terça-feira, 29 de setembro de 2009

Retrato Decadente

Os livros gritam silenciosos
As cores apáticas ignoram
A brasa acende e joga sob o ar
A asmática cinzenta fumaça a passar

Pequenas legendas que invadem a pútrida lente
Significam tão pouco, quase nada agora
Brota-se em tão ilógica gênese
Um retrato de sinceridade biológica.

Um rosto esculpido em apática expressão
Indefinível, irreconhecível pela razão
A arte em seu berço macabro de ilusão
A cor velha e cinzenta, enclausurada na perdição

Mentiras, ilusões e desilusões esculpem uma face.
Esfinge definhada, torturada em disfarce.
Culpa desta, eis o rosto do apache.
Culpa dela, miséria em retrato com molduras
Feitas de cacos caídos da vidraça de Marte

Vinhas que torturam tão definhada face
Agoniada, silenciosa, apática expressão de arte
Antítese do tédio e da irrelevância cotidiana
Tão interessante a pútrida arte

Vinhas secas, mortas que preenchem
As lacunas oriundas de uma obstinada sina
Da criação do novo suposto deus desta noite
A entorpecida presença impregna

E percorrem tuas entranhas, e moldam tuas tripas
E perfuram teus olhos, em morte rústica
E entrelaçam e transpassam tua expressão indigna
E descrição novamente não se aplica
Ao tamanho retrato macabro desta face

Retrato teatro de cenas intermináveis
Agonias gritantes se esculpem nessa face
Melancolias surgem itinerantes dentre partes
Tudo a se preencher em torno desta tela
De vidro estilhaçado, d’um modelo exilado
Exaurida, a exaurir o olhar obstinado

Eis, ó belo retrato de minha parte
Vinhas que definham o rosto do mártir
Eis o resultado da sina masoquista
Eis o perseverante vômito de palavras
Para a tentativa frustrada de passar a mensagem
De divulgar aos decadentes, minha verdadeira face.

Libertação

Quantas vezes por dia
Eu considero a idéia
De tirar a própria vida
Sem prazer

Esperando a próxima dose
As próximas ilusões
Nada a fazer

Quantos pensamentos fluem
Quanto sangue escorre
Sem haver

Esperança e harmonia
Caótica fisionomia
De meu ser

Devaneios que surgem
Em meu deturpado pensamento
De morte

O vazio que me consome
Transmuta-se na infame forma
De consorte

Grita-me, dilacera-me
Por favor, faça isso
Por mim

Estou exaurido
De abafar o grito
Dentro de si

Por um fim na glória
De um anonimato sem memória
Que sou

Despeço-me desse infortúnio
Lamento o caos incompreensível
“Me vou”

[24/09/2009]

terça-feira, 22 de setembro de 2009

Mentalidade Poética

Vozes gritam, sussurram
Cantam em supérfluo
Agoniadas, encantadas
Vozes lívidas se dispersam

Vozes recitam e gritam
Nesta música poética
Vozes que perfuram meus tímpanos
E ensurdecem a dialética

Idéias se tornam palavras
Palavras se unem em frases
Frases que formam poemas

Estrofes perdidas em lápides
Ressurgem como males
Eis meu cemitério de dilemas

Doenças

Muitas circunstâncias o importunavam naquela manhã. Sensações ruins, exaustão, doenças que já se acostumara. Doenças que o perseguiram por toda sua mera bucólica vida. Dês das doenças mais comuns, como suas alergias, tosses, irritações, dores corporais, -conseqüências de sua vida boêmia- até seus transtornos mais profundos, que variavam de sua simples insônia, até suas insanidades mentais.

Doenças, meras doenças que o perseguiam, às vezes até agradáveis, como sua insônia, que o mantinha acordado de noites à manhãs, lendo, escrevendo, e vivendo experiências noturnas, as vezes, com sorte, até febris.

Eram tão inconvenientes como sua própria sombra, quando as perseguia, elas se afastavam, quando fugia, elas o perseguiam.

Era um pequeno e divertido jogo que o afastava do tédio.
Seus transtornos que tanto apreciava, dês da instabilidade de sua bipolaridade, que muito agradável, mesmo em histeria inconseqüente, mesmo em melancolia suicida, até as paranóias que o faziam delirar em hipóteses tão absurdas, as quais adorava retratar em suas obras.
Havia também seus transtornos emocionais, diferente de suas confusões mentais, não eram diversão, -não deixando de ser prazer- mas sim uma responsabilidade, uma sina, um bom motivo para se manter vivo nesse caos que era sua existência.

Suas melancolias melodramáticas que eram seus amores platônicos; sua necessidade de gestos sutis, que eram sua carência; seu pensamento profundo nas mais soturnas noites, que eram sua solidão; a intensidade, os gestos atenciosos e a atenção que eram seus romances -que maioria das vezes, duravam apenas uma noite, infelizmente-
Um cotidiano intenso, cheio de alegorias, melancolias, e diversidades. Alguns chegavam a considerar a hipótese de que este tinha múltiplas personalidades. Hipótese mais insana que a personagem a qual retrato aqui. Não era composto de várias personalidades, mas sim de várias personagens!

Um cotidiano intenso, nem sempre no bom sentido da palavra. Pois sua intensidade variava de uma intensidade fria, praticamente sólida, uma intensidade tépida, quase justa e equilibrada, e uma intensidade febril, na qual todas situações eram possibilidades, e todas idéias fluíam em velocidade imperceptível.

Era exaustivo variar tanto sua condição comum. Uma vida que não escolhera, e que por mais que gostasse em um deleite um tanto bizarro, era desgastante. Existiam os momentos que esta infame personagem apenas desejava um pouco de harmonia -algo que, para este, era uma utopia- em seu tão instável cotidiano. Nestes momentos de exaustão -tanto emocional, quanto mental, quanto física, diante de seus hábitos desgastantes- chegava, por poucos momentos, a se tornar inerte.

Chegava a ser desumano o desrespeito que tinha por seu corpo. Era praticamente um masoquista a torturar a si mesmo com suas próprias ferramentas de auto-flagelação. E por mais infame que fosse sua situação, até seu desgaste, em todas as formas possíveis, eram prazeres. Era, de fato, um masoquista.

Provável que este personagem forjasse suas doenças, seus transtornos, seus hábitos desgastantes e suas sinas emocionais com o propósito de se exaurir, ou talvez de apenas tentar ocupar todos minutos que o relógio o disponibilizava. Fuga, talvez. Mas do que este ser estava tanto a fugir?

Algo mais profundo do que todas suas forjas e circunstâncias não fora citado ainda. Mais soturno e miserável que o deleitar de suas situações de prazer comum, ou de seu prazer bizarro -pois para este, tanto a dor quanto o prazer comum, eram ambas situações para se deleitar- era o único sentimento que, de fato, o pungia. Aliás, não um sentimento, ou um transtorno, ou doença, ou decadência que fosse, mas sim a ausência de tudo isso.

Fuga, sim, provavelmente. Pois a única situação que o pungia, de forma tão cruel, a qual evitava ocupando seu tempo com produção artística, noites ébrias e obrigações ocasionais -inutilmente-, sempre se deparava com seu maior medo, sua maior agonia. O vazio.

Seu maior medo, sua maior agonia, sua tortura sem prazer. O vazio
Conflitava com este inevitável, inquestionável e incompreensível inimigo cotidianamente. Terrível tortura para este pobre ser. Era irrelevante ocupar seu tempo se entretendo com seus conflitos emocionais, produzindo suas tão prezadas obras, convivendo em sua sociedade hipócrita, se afastando da realidade em sua boemia decadente, pois sempre se deparava com o tão cruel conflito que era o de enfrentar o vazio dentro de si.

Um medo irracional talvez. Mais um motivo para ser chamado de louco por todos aqueles que não compreendiam sua insólita lucidez -ou seja, todos, de fato-Mas era inevitável entrar em conflito com este espectro negro em seu ser. Esta doença mor que se alimentava de seus muitos vícios e poucas virtudes.

Um parasita, que subtraía de si, um pouco de sua humanidade, diariamente. Um processo que o tornava cada vez mais atroz. Situação que somente viria a cessar no momento de sua libertação final.

Mas era, de forma realmente macabra, interessante fazer parte deste logo, pois, de fato, não era uma realidade tediosa.

Réquiem

Divino réquiem que me atrai
pela ignota voz dos restos mortais
Enterrados a sete palmos do chão
sem motivos, sem razão.

Á todos ossos e toda a carne pútrida,
que jazem nesse solo sem vida.
A tudo que viveu um dia
e hoje alimenta tal bela harmonia.

Dedico a vós, restos dos seres que caminharam
por esta terra maldita
Dedico a vós, os versos profanos dessa poesia

Em vossa homenagem dedico essa simples prosa.
E que esse réquiem faça que o dia não amanheça
para que a harmonia da neblina, da escuridão e da morte prevaleça.

Olhar para o passado

Observar o passado olho para cima!
Eis o passado trágico perante a Lua divina!
De escuridão tão profunda, de beleza ignota.
Que sua imensidão difunda em mim, oh beleza morta.

Um sentimento de nostalgia e prazer em minha obra.
Difunda em mim a trágica saudade, oh beleza morta!
Para lembrar e dilacerar,
meu desgraçado ser em vão.

Observo-te em convexa visão,
e vejo, diante do passado, tamanha solidão.
Diante deste lamento, eis uma ode a ti.

Doce decadência que é sofrer em vão.
Minha dor se torna prazer,
por ti, beleza morta,
ressuscita memória do que um dia fui a ser.

Meu crime

Uma noite sem sono
Uma manhã chuvosa
O céu nublado
Me molha com tuas lágrimas

O crime
O assassinato
Silencioso
Em desapego

Uma chícara de café
Um cigarro
O fim
do tépido desespero.

Noiteadores

Deixando pelas ruas
Seus rastros de decadência
Fazendo das noites tão absurdas
Expondo ações julgadas como indecência

Donos da noite, malditos por opção
Excluídos, românticos em putrefação
Alucinados, excitados, infames sem razão
Bucólicos e melancólicos perdidos na escuridão

Vândalos acabrunhantes sem religião
Infectados por terror e agonia
Em seus momentos de solidão

Artistas carentes de razão
Estes são os Noiteadores
Inspirados somente pela emoção

O conflito diante do romance incompreensível

E depois de muitas noites mal dormidas. De dias pensando na mesma pessoa, que me enfeitiçara com tamanha eficácia a ponto de me fazer deixar de pensar em situações alheias, fatos cotidianos, argumentos, filosofias...
Enfeitiçara-me a ponto de excluir de minha mente todos os conhecimentos de adquirira através de minha experiência de infame vivencia miserável.

Surgiu motivação, esperança por este romance, pois todo início de romance sempre traz aquela sensação insólita de alegria débil, de sorrisos espontâneos e olhares em devaneio. Surgiu esperança de completar o vazio que se manteve a me consumir num ato voraz e vil.
Falsa esperança eu diria. Tão comum falsa esperança, da qual todos um dia já provaram.
A falsa esperança de encontrar em algum ser alheio a solução de suas mágoas. O preencher da lacuna tediosa e voraz de seu tragicômico cotidiano.

Tudo que o ser humano procura. Completar a si mesmo. Plenitude. O ato mais imbecil que o ser humano pode cometer, e comete,
é o de ter a falsa esperança de encontrar em outro ser humano (tão vazio quanto este mesmo) o preencher desta tão lúgubre circunstância comum.

Estava a vivenciar, novamente, esta falsa esperança, mas de uma forma diferente. Esta pessoa conseguira tirar todo conhecimento, toda a auto-preservação de sua mente. Tornou-se um sentimento desesperado e, logo, uma gafe.
A sensibilidade do ser diante desta situação incomum, portanto desesperadora, realmente preenchera este vazio, mas não da forma tão plena que se deseja. Apenas substituíra o sofrimento do vazio pelo sofrimento de um amor platônico.

Por tamanho desespero que sofrera por causa deste sentimento em sua intensidade toda, não conseguia preservar a si próprio, nem respeitar a si próprio, e muito menos pensar em si próprio.
E por estas circunstâncias, fora tomado, completamente, pelo sentimento constrangedor da insegurança. Por insegurança, que resultou em sua falta de atitude, em seu nervosismo, e por fim, em seu trágico sofrimento. Esta a justificativa do sofrimento de um amor platônico: a insegurança, que resulta na falta de atitude, e assim na impossibilidade de vivenciar tal sentimento, já que impossível declará-lo.

Mantive-me em sofrimento, por horas, dias, semanas... A terrível sensação de inaptidão me fizera pensar na incapabilidade, considerando os argumentos internos e externos diante dessa situação emocional masoquista.
O sofrimento agoniado, e sem possibilidade de mudança. Tão terrível sombra diante de teu ser, que o impedia de dormir ou acordar, que o impedia de pensar, que o fizera chorar por este tão vasto período cruel.
Era praticamente atroz sofrer desta forma. Porém, preferia sofrer agoniadamente, sem sua segurança, sem voz, por este romance de uma só parte, do que sofrer pelo vazio, que o consumira aos poucos durante os anos, subtraindo cada vez mais seu precioso sentimento de si.

Aceitava ser o romântico que era, e apreciava muito o sentimento que é amar. Até como a maior dor que um triste ser obtém através do mesmo.
Dilacerando a si mesmo, lenta e dolorosamente. Não havia outro pensamento em sua tão cega mente.
Mantinha sonhos, lembranças sobre esse amor. Fechava os olhos, e podia vê-la tão claramente a ponto de considerar a possibilidade de tocá-la.
Sonhos e lembranças que o pungiam ainda mais, de forma ainda mais cruel.
Tudo relacionado a romance passou a torturá-lo. A imagem de um casal o fazia pensar na possibilidade de estar acompanhado por sua amada, e, logo, o fazia lembrar a impossibilidade e da realidade que vivia.
Escrevia poesias, prosas, crônicas, pensamentos, sonetos, todos sobre este romance. Todo seu conhecimento literário, toda sua produção artística se voltara a ela.

Perdia-se em si mesmo, conflitando sua (agora tão prejudicada) racionalidade com sua sensibilidade. Estava atordoado, confuso, ausente. Seus sonhos tomaram conta de seu pensamento, suas fantasias substituíram suas teorias, e seu obsessivo romance substituía sua filosofia.
O preencher de seu vazio o pungia. O vazio em si, também o dilacerava. Não encontrara solução alguma para nada, já não conseguia pensar.
Tornara-se atroz, um animal romântico incapaz de raciocinar.
Essa metamorfose acontecia dentro de si imperceptivelmente.

Certa manhã, já desumanizado, sofreu uma overdose deste sentimento.
Desumanizado, desanimalizado, convertera-se em nada.
Um objeto inerte a toda situação que vivera interna e externamente.
Um corpo sem mente, desalmado, frio e sem vida.

Manteve-se desta forma por alguns minutos e logo regressou a si.
Voltou a ser, realmente. Pensava com normalidade, suas filosofias jogavam em sua face o quanto se tornou ocioso.
Não sentia mais a intensidade romântica que sentira, porém não deixara de ser um romântico.
Assim como a intensidade, a insegurança também evanesceu subitamente. Porém, não deixou de amar, apenas deixou de ser o masoquista que era antes.

Estranhamente, o vazio também não estava presente nesse momento de epifania.
Encontrara o equilíbrio de si mesmo, depois de tantas descargas emocionais, tantas lágrimas desesperadas, encontrara seu eixo.
E somente neste momento de epifania, soube que ainda poderia seguir em frente e lutar pelo que sentia. Pois agora havia segurança em si, e somente agora deixaria de conflitar consigo mesmo, e passaria a conflitar com o externo de sua infame vivência ao invés de conflitar consigo mesmo.
Compreendera o significado de "completo". Compreendeu, novamente, que somente ele mesmo poderia completar a si.
Porém, não deixara de ser o romântico que é, muito menos deixara de amar, ainda esta mesma pessoa.
E seguiu em frente, sem se importar com o sucesso ou com o fracasso.

O Pungir de minha alma

Imponho sobre mim minha cólera interna,
Expondo todo sentimento vil e atroz.
A dor que punge minha alma deserta.
O açoitar de meu corpo em minha agoniada voz.

A macabra violência cruel e voraz,
A destruir o ser em desesperada inconseqüência.
O ato indisciplinado de dilacerar a paz,
Construindo o desumano sentimento de decadência.

E emprego em mim, agonia caótica
E disperso inconscientemente, dor exótica,
Da qual nenhum ser possui conhecimento.

O rasgar de minha alma, pútrida e miserável
O definhar de minha carne, em escarlate impensável
Por um solene incontestável sentimento.