segunda-feira, 30 de novembro de 2009

Dor

Eu queria concentrar
Toda minha complexa dor
Em uma simples solução
Para ser inalada, bebida
Para ser a bebida dos melancólicos.

Dor que dissolve ilusões
Que esvai esperanças
Que me joga sem freios
Contra o muro da realidade.

Dor cotidiana, mundana
Que me faz poeta sofredor.
E por ser, poeta dilacerado
Vítima de minhas vontades e pecados
Ser quem eu quiser na poesia.

Dor subversiva, debaixo dos panos
Do que está na aparência, na superfície
Que motiva e desmotiva minha motivação
Que cria as personagens de minha
Realidade fragmentada

Dor minha, preciosa
Como um solene carrasco
Ao decapitar minha lucidez
Para que minha visão poética
Não seja prejudicada.

Dor longínqua, do passado em sua plenitude
Do presente em sua solitude
Forjando a ausência
Da ilusão de um futuro cândido.

Dor impura, sinestesia de sentidos
De tato agonizante
De paladar amargo
De visão depreciativa
De audição atordoante
De faro ácido e nauseante.

Dor que punge meu ser
Minha sublime queda
Dor de tantas faces
Miseráveis e epifânicas.

Já não existe definição
Existe um gosto pela miséria
Gosto fino e incompreensível
Deleite de um gosto divino.

segunda-feira, 9 de novembro de 2009

Anestesia

Sinto meu corpo adormecer
Retirando-se em miséria
Como soldados que correm
Da derrota eminente

Sinto o esvair da dor
E de todo sentimento.
O ácido que corrói minhas entranhas
Não punge minha existência.

E quantas lâminas que
Transcenderam meu peito.
Que enferrujaram, fixaram-se.
Sua infecção não deturpa meu ser.

Diante das chamas tépidas
De todos romances incendiários,
Cicatrizes dolorosas
Não agoniam minha psique.

Anestesiar-se, enfim
Não existe lástima ou dor
Não existe corpo ou alma
Não existe mente, nada.

Todas as lágrimas derrubadas
Inundaram o árido deserto.
Nasce uma miragem de alegria
E logo se desfaz o Oasis

E já não existe ilusão.
E já não existe vida.
E já não existe emoção
E já não existe nada.

Defeitos

Gostaria de dizer
Mil palavras a você
Mas estas, não significariam nada.

Gostaria de entender
O simples por que
Desta ausência desvairada.

Gostaria de vomitar
Toda miscelânea
De sentimentos e tormentos.

Gostaria de pensar
Que tudo poderia acabar
Neste exato momento.

Pois a calúnia e as personagens insensatas
Estão exausta de serem vítimas
Da falsidade ideológica
Desta realidade fragmentada.

Pois a filosofia inalada
Do gás tóxico que dá
Gênese a égide
De máscaras podres, putrefatas
De rostos de crianças mortas
Que jazem nesta lápide.

Pois meus heróis estão mortos
E os monstros existem
Dentro de meu ser
Vorazes e absortos.

Pois o mito da esperança
A ilusão da expectativa
São frutos do conceito
De meros defeitos.