sábado, 19 de junho de 2010

Noite Vazia

Nesta noite de insônia, o céu não demonstra significado algum. Não, nenhuma filosofia vã, nenhum pensando onírico, nenhuma nostalgia, nenhuma música, nada.
Escuta-se apenas o cantar obstinado de um galo distante nessas ruas vazias. Como se houvesse significado para este som irritante.

Talvez, nesta noite-quase-manhã de insônia, ele não tenha sentido tudo que poderia sentir. Talvez, se ele estivesse na ausência de seu cigarro, companheiro de toda solidão e de todo prazer, ou de seus analgésicos, essenciais deuses do conforto para sua atual situação, esta noite tivesse mais sentido e mais emoção.
Talvez este seja seu maior medo: noites sem emoção, sem objetivo, sem causalidade ou razão. Medo de tornar-se um ser-máquina comum como tantos existentes nesta tragicidade humana.

Um rosto seco e inexpressivo, uma mente sem foco e exaurida, impossibilitada de sonhar. O olhar vazio fita a parede branca, reflete-se em si um nada que consome.
Não existia nada para pensar, ou talvez não existisse capacidade para pensar. Apenas acendeu mais um cigarro, tragou-o pesadamente e observou o vazio dentro de sua mentalidade.

Nota-se um sinal de vida em si, um sinal de que não se tornara uma máquina padronizada. Nota-se uma irritação profunda por este ócio. Esta fadiga começou a o dilacerar. Este estafa inexplicável deu gênese a uma profunda inquietação irremediável. Não havia o que fazer. Ele sabia que não poderia dormir, que não poderia se refugiar em fantasias oníricas mais uma vez para dar algum sentido a uma noite vazia. Sabia que, em um ato desesperado, ligaria a TV e encontraria apenas futilidades irrelevantes que apenas o irritariam diante de sua inconformidade. Já havia se enjoado dos livros que possuía, de tanto lê-los e relê-los. Porém nunca havia tempo para comprar novos. E procurou possibilidades, perseguiu errantemente qualquer esperança, por mais vã que fosse, de se livrar daquele vácuo existencial.

Surtou em eloqüente frustração, sem nenhuma solução aparente ou nenhuma anestesia possível. Jogou-se ao chão em poeira inóspita e fitou o recipiente da lâmpada da sala em que se encontrava. Notou a quantidade de insetos mortos se acumulando naquele pequeno cemitério de criaturas insignificantes. Pensou consigo mesmo em diálogo irônico: - Como são felizes alienados estes pútridos insetos. Vivem por tão poucas horas que nem sequer precisam de significado para existir. Apenas cumprem seu instinto simples e padecem anestesiados em uma morte súbita e fria, pois não existe tragédia se não existe significado. Não existe mágoa se não existe o que lamentar ou o que perder, nem existe preocupação ou relutância.

Trágica é a humanidade, tão racional e tão perdida que procura obstinadamente por algum sentido para justificar sua existência.
Tão sôfregos, que quando se encontram na ausência de significado, desesperam-se e surtam incessantes até que algo os anestesie com alguma lógica ou emoção.

Ele concluiu seu devaneio, riu-se, e encontrou seu refúgio em seu carpete imundo no desmaiar de sua mente exaurida.

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