quinta-feira, 25 de fevereiro de 2010

Relicário de Emoções

E ver as imagens do passado
Evanescendo, se perdendo pelos anos.
O sentimento se esvai com o tempo
Junto de toda memória e alegria.

Os laços envelhecem e se rompem.
Os sentimentos mudam e se perdem.
O passado deixa lentamente de existir.
As lágrimas escorrem e os risos desaparecem...

Morremos e renascemos, mudamos.
Perdemo-nos no presente e seguimos
Vendados ao futuro.
Sem medos, com nossa bagagem de emoções.

Estamos fadados a perder nossa essência
Para dar lugar a novos caminhos e novas visões.
Fluímos e nos bifurcamos na estrada da existência
Onde cada um se perde e se encontra, sem olhar para trás.

Tudo que fomos morre.
Tudo que seremos também morrerá.
E nós morreremos, por fim,
Sem saber quem estará ao lado de nosso funéreo leito.

Levando para sempre nossas memórias queridas,
Sentimentos guardados em nossos corações.
Momentos gravados em nossos olhos.
Sensações vivas em nossa pele.

E é levado embora nosso grande tesouro,
Nossa preciosidade querida.
Um relicário de emoções.
Somos apenas tesoureiros de nossa vida.

E todos os obstáculos, adversidades.
Todas as ambições e sonhos.
Tudo dito, feito e esquecido
Levado á sete palmos do chão.

A morte de um ser
É como o queimar de um museu.
O perder de um tesouro
No naufragar de um navio.

E remanescem as memórias sobre nós
Dentro daqueles que estiveram
Ao nosso lado nesta estrada.
Deixamos saudades e dor.

Lembrados até o fim de nossa geração.
Tornamo-nos lendas e cicatrizes
Para a nova prole da realidade.
E nos perdemos nos calendários e ponteiros.

Inexistimos para criar a existência
Da nova volta do relógio.
E se cumpre mais um ciclo
Da existência dos belos seres.
Da beleza da grotesca humanidade.

segunda-feira, 22 de fevereiro de 2010

Crescer

Tão simples e sutil
Inocente e sóbria.
Tão ingênua e alegre
Como o sentimento em si.

Uma jovem criança
Entrando em conflito
Com a vil realidade
E perdendo a inocência...

Em sua teimosia infantil
Em sua obstinação jovial
Em suas decepções torturadas.

O reflexo de uma criança morta
Do nascer de um adulto dilacerado
Crescer é sofrer.

sexta-feira, 19 de fevereiro de 2010

Motivação

Sinto-me filosoficamente morto
Como dentro de uma espécie de vácuo
Existencial do qual
Não faço parte.

De nada faço parte.
Sou uma peça solta
Diante de vários quebra-cabeças

Quebra-cabeças coloridos.
E eu sou uma peça
Em preto e branco
Que só aparente se encaixar.

Talvez a essência fundamental
De meu ser isolado e alheio
Seja esta.

A essência de uma peça
Solitária e inacabada
Disfarçando-se em suas tintas
Para adentrar as cores
De outros quebra-cabeças.

Pelomenos aqui
Nesta folha de caderno
Eu não preciso fazer
Parte de nada.

Aqui eu não preciso ser nada.
Só preciso dizer algo.
Qualquer algo que queira dizer
Para meus raros leitores.

E, obviamente,
Algo que eu queira dizer
Para mim, eu, ser-caneta
De tinta negra.

(Talvez eu seja apenas
Um excluído, um isolado qualquer.
Um coringa sem baralho.
Um cigarro sem maço.)

Mas aqui eu não preciso ser!
Eu preciso dizer, expressar,
Escrever algo que eu considere relevante
Ou pelomenos, no mínimo interessante.

(Talvez eu não seja.
Simplesmente não seja!
Talvez eu nem exista!
Como poderia existir uma peça
Solta nessa realidade?)

Eu digo que a vida é bela!
Mas será que eu acredito nisso?
Vale a pena viver?
Não?

(Uma criatura sem raça...
Uma palavra sem verso...
Uma pena sem asa...
Uma folha sem árvore...)

Existem motivos para viver?
Não?
Existem motivos para morrer?
Nãos?
Que dilema!

(O que sou eu?
O que eu sou?
Eu sou?
Eu?)

Existe esta folha de caderno.
Por enquanto é o suficiente.
Existe algo a dizer.
É muito mais que o suficiente.

segunda-feira, 8 de fevereiro de 2010

Lamúria

Eu só consigo escrever sobre ti.
Só consigo expressar esta única emoção
Que talvez não tenha valido a pena.

Minto! È óbvio que valeu a pena!
Toda a intensidade de nós...
E hoje resta a ausência...

E eu, em meu lamento comum e clichê,
Em meu patético estado
Em meu estado lastimável.

Em minha lamúria incansável
Diante da lápide de nossa arte
Perdida com as areias do tempo.

Eu lamento, pois parece que
Não existe mais nada a dizer
Nada a fazer.

Eu lamento meu fim,
Lamento seu novo início sublime
Seu novo início sem mim.

Lamento, pois é tudo que sei fazer.
Lamento em uma poesia sem título,
Sem cor e sem sentido.

Lamento, somente
Pois é tudo que sei fazer
Em minhas lágrimas imbecis.

Lamento, somente
Pois já não tenho mais
Palavras em meu repertório
A declarar, a dizer.

Lamento, simplesmente,
Só, como sempre
Lamento, somente
Pois é tudo que posso fazer.

O Fim da Agonia Existencial

Eu invejo a primeira vítima
Do primeiro assassinato atroz
Nesta noite vazia de ventos cantantes
Na névoa sangrenta de nostalgia constante.

Invejo a gloriosa vítima
Esquartejada nesta noite soturna
Que em seu pungir hemorrágico
Encontrou sua sincera liberdade.

Invejo aquele que deixou este plano
Sem cerimônias, sem memórias
Com um simples anônimo sem glória.

Invejo o ser livre que a chama já não orienta
Invejo o anonimato da morte ocasional
Invejo o fim da agonia existencial

Nós

Me diga quantos dias e quantas noites
Eu hei de esperar.
Me diga quantos Sois e quantas Luas
Por minhas retinas dilaceradas
Haverão de passar.

E esperar de mãos atadas
Amordaçado sob o luar.
Meu coração esmagado
Espera pela possibilidade de estar
Mais uma vez presente
Onde você estará.

Surgiu como um simples sonho
Do qual eu jamais quis acordar.
Súbito e cheio de magia
Como teu doce castanho olhar.

E evanesceu em um trágico
E lastimável acordar.
Trazendo-me de volta
Ao vazio de existir.

Que maldita trajetória o destino traçou
Sob nós, meros amantes.
Que conhecemos juntos, em poucos dias,
A beleza do paraíso
E o escarlate do inferno.

E hoje apenas me resta utilizar
De minha frágil, porém prezada memória
Para relembrar mais uma vez
De como nossa alegria e nosso romance
Que foi tão belo e poético, mais uma vez.

E além de toda miséria,
Da dor que proporciona o vazio
Da noite sem tua voz,
Eu jamais poderei dizer
Que nossa melodia se desfez.

Pois eu nunca deixarei que morras
Dentro de mim.
E meu interno, doente e saudável
Por nosso romance,
Jamais esquecerá o significado de ti.

Estarás dentro de mim
Em todas as manhãs exauridas
De minha insônia.

Em todas as noites frias e claras,
Em todos os ventos uivantes
Que soprarem em minha face.

Estará como o Sol e a Lua
Inerente a minha existência
Que um dia, ao seu lado
Tomou forma de vida.

Nossa melodia ressoará pela eternidade
E tu estarás viva ao meu lado,
Estarás ao meu lado, como sempre esteve
Minha amiga, Minha Musa
Minha Amante
Meu Amor.

sexta-feira, 5 de fevereiro de 2010

(In)Perseverança Melancólica

Apenas uma decepção qualquer.
Apenas mais uma existência
Em um conto de final trágico.

Diante de tal conto
Apenas uma existência obliqua
Anestesiada em sua trajetória ébria.

Todos nós, eu e você
Apenas peças de mais um
Quebra-cabeça que é
O destino em nossos céus

Todos nós, eu e você
Existências obliquas
Lacunas não preenchidas
Meros réus

Diante da noite de nós
Estrelas choram e o
Sol sem poe, sem dor
Sem esperança, sem nada