terça-feira, 28 de setembro de 2010

A Ultima Morada

Resvalando agonia pelos poros,
Me derramo ao chão
Como recipiente utilizado e descartado,
Como recipiente quebrado
Na língua dos mortos.

Desconstruindo meus pensamentos
No solo deste cômodo
Vazio, opaco e sem vida
Meu corpo grita em utopia
Amordaçado, diante da memória
[Daqueles momentos.

Em grito interno despedaçado,
Meu corpo, absorto em pensamentos
Ainda incompletos, adoece, padece
Diante da obstinação de perseguir
O sangue de gosto amargo.

Indivíduos consternados escandalizam
A porta de meu cômodo fúnebre.
Este parecia estreitar-se, retrair-se
Transmutar-se em minha ultima morada.
Como se desejasse possuir
[os olhares que se esgueiram.

O som das vozes desesperadas
Já não atinge meus tímpanos.
O cômodo se retrai, inexoravelmente
Se contrai, se esvai incessante.
Minha racionalidade se decompõe
[pelo vazio obstinada.

Jaz em mim o horror.
A agonia e a dor consomem
O restante desta razão vazia.
Jaz a dor, o terror romantizado.
Jaz o epitáfio daquele
[que morreu de amor.

domingo, 26 de setembro de 2010

Nostalgia (Cemitério de Emoções)

Naquele momento eu senti dor. Sim, dor. E, ao mesmo tempo, eu nunca desejei tanto uma lâmina para me cortar. Eu desejei a dor. Eu a desejei, porém, de uma forma diferente. Eu desejei meu sangue escorrendo, pingando aos poucos, como lágrimas no chão. Desejei fazer meu corpo chorar, pois minhas lágrimas haviam secado.
Sim, eu senti dor. Mas não uma dor comum de quando machucamos nossos corpos sem querer. Eu senti uma dor para a qual não existem analgésicos para curar (pelo menos não especificamente). Um sofrimento sem atalhos, profundo e inadiável. Uma tortura irrelutante que simplesmente ocorre quando se sente falta de alguém.
Saudade. Sim, este é o nome. Saudade. E então um turbilhão de sons e imagens insurgiu em minha memória. E me vieram doces recordações de momentos sublimes, do ápice de minha existência desde então. Me vieram sorrisos, risos, abraços, beijos, conversas, gestos... Tudo de mais gracioso que ocorreu nos últimos tempos. E também me vieram lágrimas, brigas, discussões, ofensas e fatos dolorosos que antes tanto significavam, tanto doíam, e que hoje, lembro aos risos e lágrimas, se estas ainda me pertencessem.
Estas memórias me abraçaram de forma carinhosa, acolhedora e gentil. Um sorriso retorcido e incompleto se esboçou em minha face, pois este abraço, tão sublime, além de me acariciar me estrangulou. Junto da saudade nasce a dor. Pois saudade é gostar de algo que se foi, que não está mais presente. É tentar abraçar o intangível. É a decepção óbvia de falhar ao perseguir o impossível.
É tão triste ver como tudo perde o sentido diante de seu contexto. Como tudo se esvai aos poucos nos labirintos da memória. Que o concreto se torna abstrato, e o passado existe apenas como lembrança. Que as guinadas da trajetória da existência nos fazem tanto perder, tanto deixar para trás.
Guardamos nossas memórias em tesouros recônditos, de apreciação sôfrega e deleitosa. E estes tesouros evanescem como cadáveres a se decompor. Somos apenas um cemitério de memórias, de emoções obsoletas. Até sua remoção, como ossadas de indigentes no nosso cemitério de sentimento.
Jaz a imagem, o epitáfio de lembranças. O sentimento se abafa, se sufoca, morre aos poucos agonizante em sua asfixia.
È triste mas tudo morre, se decompõe e desaparece inexoravelmente.

segunda-feira, 20 de setembro de 2010

Luto (Amor Perdido)

As tardes vazias sem tua presença
Sem o doce olhar teu sob o meu.
As lembranças de tuas carícias
Pungem cruelmente meu ser.

Cartas engavetadas, retratos desatuais
Provas concretas da beleza
De nossa doce e harmoniosa união,
Hoje me confortam. Me escorrem lágrimas
[bipolares

Eu, romântico patético
Padeço diante da carência de ti.
Meu corpo sente falta do teu
Meu tato clama, desesperadamente pelo
[teu toque.

Meus olhos chamam por teu sorriso.
Meus ouvidos imploram
Pelo doce e carinhoso som
Da melodia de tua voz.

O peso de tua ausência,
Tão atroz carrasco de minha realidade,
Tinge minha existência
De irrelevância, de languidez.

Jaz o silêncio a deflagrar.
Jazem os ecos deste cômodo vazio,
Carregado de intensa emoção.
Jaz uma lacuna não preenchida.

Acabrunhante e agoniado, velo dilacerado
Num funeral de sentimento.
Na desgraça patética da lamúria
De um apaixonado enlutado.

E sigo perdido,
Num caminhar ferido,
Rumo ao horizonte
Por esta estrada lacrimosa.

E sigo, exaurido,
No gotejar de ilusões perdidas,
De passo inconstante
Por esta estrada desventurosa.

Minhas lágrimas marcam o caminho.
Minhas cicatrizes são minhas armas.
Minha escolha é o sofrimento.
Minha escolha é a única que restou.

sábado, 11 de setembro de 2010

Sou poeta

Eu sou um poeta que reaprendeu
A arte de amar, de esculpir a emoção.
Aprendi a viver, a enfrentar
Ilusões da doce e atroz existência.

Sou poeta e também aprendi a morrer.
Aprendi a me afogar dentre oceanos de lágrimas
E decadência soturna
E também aprendi a apreciar o brilho do arco-íris
Ao ver o dia nascer.

Aprendi solitário a transformar vísceras
E risos, gritos e suspiros
Em palavras e estrofes
Que enfeitam os olhares
Que distribuem carinhos
De amor e solidariedade

Solitário e patético,
Melancólico e alegre,
Aprendi a deixar as folhas cair
E as flores florescer
Que o amor,a dor, a angústia e o prazer
Fazendo parte da arte de existir.
Aprendi que é poeta quem quer ser!

quarta-feira, 1 de setembro de 2010

Amanhecer

Deitar-me, sem sono, sem sonho
E morrer por alguns momentos anestesiados
Para despertar num suspiro, numa fadiga
Para a nova faceta do pesadelo da realidade.

Fitar o céu cinza da manhã
A dor do acordar consome
O cigarro da manhã adormece meu paladar.
Caminho infame, esperando a torura de um novo Sol.

Morte Romântica

Eu gostaria de morrer
Neste exato momento
Para que o amor que sinto por você
Não fosse atingido pelas dores
[Do destino

Gostaria de morrer contigo
E levar-te junto a mim
A minha infame-soturna tumba
E descansar pela eternidade
[Junto de ti

Pois um amor vivido
É um amor que tende a torturar
Que tende a se acabar.

E um amor assassinado, suicida
Conclui-se em plenitude
Na glória de um momento.