sexta-feira, 25 de novembro de 2016

Magnificência

Há no caminho magnificência do destino
Desatino
Num rompante de pedras que fazem com que os sapatos pulem numa dança
Lembro-me da importância de sentir os pés no chão,
No concreto
No material
No real
Não há deus que me caiba numa unidade
Não há eu que caiba numa unidade
Não há quem diga o que se deve fazer na específica adversidade
Pois o corpo tudo pode se transformar

Em vias de uma onda fascista que reveste o mundo com ideais de violência e morte
Penso que certas ideias andam ultrapassadas
Mas é nessas vestes arcaicas que está o controle da população
Se se dizem como deve ser
Onde deve ser
O que deve ser
Não há então razão
Apenas dever.

Mediocridade nas televisões e rádios,
Deus, pátria e família entre senadores e deputados
Bando de criminosos, infratores hediondos
Que tem a coragem de dizer para não pecarmos

Ou melhor, coragem não!
Quem é dono de imensos impérios agrários
Quem é patrão de diversos funcionários
Quem nasceu no berço dourado
E é herdeiro de tanto dinheiro roubado
Não precisa ter coragem para encarar a vida

Coragem precisa quem nasce na periferia
Que luta pela sobrevivência desde o dia que nasce
Coragem precisa o preto que sai na busca de emprego
Em tempos de crise
Coragem precisa a travesti, a transexual para habitar o espaço público
Sem que seja agredida e humilhada
Coragem precisa a mulher para andar na rua à noite
Sem ter medo de ser violentada

Coragem em desatino
É flecha precisa
Preciosa a razão que leva estudantes às ocupações
Precioso é o encontro entre corpos que pulsam e cantam
É preciso inventar novas formas de existir.

E inventar é perigoso.
Destoar é pejorativo
Cuidado!
Vão tentar de trancar num quarto
Ou te dar um antidepressivo

Lembro-me que na luta de cada dia
Resiste quem se junta
E cultiva a alegria
E não uma alegria vã de novela das nove,
Rede Globo e cia.
Em tempos de ódio
É necessário fazer brotar
Raízes que ligam toda essa gente
Em resistência, dança, brisa

Vida em forma de poesia.

sexta-feira, 21 de outubro de 2016

Pássaro que voa é mais feliz

Olho dentro dos olhos
Profundo é o alento que me atravessa
Me perco no brilho ressonante
Dos dentes que iluminam sem pressa

Presente é o embrulho que abro
Todo dia, fresco
Como pólen a voar de flor em flor
Delícia é alegria que trago
Fumaça que transpira
Num corpo repleto de amor

Amo como um nômade ama seu caminho
Como um pássaro que ama seu ninho
Em desejos que se manifestam em atos
Afetos que traçam laços que não amarram

Abraço com braços abertos que não se fecham
As asas se entrelaçam , mas não impedem o voo
Se me seduzo com a ideia de coloca-la em uma gaiola
Lembro-me da máxima que diz:
Amar é deixar voar
E pássaro que voa

É mais feliz

quinta-feira, 10 de março de 2016

Galopes de Saturno

As pedras de cascalho na rodovia
Acariciam os pés que caminham e persistem
Os chifres curvados não confundem persistência com teimosia
Há a coragem de subir das profundezas do mar até o topo da montanha

Para trás há um infinito e para frente há horizontes
Distintos imprevisíveis como chuva de verão
Cada raio de sol ardente, cada lufada de vento de caminhão,
Faz florescer flor caliente que habita o peito fértil em abundância

Em direção ao mar abrem caminho
Na selva de pedra há selvageria sem precedentes
O amor não é sempre sorridente
Mas guerreia com o cuidado de não cair do cavalo

A estrada em minhas costas é a pista de pouso dos sonhos mais pretensiosos
A amazona ao meu lado, virtuosa, veio para dar cor ao mundo
E dançamos, cantamos, entre declarações de amor e silêncios soturnos
Até que se apresente o próximo cavalo de aço que nos guiará adiante

Ir em direção ao horizonte

Já não é absurdo.

sexta-feira, 8 de janeiro de 2016

O Tambor do Xamã

Bate no peito
O tambor do xamã
Pulsa nas veias
Atinge os céus
Brada com força suave
O ritmo da selva tranquila

Entrego-me
Pulsa o tambor do xamã
E o tambor do xamã é o cavalo
Que rompe as pradarias
E direção a um Sol
Que renasce como flor em primavera

Toca o tambor do xamã
A música que me toca
É a música do tambor
É o ritmo de meus órgãos internos
É o ritmo das gotas que caem na chuva
É a música que voa com os pássaros
E corre com os rios

Toca o tambor do xamã
As serpentes se agitam como maracás
A fogueira canta
Brota na pele sementes de urucum
Águias pousam na cabeça como cocar
E a cobra coral se enrola na cintura como cinta

Eu sou o xamã
E se explodem constantes as estrelas
Nasce o sol em meu peito
Que brilha como brilha
A dança do universo

O tambor cessa

A música continua...