldura do coração.

quarta-feira, 19 de agosto de 2015

Lampejo

Saiba que onde você estiver
Você estará lá
Então estalarei
Estralarei
E deixarei lá
E que lateje
Todo ardor daquilo que foi
E que aqui não está

Atravesso a avenida
E vejo o que já foi
Mas eu não estava lá
Estou aqui
Presente
Quase ciente de tudo que vejo

Estrelarei
E no passo
No brilho da noite
Darei a luz
A um novo lampejo

domingo, 2 de agosto de 2015

Linha Solta

No passo de cada laço
Algumas linhas e alinhavos
Costura com o costume
De deixar linhas soltas

Aprecio a beleza da má costura:
Há sempre espaço para uma nova estampa
Há sempre pano pra manga
Há sempre coluna para uma nova postura

É de linhas quentes
A riqueza que apetece
O melhor tecido
É aquele que aquece

terça-feira, 7 de julho de 2015

Parte

Vejo meus poemas
Olho
Eles já não representam
Esta cara que abriga
Minha face

Olho meus poemas
Vejo
A eles já não me atenho
São poemas de um poeta
Que sempre

Parte

terça-feira, 30 de junho de 2015

Vontade de Imensidão

No meio do caminho
Encontrei um poema que dizia
Que existe tanto tato no olhar
Que a pele se arrepia

O toque ébrio das pupilas
Engendra em cada poro
Música metabólica
Dança e festa dentro da cada órgão

Minúsculas moléculas
Fazem o rolê em alegria
Transborda uma vibração que impera
Agitação que se confunde com agonia

O toque alimenta a carne – que saliva –
E os mesmos lábios que beijam, mordem e lambem
São também aqueles que proferem a poesia
Abrem feridas que se fecham estanques

Aquém as palavras de qualquer poeta
Amor é aquilo que o corpo atravessa,
E para além vai, sem contornos, desenha
Beleza disforme que, às vezes, até o corpo desdenha

A carne pede
A alma pede
O espírito ou seja o nome que se dê
Essa sede por cada orifício
Vontade de pular de um grande edifício
Para voar
Ou cair no chão

Para o toque
Da alma, corpo ou coração,
Talvez não haja razão que se dê

Se não essa vontade de imensidão

segunda-feira, 15 de junho de 2015

Recado ao Navegante Acabrunhado

Fala a consciência ao pé do ouvido
Do navegante acabrunhado:

“Vá, navegante,
Caminha em direção ao novo
De nada vale
De nada basta
Esperar o mesmo navio
No mesmo porto

Vá, navegante,
Não seja bobo
Solta a bagagem extra
Que este barco vai naufragar
Deixa de ser besta
Ou pule você mesmo em direção ao mar

Vá, navegante,
Quantas âncoras cabem nesta caravela?
Faça sua escolha:
Pereça nas profundezas
Ou voe como uma libélula”.


Devaneio Insone

Quando o sono não bate e a vida não basta
Caminha em busca de intensidades na madrugada.
Os olhos não fecham e o devaneio não tem fim
Caminha dentro de si, nômade dentro de um quarto
Ponte entre eu e mim.

sexta-feira, 5 de junho de 2015

Pouco Verso

O que acho lindo
Nas palavras, na melodia:
Pouco verso
Muita poesia

quinta-feira, 4 de junho de 2015

Brilho Nômade

Atravesso-me
No entrave, atravesso a ponte
Que me atravessa
E esses afetos,
Mais fortes do que qualquer reza,
Entalham nas pedras
Poemas cor de Sol
Raízes de dentro da terra.

Atravesso-me
O canto me atravessa
E é na travessia
Que se encerra a poesia
Multiplicidade de mil esferas

Canto-me
E encanto minhas feras
No caminho da criação
Forjo poemas e melodias
Para acariciar
A alma que se exaspera

Limo-me
Como se lima um muro
Para gerar passagem
Ao nômade que erra
Carregando sempre nos bolsos,
No cheiro doce e acre,
Uma nova terra

Caminho-me
Nomadeio-me
Além do prazer e da dor
Em cantos
Enleio-me
Pela vida

Sinto fulgor.

terça-feira, 26 de maio de 2015

Procrastinação

Procrastinação:
O menino, que precisa estudar,
Senta na cadeira
E compõe um arranjo
No violão.

domingo, 24 de maio de 2015

Açúcar

Você é uma graça
Não uma gracinha
Pois é muito mulher

Agradeço as danças e carícias
Da noite passada que brilha
Iluminada por estrelas
Do teu leve sorriso

Se fosse para te descrever num adjetivo
Seria o de uma menina doce
Açúcar tímido e belo de mulher

Se fosse para cantar um poema ilustre
Escorregando para te encontrar aonde fosse
Diria que a graça desse açúcar

Não cabe numa colher

Brinco-me

Brinco
E de repente as angústias não são drásticas
Brinco
De repente a alma inane se põe tácita
Brinco-me
Pois sou brinquedo de mim mesmo
Na brincadeira de ser e reaprender a ser
Desapego desavenças
Desvendo intensas crenças
E no peito, mais leve,
Voa, insólito, um pavão colorido.
Meu voo já não tem a mesma cor de antes...

terça-feira, 19 de maio de 2015

Despertar

Desperta
Desperta a visão para aquilo que já sabes que é
Abre caminho para a força
Que a luz há de transmutar teu ser

Desperta o xamã que existe dentro de ti
Que a magia da cura fluirá
A cura da música atravessará teu corpo
E cada nota há de rearranjar
O acorde do acordar

Desperta o corpo em graça
Que a dança o habita e sempre o habitará
Para trilhar o caminho do amor
É preciso primeiro se amar

Desperta e nada neste mar
Deixa as ondas curar teus anseios e medos
As ondas, calmas na maré, acarinham a alma
O ventos violentos da tempestade e sua chuva intensa
Também regam as mais belas flores do jardim
E da lama nasce a flor de lótus

Acorda de desperta
Não basta abrir os olhos para ver
Abra a janela para a luz
Que esta alimentará as flores do jardim
Desperta que o caminho a se trilhar
É a imensidão do ser
Seja o despertar a cada dia
E a cada dia, a cada raio de luz

Florescerá uma nova flor de lótus.

quinta-feira, 14 de maio de 2015

Noite Calada

Se a insônia é brava
Acalmo as pálpebras com o carinho das estrelas
Se a maré é alta
Surfo no alto das palpitações
Pois na noite calada
Uma brainstorm desvairada
Pode dançar tango

Ócio Ósculo

Emaranhado de pernas e braços
Assíduos a se entrelaçar
Nós nos nós de nossos cabelos
No encontro de inércias
Querem apenas estar

Ócio ósculo na cama
Que, sedutora, é mais atraente
Que a correria lá fora,
Máquinas correndo para lá e para cá
Enquanto aqui dentro corpos rangem
Numa conversa silente

Corpos rolando no prado acolchoado
Mergulhados num oceano de abraços
Caminham parados
Voam no mesmo lugar
Como beija-flor com sede

Plantados, arados, em movimento sutil
Como planta que cresce sem ninguém ver
A cada respiração, arrepio da palavra tácita
Essa intensa vontade de movimentar a inércia

Até o Sol poente.

terça-feira, 21 de abril de 2015

Sarau Sem Viaturas

Vergonha?
Vergonha de que?
De dar um passo a frente
Para atravessar a rua?
É mais fácil morrer atropelado
Do que morrer no palco

Olho para o lado
E tem uma voz que me diz
Que tudo que eu faço
É medíocre, esdrúxulo e sem raiz

Olho para frente
Olho nos olhos dessa gente
Empino o nariz contente
E canto um poema sem medo de ser feliz

Partilho um pedaço
Um dedo, um braço, um abraço
E digo que a vergonha
É algo a nós ensinado

Tornemo-nos quem somos
Sem pedir desculpas
Dancemos as danças com o corpo inteiro

E que a vida seja um sarau sem viaturas!

segunda-feira, 20 de abril de 2015

Coragem

Coragem para ser nômade de si
Transmutar cor no olhar audacioso
Que dá início à profunda inquietação
E ao futuro gozo
De dar o primeiro passo e direção ao salto
E mergulhar

Coragem de escutar e atender
As intuições que nos atravessam,
Os chamados que perpassam...
Existe uma sabedoria no profundo do ser
Que por vezes escolhemos calar
Deixando passar peculiares oportunidades

Coragem e alegria
Não uma alegria vã, mas espontânea,
E não uma coragem ébria,
Mas capaz de admitir uma covardia
Para reconhecer limites nas tentativas
E erros nas guinadas da vida

Coragem para pedir perdão
Para cantar, desafinar e desafiar uma bela canção
Brincar sem medo de ser ridículo
Romper barreiras dentro de si
Para falar de amor, pedir abrigo
E tomar as rédeas da própria vida

Coragem de dizer não
De se respeitar
E de escutar a coragem do coração
De bater todos os dias,
Continuar o fluir da vida
E navegar na desconhecida imensidão

Coragem para morrer
Deixar na estrada
As antigas malas
Que nas costas
Impedem o dançar

Coragem para ser
E mudar o destino e as rotas
Sem medo das pedras
Que construirão castelos de luz
E edificarão o seu florescer

Coragem:
Cor do agir
Flor da cor de ação
Da grandeza do coração de leão
A rugir e caçar a presa
Coragem para caçar a imensidão


terça-feira, 7 de abril de 2015

Quando os Tijolos Caem

O eu de ontem não rima
Com o eu de hoje não rima
Com o amanhã
Não rima comigo mesmo

Eu não rima com o vir a ser
Não rima com que fui, sou, será?
Ser
Ei de ser
Serei a ser
Sereia a ser
O que posso ser
O que posso ser
O que posso ser?...

Movimento não rima com estrutura...
O caos que reina rima com desenvoltura
É quando os tijolos caem

Que acontece a beleza...

segunda-feira, 6 de abril de 2015

Estrela Dançante

Como universo
Esbarro galáxias de dentro
Você é um universo
Criadouro de estrelas

No esbarro das luzes,
Sutilezas brilham nos dentes
Olhos reconhecem-se nas lentes
Me encontro em você
Você se encontra em mim

Que bom que você veio!
Com os olhos da alma,
Enxergo o lampejo
Que bom que estamos aqui
Juntos!

Celebre e saúde os encontros
Pois quando universos se trombam
As forças se transmutam
E, de repente, você teceu em mim um novo astro

E nascerá uma nova estrela dançante
Que fica aqui dentro, dançando,
Pois não existem despedidas
Longe é um lugar que não existe

A natureza do universo é a expansão
Torna-se maior, toma seus rumos,
Caminha os horizontes
De sua misteriosa imensidão

Que bom que você veio!
Eu estou aqui
Que bom que você se foi!
Você está aqui
Pois na expansão dos universos
Nos caminhos que se cruzam
As estrelas ainda dançam

Colorindo seus novos rumos

quarta-feira, 25 de março de 2015

À Simbiose

Dessimbiotise-se 
Pois nós todos somos irmãos e irmãs
Mas ninguém disse que precisamos ser
Gêmeos siameses
Encarar a rua sozinho me ensinou:
A vida, na vida, se conquista
O apoio é necessário
Mas sem membros auxiliares
Voo melhor que as gaivotas
À ponto de me tornar
Urubu rei de mim mesmo

segunda-feira, 23 de março de 2015

Ode às Vísceras

Sou vísceras e reconheço as deformidades de meu corpo
Cicatrizes, gorduras e estrias,
Idiossincrasias de minha carne
Pelos, encravados ou não, em minha superfície.

Sou vísceras e reconheço meus vícios
Minha gula por alimentos e fluídos inóspitos ao estômago em maltrato,
A fumaça que violenta meus pulmões ao meu bel prazer,
Os chicotes que adentram as narinas, entorpecendo e ferindo a respiração,
A língua que dá contra dos dentes e tanto produz o prazer do ósculo
Como a violência da fofoca.

Sou vísceras e compreendo de antemão
Minha porra, minhas lágrimas,
Meu suor e minha diarreia,
O ácido vômito que se desloca
Na possível languidez do corpo.

Sangue que escorre, adrenalina que corre,
Unhas encravadas, dedinho do pé batendo na quina da vida.
Tatuagens na pele assimétrica, visíveis ou não, marcam o ser.
Sou minha rola, minha buceta, em todos seus fluídos.

Sou o corte da gilete no rosto de uma barba malfeita,
Bolhas e feridas nos dedos de tocar violão,
Delicadeza de olhar constrangido ao encarar o disparar
Da velocidade de dentro, nesta bomba-coração.
Pelos pelos arrepiados, pelas bolhas nos pés da caminhada,
Pelo cabelo cortado e cílios que afagam as lágrimas,
Pelas sobrancelhas e lábios mordidos de desejo,
Canto com cada órgão do corpo que busca sem órgãos.

Aceito: Minhas vísceras são poesia.
Não existe maniqueísmo na carne,
A beleza está nelas – as vísceras – e além delas,
No além humano de ser.

Sou vísceras e vou além da carne,
Conexões em todas as direções
No rompante mutante de ser
Na caça às intensidades e imensidões,
E às vezes sou fascista sem querer.

Infinitamente para dentro
Infinitamente para fora
Sou corpo, e além do corpo, também sou,
Pés-raízes, cabeça-pássaro sou,
Para além das vísceras,
E mergulhando nelas,
Eu vou.


segunda-feira, 2 de março de 2015

Encanto no Canto do Peito

Teu coração não é tua fraqueza
É tua força insondável
Tua impetuosa fortaleza
Que lhe protege contra invasões indesejáveis

Teu coração é tua fonte inesgotável de luz
É teu calor intenso que transforma as trevas
Em brilho impetuoso
Em arco íris, em flor de Liz

Teu coração é tambor com vibrações poderosas
Afine seu instrumento
E venha tocar melodias
Que se harmonizam com o sopro de tua voz

Deixa teu coração ir além
Que descobrirás que ele sabe viajar
E buscar todas as alegrias já vividas
Dentro de si

Teu coração sabe amar
Sabe aonde é o mar
Deixa ele nadar
Que nas ondas encontrarás solução

Teu coração é fogueira que sabe queimar
E tornar fumaça os sórdidos sentimentos
Para que possam se transmutar
E retornar ao nosso cosmos imenso

Teu coração sabe
Teu coração canta
Teu coração dança
Basta ouvi-lo

E saberás que ele encanta

quarta-feira, 25 de fevereiro de 2015

No Horizonte Encontrei os Pássaros Mais Belos

Partimos
Em direção ao infinito que nos assola
Pois a estrada tudo cura
E esvaziamos nossas sacolas

Meu coração em seu rompante mutante
Clama por se rearranjar
Em outros acordes
E os nós das cordas
Já sufoca,
Não edifica as tranças
Embaraça o cocar

Às vezes a gente na sabe aonde quer estar
É melhor não estar em nenhum lugar
E, numa graça nômade, ser-revirar
Revirar-se do avesso
De dentro para fora
De fora para dentro

E neste desinvento
Encontrar este pulso irremediável,
A vibração insondável
Que nos coloca em movimento

Em direção ao mar
Em direção ao infinito
Em direção que for

Não existem despedidas nessa vida
Não existe clamor mais áspero que a despedida
Existem encontros,
Existem reencontros
E existe a harmonia dos momentos...

No devaneio deste vale de utopias
Não lamento, não desmorono,
Mas construo castelos com sinfonias
Encima das ondas mais belas
Que se desfazem ao vento
E acarinham as faces de forma singela

Com a calma que me edifica
A leveza que me impera
Ao ver que a vida é deixar voar

Voa em direção as estrelas
Que o infinito está nas garras da ave mais ousada
Voa em direção aos céus
Que a estrada só chega ao fim
Quando se deseja que se chegue

Voa

Pois é só o começo
E o mundo é muito pouco
Para quem tem pernas para voar

No meio de cada fim...

No meio de cada fim
Encontro o começo de cada meio
Parece devaneio
Mas cheguei a sutil conclusão
De que é melhor viver as coisas
Por inteiro

segunda-feira, 9 de fevereiro de 2015

O Poeta Covarde (Parem de Escrever Poesia!)

As vezes sou um poeta covarde
Poeta com areia nos olhos,
Ofuscado pela intensidade
Cada emoção e acontecimento que arde
Rompendo em mim todos os poros

É preciso ter muita coragem para viver essa vida
Ousadia e audácia para agarra-la
E mordê-la como um fruto suculento
E apreciá-la intensamente dentro de seu alento
Porém, às vezes, prefiro escrever poesia

É preciso matar um dragão por dia
E atingir nos céus as glórias de vencer angústias e medos
Parem de escrever poesia!
Vamos caminhar por este caminho por inteiro
Guerrear na batalha, brandir as espadas,
Chegar ao desfecho das coisas através desta ousadia

Parem de escrever poesia!
Pois cada palavra é um direcionamento,
Uma aposta, um dispêndio de energia,
Vibração de vida que não volta
E oportunidades não voltam no tempo

Viva o dia como um grande dia!
E respire a poesia deste belo presente
Pois quando parei de escrever
Deleitei-me do amor de cada falange
Que rompe muralhas com o calor do Sol poente


quinta-feira, 29 de janeiro de 2015

Ode à Assisterdã

Eu sou guerreiro da luz
Lutando contra as próprias trevas
E sou mundrungagem intensa
Nos voos e nas quedas

Pois em Assisterdã vivi, e sei da transmutação
Lá pequeno menino fui
Dentro de cada tijolo que lá dentro rui
Até virar um meninão

Lá naveguei nas mais intensas tempestades
E muito, como bardo, cantei
Junto de diversos músicos de e suas raridades
Compus harmonias que jamais lembrarei

Lá todomundo joga as coisas pra cima
Bate a cabeça contra a quina
E sai por aí a cantar
Prazeres de curta e de longa vida

Lá, Assisterlar!
Casa de viajantes destemidos
De Mundrungos remoídos
Aonde as paredes estão a gritar

Assisterjam! Instrumentos na sala
Assisterdã! Em todas suas palas
Os dois lados da moeda
Em uma só casa

Pois é estando dos dois lados
No mesmo lugar
Que aprendi que dá pra voar
Sentado no chão

Assisterdã,
Irmãos e irmãs,

Gratidão!

domingo, 11 de janeiro de 2015

Ao Querido Pé de Maracujá

Tínhamos um pé de maracujá
– nosso vizinho tinha –
Que deixava um dos seus braços em nossas telhas
E dava “olá” ao nosso quintal

Esta árvore em sua subversão
Nos dava frutos clandestinamente
E deixava uma sombra calma
Na janela de meu quarto.

Certo dia reparei em suas folhas
Um tom opaco
Olhei para detrás das telhas
E o pé de maracujá havia sumido

Fiquei triste naquele momento
Peguei suas ultimas folhas
E coloquei em meu tabaco
Para sentir o abraço desta árvore
Que sutilmente conheci

Em outro momento notei
Que poderia ver o belo Sol se pôr
Como não podia antes

Numa manhã, fui acordado pelo seu brilho
Que invadia meu quarto
E despertava o dia num sorriso

Observei na noite soturna
Luas plenas de graça
Estrelas e constelações,
Que por causa do pé de maracujá
Não havia fitado anteriormente

Na manhã púrpura de hoje
Agradeço ao pé de maracujá
Pelos seus frutos e companhia
Pois ainda posso sentir tua essência
Na fumaça de meu cachimbo

E aprendi que havia chegado a hora
De sair debaixo de árvore
Pois já era muito maior que sua sombra

E o céu era bem maior que nós dois

domingo, 4 de janeiro de 2015

Meu Silêncio Também é Poesia

Vim para cuidar do teu ouvido
Num canto macio neste papel
Massageando cada canto do seu ser
Transformando em mel o que era fel

Papel encanta quando toca
Que a gente dança no mesmo lugar
E a caneta, que mesmo toda torta,
É toda musical quando beija o olhar

E cada letra que sai dos meus lábios
Pode ter um toque de harmonia
Mas, consciente, às vezes deixo de lado

Pois o meu silêncio também é poesia

quinta-feira, 1 de janeiro de 2015

Tudo começa quando se vê com outros olhos...

Tudo começa quando se vê com outros olhos
Começa quando se quebra em dois, três, e quatro...
Começa quando se trocam os óculos
E quando ao invés de somar coisas a si, nudificamo-nos.

Tudo começa num sorriso, num desabrochar de flor.
Começa quando tem que começar
Em seu ritmo, tempo e prosa necessária,
Na velocidade certa,
Sem estourar o velocímetro
E sem causar engarrafamentos.

Tudo começa quando se cortam os cabelos
E se escreve poesia.
Começa quando os corpos se colocam em movimento
E as consciências em harmonia

Tudo começa quando as lágrimas finalmente escorrem
E quando se decide não responder violência com violência
Quando porcos espinhos se beijam, eles não se espetam.

Tudo começa quando se acorda preparado para o imprevisto
Com um sorriso no rosto e com uma sensibilidade que não derruba,
Mas edifica.

Tudo começa quando se observa um quadro e se vê além de um quadro
Quando se aprecia um pôr do Sol sem pressa.
Tudo começa quando se pode estar em silêncio
E não falando tanto que não se pode ouvir.

Tudo começa quando para,
Pois às vezes é preciso baixar a cabeça
E às vezes é preciso empinar o nariz

Tudo começa num doce acorde de violão,
Na batida coração do tambor
- Não bata em si mesmo, bata no tambor –
E não julgue a dança dos outros,
Mas dance de olhos fechados.

Tudo começa quando começa a se sentir
Começa a sentir o outro
E perceber que o amor,
Que por muitas vezes é tido como algo sexual,
É na verdade algo incondicional.

Começa quando se vê pessoas andando nas ruas,
Não objetos, máquinas.
Começa quando se sorri para um artista de rua
E coloca umas moedas no chapéu em troca deste sorriso no meio da metrópole.

Tudo começa se sente no peito
E quando o querer fazer
Simplesmente se torna em ser.

Tudo começa no amor de pai, de mãe, de irmão e de amante.
Tudo começa quando a alma não é pequena
E quando os abraços são maiores que as espadas

Tudo começa no amor

Pois é aonde tudo começou.