terça-feira, 22 de setembro de 2009

O conflito diante do romance incompreensível

E depois de muitas noites mal dormidas. De dias pensando na mesma pessoa, que me enfeitiçara com tamanha eficácia a ponto de me fazer deixar de pensar em situações alheias, fatos cotidianos, argumentos, filosofias...
Enfeitiçara-me a ponto de excluir de minha mente todos os conhecimentos de adquirira através de minha experiência de infame vivencia miserável.

Surgiu motivação, esperança por este romance, pois todo início de romance sempre traz aquela sensação insólita de alegria débil, de sorrisos espontâneos e olhares em devaneio. Surgiu esperança de completar o vazio que se manteve a me consumir num ato voraz e vil.
Falsa esperança eu diria. Tão comum falsa esperança, da qual todos um dia já provaram.
A falsa esperança de encontrar em algum ser alheio a solução de suas mágoas. O preencher da lacuna tediosa e voraz de seu tragicômico cotidiano.

Tudo que o ser humano procura. Completar a si mesmo. Plenitude. O ato mais imbecil que o ser humano pode cometer, e comete,
é o de ter a falsa esperança de encontrar em outro ser humano (tão vazio quanto este mesmo) o preencher desta tão lúgubre circunstância comum.

Estava a vivenciar, novamente, esta falsa esperança, mas de uma forma diferente. Esta pessoa conseguira tirar todo conhecimento, toda a auto-preservação de sua mente. Tornou-se um sentimento desesperado e, logo, uma gafe.
A sensibilidade do ser diante desta situação incomum, portanto desesperadora, realmente preenchera este vazio, mas não da forma tão plena que se deseja. Apenas substituíra o sofrimento do vazio pelo sofrimento de um amor platônico.

Por tamanho desespero que sofrera por causa deste sentimento em sua intensidade toda, não conseguia preservar a si próprio, nem respeitar a si próprio, e muito menos pensar em si próprio.
E por estas circunstâncias, fora tomado, completamente, pelo sentimento constrangedor da insegurança. Por insegurança, que resultou em sua falta de atitude, em seu nervosismo, e por fim, em seu trágico sofrimento. Esta a justificativa do sofrimento de um amor platônico: a insegurança, que resulta na falta de atitude, e assim na impossibilidade de vivenciar tal sentimento, já que impossível declará-lo.

Mantive-me em sofrimento, por horas, dias, semanas... A terrível sensação de inaptidão me fizera pensar na incapabilidade, considerando os argumentos internos e externos diante dessa situação emocional masoquista.
O sofrimento agoniado, e sem possibilidade de mudança. Tão terrível sombra diante de teu ser, que o impedia de dormir ou acordar, que o impedia de pensar, que o fizera chorar por este tão vasto período cruel.
Era praticamente atroz sofrer desta forma. Porém, preferia sofrer agoniadamente, sem sua segurança, sem voz, por este romance de uma só parte, do que sofrer pelo vazio, que o consumira aos poucos durante os anos, subtraindo cada vez mais seu precioso sentimento de si.

Aceitava ser o romântico que era, e apreciava muito o sentimento que é amar. Até como a maior dor que um triste ser obtém através do mesmo.
Dilacerando a si mesmo, lenta e dolorosamente. Não havia outro pensamento em sua tão cega mente.
Mantinha sonhos, lembranças sobre esse amor. Fechava os olhos, e podia vê-la tão claramente a ponto de considerar a possibilidade de tocá-la.
Sonhos e lembranças que o pungiam ainda mais, de forma ainda mais cruel.
Tudo relacionado a romance passou a torturá-lo. A imagem de um casal o fazia pensar na possibilidade de estar acompanhado por sua amada, e, logo, o fazia lembrar a impossibilidade e da realidade que vivia.
Escrevia poesias, prosas, crônicas, pensamentos, sonetos, todos sobre este romance. Todo seu conhecimento literário, toda sua produção artística se voltara a ela.

Perdia-se em si mesmo, conflitando sua (agora tão prejudicada) racionalidade com sua sensibilidade. Estava atordoado, confuso, ausente. Seus sonhos tomaram conta de seu pensamento, suas fantasias substituíram suas teorias, e seu obsessivo romance substituía sua filosofia.
O preencher de seu vazio o pungia. O vazio em si, também o dilacerava. Não encontrara solução alguma para nada, já não conseguia pensar.
Tornara-se atroz, um animal romântico incapaz de raciocinar.
Essa metamorfose acontecia dentro de si imperceptivelmente.

Certa manhã, já desumanizado, sofreu uma overdose deste sentimento.
Desumanizado, desanimalizado, convertera-se em nada.
Um objeto inerte a toda situação que vivera interna e externamente.
Um corpo sem mente, desalmado, frio e sem vida.

Manteve-se desta forma por alguns minutos e logo regressou a si.
Voltou a ser, realmente. Pensava com normalidade, suas filosofias jogavam em sua face o quanto se tornou ocioso.
Não sentia mais a intensidade romântica que sentira, porém não deixara de ser um romântico.
Assim como a intensidade, a insegurança também evanesceu subitamente. Porém, não deixou de amar, apenas deixou de ser o masoquista que era antes.

Estranhamente, o vazio também não estava presente nesse momento de epifania.
Encontrara o equilíbrio de si mesmo, depois de tantas descargas emocionais, tantas lágrimas desesperadas, encontrara seu eixo.
E somente neste momento de epifania, soube que ainda poderia seguir em frente e lutar pelo que sentia. Pois agora havia segurança em si, e somente agora deixaria de conflitar consigo mesmo, e passaria a conflitar com o externo de sua infame vivência ao invés de conflitar consigo mesmo.
Compreendera o significado de "completo". Compreendeu, novamente, que somente ele mesmo poderia completar a si.
Porém, não deixara de ser o romântico que é, muito menos deixara de amar, ainda esta mesma pessoa.
E seguiu em frente, sem se importar com o sucesso ou com o fracasso.

Nenhum comentário:

Postar um comentário