terça-feira, 20 de março de 2012

Versos de Corpo-Tela

E manco. E ando e carrego, como cargueiro perdido nas águas manchadas de petróleo.
E carrego no meu colo palavras da boca e corpo,
As rodopio nos meus ombros,
Manchando de sangue, compartilhando vísceras de meu viscerar humano.
E sangro, e canto, e as manchas são o pranto
Tingido na pele, manchado no pano.

O suspiro rouco, exausto, é pouco.
A coagulação na garganta é uma dança macabra,
Um espetáculo grotesco dum banquete de vinho.
- O vinho que torna ébrio. O vinho que é suposto sangue de cristo –
O vinho que é um misto! Era o visco encima de nós!
E tudo foi um obelisco honrado aos céus!
O vinho era um pedaço de voz
Gotejando com um cortejo ao chão.
Um pedaço de corpo, de cada dia o pão!
E a sanidade insana de tanto tempo, pranto,
E do afago da tua mão.

Um fardo pardo de mãos dadas ao chão.
Um largo sonho, um pedaço de mão.
Dos lábios a graça,
Dos olhos a tinta e a inspiração.
Uma caneta nos teus olhos, meu tinteiro-paixão,
Vou escrever no teu corpo pálido como tela
Um romance que nunca aconteceu.
E pintar nos teus lábios, com minha boca,
O carinho de uma mãe ao embrião que morreu.

Nenhum comentário:

Postar um comentário