segunda-feira, 6 de janeiro de 2014

Mãos

Mãos encantam por potência de ação.
Na contra-mão encontro alguma razão.
Nas mãos encontro delicadezas,
Calos, cicatrizes de diversas naturezas,
Unhas roídas, polidas, quebradas ou não.

Mãos no céu sentem o vento
Pés no chão – as vezes – para o coração.
Mãos dadas, ciranda, cirandão – vamos todos cirandar -
Quero todas mãos e corpos e pelos fora do vão.

Me dê a mão para que possamos decifrar, desafiar,
Essas linhas infinitas, essas veias rotas
Que se expandem ou varizes,
Que acariciam e apedrejam
Que destroem e fazem construção.

Mãos em mãos, quanto mais melhor.
Mãos fazem de tudo

Só não fazem e vão.

Acidentes na Selva de Concreto

As vezes calor e vivacidade,
Carnes flamejantes,
Copos transbordantes
E diálogos-epopéias.

As vezes dias ranzinzas .
Amanheço perdendo dentes
Na cidade dos acidentes
Os prédios gritam tons de cinza.

Volta e meia, ameno amanhece
Sol radiante de queimar os poros
Dizem dia limpo,
Digo que dependem dos olhos.

Se meus óculos escuros captassem
Todo calor do asfalto
E a dor dos vagabundos
Que capengam tragos

Eu olharia num lampejo
A poesia das frutas podres
Que caíram das caixas
Na feira da cidade.

Como estas lentes não são máquinas fotográficas
Eu tento compreender
Obstinado
Corte por corte,
Como pintor, traço por traço,
Os enleios
Desta selva de concreto
No mundo inteiro,

Dentro de mim.