segunda-feira, 19 de dezembro de 2011

O Homem-Garrafa

Os dentes que batem contra o espelho
Que se quebra em cacos de anseio e martírio
São apenas da boca que não consegue ser boca.

Mastigam a cabeça como a de uma garrafa atacada por um saca-rolhas.
Libera-se na pequena explosão o etílico
Que embriaga o peito, molhando o rótulo úmido em imperfeito desfazer.

Ele era uma bebida lacrada, gasificada rolando no porta-malas.
Aguardando um toque sutil para entrar numa erupção de lata.
E toda coisa contida só daria no mesmo resultado:
Um champagne aberto por uma espada.

Era um homem-garrafa, explodindo sem tampa, nem anel, nem rolha, nem nada.
Uma dose destilada sem gelo que descia goela abaixo
Queimando o peito derradeiro.

Era o anseio que batia nas portas do crânio sem tocar a campainha.
E mais uma vez o homem-garrafa explodia...
Suas palavras não eram como champagne na taça de cristal, não eram harmonia.
Eram como a garrafa de vinho quebrada num bar no início de uma briga:
Armadas de silêncio forçado de vergonha alheia adquirida
E da violência pressentida nos olhares que tendiam a participar e assistiam.

Inconveniente como ir ao bar ao meio-dia.
Seu mecanismo era o de um copo cheio no meio de uma pista de dança:
Preenchido temporariamente para ser derramado na vida.

Ele era apenas uma garrafa vazia jogada na avenida.
Utilizada várias vezes como recipiente de diversos tipos de bebida.
...

Era apenas um frustrado recipiente de ideologia,
Fadado a ingerir todos aqueles paradigmas
Para vomitar em tipografia dentro d’algum outro copo o mesmo tópico...

Tudo destilava e batia cacos de vidro e cristais em ritmo de ópio,
Lentamente sufocando as lentes manchadas dos óculos.
Tudo se tornava ébrio,
Uma centelha acendia a garganta inflamada
E não havia como sentir nada,
Tudo recomeçava...

E ele estava tão cansado de andar na mesma estrada...
Adicto de culpa por não ser bebida legítima.
Bravejava diante tudo e todos,
Gritava para o mundo
E era pouco.

Pois gritava somente para si.

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