Perto de todos os estandartes de concreto
Eu olhava o horizonte de pés abertos.
A dor do fardo em minhas costas
Era a do parto de asas de piche
E os pés rodando em pneus carecas sob-rodas.
O horizonte encoberto
De edifícios austeros
Assemelhava-se a moldura de uma janela quebrada.
Mas fitar o horizonte é pouco, muito pouco,
Para quem tem pernas para voar.
Eu queria colocar meu pé na estrada,
Meu dedo na terra,
Girar o mapa-mundi para apontar
Aonde irá pisar minha bota furada.
Mas meu armário estava cheio de animais
Que meus pais me ensinaram a cuidar.
E minha paz se encontrava
Num colchão de molas, assistindo na Tv
O dançar de mais uma pop estar
Que todo mundo vê.
Mas o que ninguém vê
São os pássaros de asas podadas em gaiolas de tijolo e argamassa
Cantando para alguém abrir a porta.
Até que um dos pássaros enxergar com o bico
E com o brio gritar contra o vidro.
E no breu de um brio a abriu.
Um pássaro fugiu.
- Eu quero o baque-solto da vida.
Quero ser bicicleta sozinha e sem guias.
O que acontecerá se um
Pássaro aprender a abrir a gaiola?
Pois tem muito mundo
Por detrás dos portões,
Dos condomínios, das favelas, casas-prisões.
E o artista é o pássaro
Tangindo o mundo invisível.
Para inspirar em toda essa gente
O possível impossível!
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