segunda-feira, 23 de julho de 2012

As Flores de Julho


E os prantos e os tantos trancos dos barrancos
Atacavam as retinas, entravam por todas as vias
Num viés de artilharia.
Eu olhava para o vento do inverno que enfeitava minha face...
O rosto retorcia.

Um cigarro na varanda, as estrelas me encarando.
Eu olhava a epopeia de você.
Um beijo de nicotina na madrugada fria
E minha cicatriz gigante de agonia...

A garrafa me batia e eu bradava aos céus;
Gritos-fumaça passando pelos véus,
Um riso-lágrima de solidão...
O toque pálido da manhã
E eu estava ali com você e sem você...
Eu acreditava nas flores de Julho que estavam a nascer...

Estavam a morrer.
E eu vendo os pedaços queimarem
E essas coisas bonitas que me habitavam fugindo à francesa.
Bebendo das águas de um oásis que partia
Das terras partidas nas areias deste deserto...


Era uma miragem do inverno dizendo que
Por um segundo, no interno pálido do peito,
E da neve,
Nasceu uma flor sozinha que olhava para o céu.

A flor sonhava ser estrela no teto,
Ornamento de papel
Para acariciar os olhos antes de dormir.

Sonhava em ser favo de mel
Para massagear a garganta boêmia
Tão lânguida e cansada de tragar do vazio.

A flor era torta e tinha a graça de um vinho envenenado.
Era triste de desesperada.
Era errada, mas existia,
Respirando com dificuldades asmáticas...

E ela morreu antes de desabrochar,
Ela morreu, pois o inverno jamais haveria
De deixar nascer uma flor sozinha
Perdida, sem Sol e sem ar.

Todos sabiam que tal flor não vingaria.
Mas ainda sim a regavam com um afeto relapso.
E ela mancava internada na UTI,
Morta-viva, zombie.

Eu acreditava que as flores de Julho iriam surgir.
No lugar errado, na hora errada...
Era um erro errante pronto para partir
E uma esperança em pedaços
Num saco de plástico de uma mala
No fundo do armário.

E as lágrimas que a regavam secaram
Antes da alvorada bela.
E as flores de Julho nunca nasceram
E nunca foram esquecidas
Por toda sua graça
Mesmo antes da primavera.

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