sexta-feira, 26 de novembro de 2010

Tua Pena, Teu Tinteiro De Sangue

Mate-me! Mate-me, por favor!
Mate este coração dilacerado
Tão cansado, tão cansado
De sangrar deste amor.

Mate-me, por favor!
Ou então me venha em sua intenção
Venha sangrar de mim, de ti
Venha sangrar em mim tamanha dor!

Venha e me diga
Que ilusões um dia forjou.
Escreva com sua pena
Achada nas ruas vazias,
Umedecida num tinteiro de sangue,
Em meu peito as lesões débeis
Que nunca concebi e nunca esqueci.

Apenas gostaria de lhe dizer
Em cartas-poemas-perdidas
Todas as corrosões profundas
Que sua graça me causa e me causou.

Em tal desejo patético
Sem fundação, de qualquer ilusão
Piegas, talvez nasça apenas
Uma atração por tua pena.

Uma atração por tua pena,
Ferramenta de sofrimento,
Tinta lívida em escarlate.
Tua pena...
Pois existem coisas
Que devem ser escritas
Com sangue.

quinta-feira, 4 de novembro de 2010

(Des)Esperança

Espero por tudo que vivo.
Espero este Sol torto se por
E dar origem a mais uma noite vazia.
Espero mais uma dose de qualquer
Bebida forte que me abafe os sentidos.

Espero a dor que golpeia
Meu peito incessante vestir
Seu figurino e atuar
Como personagem ululante a cantar
Músicas-memórias num desatino.

Espero mais uma oportunidade
De se autodestruir, somente
Para expressar e externar
As ruínas de meu interno emocional flamejante.

Espero na janela e assisto a vida
Passar pelas minhas retinas.
Espero no passado-presente de um futuro sórdido,
Perdido na neblina de um acaso de dor e prazer.

Espero no sangue amargo,
No sangue derramado
De um reles apaixonado morto.
Espero você passar por mim
E espero você passar em mim.

Espero com a graça e decadência
De um ultra-romântico dilacerado.
Espero algo que não sei dizer
Apenas espero você passar.

segunda-feira, 1 de novembro de 2010

Às Máscaras Árticas

Que todos são carentes,
Uns mais que outros
Em suas lágrimas incendiárias,
Outros menos que uns
Em suas máscaras árticas.

Ainda indago: para que
Fazer de tanta carência,
De tanto desapego,
Se podemos todos nós
Integrar este nosso todo?

Se nós, criaturas táteis
Ao invés de fazer de tantas táticas
Não nos concebemos utilitários
Comumente gratos
Por desfazer nossas personagens.

Ah! Tantas frígidas máscaras
Amedrontadas, guardiãs de tantas cicatrizes.
Escondendo tantas faces traumatizadas
Com tanto receio de novas diretrizes.

Pobres destas faces recônditas,
Acabrunhantes a vagar
Na ausência do dilacerar,
No entediar dos prazeres
A morrer estaticamente.

Pobres meras faces
Que de tanto sangraram.
Negam-se a escorrer,
Pois detrás de tais máscaras
Resta apenas a carne fria.