segunda-feira, 9 de maio de 2011

É Preciso Ser Personagem

É preciso ser personagem, neste palco
Com toda sua efemeridade e sua inconstante cenografia,
Nesta transmutação-viva de imagens e sugestões,
É preciso ser personagem para que haja graça
Para a platéia apreciar.

É preciso que haja ação,
Que haja pulmões, coração,
Pernas e braços realizando movimentos,
Prendendo a atenção do público
Com a dança insana e incomum
Das personagens do momento.

É preciso cantar loucamente numa noite ébria;
É preciso chorar desesperadamente (e fazer chorar a platéia);
É preciso ronronar deitado na cama tépida
E gritar de dor numa guinada mal sinalizada.

É preciso sentir impreterivelmente,
Mesmo que isto não signifique mostrar os dentes,
Expor a alma no palco mesmo diante da face
Do sofrimento eminente.

É preciso ter caráter, ideologia, honraria,
Ou simplesmente algo para acreditar,
Ter algum algo para amar,
Alguma cruz para carregar
Ou cova para soterrar...

É preciso ser personagem e atuar,
Ser força ativa do mundo,
Ser o escritor cansado e moribundo
A escrever as fantasias oníricas
Do submundo tão sensível dos artistas.

É preciso ser Sócrates, Platão e Aristóteles;
Ser Schopenhauer, Nietzsche e Empédocles;
Porém, é preciso também ser Caeiro, Baudelaire e Azevedo
Sem ao menos escrever um soneto.

É preciso ser personagem gracioso no palco,
Para que a platéia tenha motivo pra existir,
Para que o ator tenha motivo pra existir.
Porém não ser simplesmente artista na face do mundo,
De alma recôndita, contida,
Mas é preciso somente
Ser artista na esfera da vida.

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